Abin confirma ameaça do EI ao Brasil e amplia monitoramento de suspeitos
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) confirmou uma ameaça ao
Brasil publicada em novembro em conta no Twitter vinculada a um membro
do Estado Islâmico (EI) e intensificou o monitoramento de indivíduos que
teriam jurado lealdade ao grupo extremista e poderiam agir dentro do
País.
"Brasil, vocês são nosso próximo alvo", diz o tuíte enviado para o
microblog dias depois dos ataques terroristas em Paris — nos quais 130
pessoas morreram e mais de 300 ficaram feridas — através da conta
utilizada por Maxime Hauchard, um francês que foi para a Síria em 2013 e
juntou-se às fileiras do EI. A conta de Maxime foi suspensa pelo
Twitter.
Imagem de Maxime Hauchard capturada de vídeo de propaganda do EI — no destaque, o tuíte ameaçando o Brasil |
"A probabilidade de o país ser alvo de ataques terroristas foi elevada
nos últimos meses, devido aos recentes eventos terroristas ocorridos em
outros países e ao aumento do número de adesões de nacionais brasileiros
à ideologia do Estado Islâmico", disse a Abin em nota.
Na quarta-feira (13.abr.2016), o diretor de Contraterrorismo da Abin,
Luiz Alberto Sallaberry, participou no Rio de Janeiro da Feira
Internacional de Segurança Pública e Corporativa (LAAD Security). Em sua
apresentação sobre ameaças terroristas aos Jogos Olímpicos Rio 2016 ele
descreveu Hauchard como "espécie de garoto-propaganda do Estado
Islâmico".
Sallaberry também listou ações executadas pela agência para evitar
possíveis ataques no País, "como intercâmbio de informações com serviços
estrangeiros, capacitação de profissionais de setores estratégicos e
trabalhos com órgãos integrantes do Sistema Brasileiro de Inteligência".
Lobos solitários — O diretor da Abin também afirmou que tem
aumentado no Brasil a quantidade de pessoas que juram lealdade ao EI e
estariam prontas para agir em nome do islã. "Quando uma pessoa faz o
juramento ao califado e se torna autoproclamada ela está disposta a
cometer qualquer atentado violento em nome do grupo. A ordem não precisa
ser presencial, pode ser via internet", disse Sallaberry.
Sallaberry apresentou exemplos de materiais usados pelos indivíduos que
juraram lealdade ao EI no Brasil, como bandeiras com inscrições em árabe
e adornadas com o símbolo do grupo terrorista. "Posso dizer que são de
origem salafista sunita, comunidade que está ligada ao EI. Não estou
dizendo que vai acontecer um atentado. Estou dizendo que é a primeira
vez que a probabilidade aumentou sobremaneira no nosso país."
Em novembro, ele havia alertado que as autoridades brasileiras
consideram os chamados lobos solitários — que agem inspirados ou sob
direção de algum grupo radical, mas sem a necessidade de uma célula
terrorista ou outra organização formal — "a principal ameaça aos Jogos
Olímpicos" que serão realizados no Rio em agosto.
Questionado sobre o caso, o Ministério da Defesa declarou, em e-mail
enviado a reportagem, que não comenta as ações dos serviços de
inteligência de suas instituições de prevenção de combate ao terrorismo.
A pasta reafirma que tem adotado “todas as medidas exigidas para
proteger os interesses nacionais contra riscos ou ameaças de práticas
terroristas”.
Espetáculo — Para o especialista em segurança e diretor do
Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da Unesp,
Héctor Luis Saint-Pierre, a preocupação da Abin é justificável e
plausível, especialmente em se tratando de um evento de tamanha atenção
internacional. Segundo ele, desde a última Copa, a questão tem se
tornado crucial. “Trata-se de um espetáculo (Olimpíada), com cobertura
da imprensa internacional. Ele (grupo) produz seu terror quando ele pode
ser divulgado. Aquele que morre é a vítima tática. Mas a que fica, e
assiste, é a vítima estratégica”, afirmou, em entrevista.
De acordo com o especialista, é preciso, nesse momento que os órgãos
brasileiros estejam em estreito contato com as agências e polícias
europeias para a troca de informações e identificação de possíveis
células adormecidas no Brasil.
O professor, que já foi consultor do Conselho de Defesa da União das
Nações Sul-Americanas (Unasul), diz que não se deve descartar a
possibilidade de que simpatizantes ou membros do EI possam ter entrado
no Brasil por alguma fronteira terrestre, como Paraguai ou Uruguai.
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