Zelador que depôs contra Lula foi demitido e relata
pressão da OAS — José Afonso Pinheiro perdeu emprego no Condomínio Solaris, no Guarujá, onde ex-presidente
seria dono do tríplex 164-A
pressão da OAS — José Afonso Pinheiro perdeu emprego no Condomínio Solaris, no Guarujá, onde ex-presidente
seria dono do tríplex 164-A
O Edifício Solaris, no Guarujá, onde Lula seria proprietário de um tríplex |
Depois de quase três anos de serviços prestados, o zelador José Afonso
Pinheiro, do edifício Solaris, no Guarujá, onde o ex-presidente Lula
seria dono de um apartamento tríplex (164-A), foi demitido na
quinta-feira, 07.abr.2016. Segundo Pinheiro, nenhum incidente aconteceu
no período anterior à dispensa e o síndico, Mauro de Freitas, teria lhe
dito apenas que seus serviços não eram mais necessários, sem mais
explicações. Para ele, a causa da demissão é política.
— Certeza que tem a ver com o depoimento que prestei. Depois que falei
ao promotor, o pessoal da OAS tentou me constranger, dizendo que tava
falando mentira, que tinha falado demais. O síndico me mandou não falar
mais nada, se não perderia o emprego. Esperaram a poeira baixar e se
livraram de mim, a corda sempre estoura para o mais fraco — afirmou
Pinheiro.
Em outubro, o zelador prestou depoimento ao Ministério Público de São
Paulo sobre a relação de Lula com o tríplex 164-A do edifício na Praia
de Astúrias, litoral sul paulista. Aos promotores, confirmou que Lula
esteve no local e que a ex-primeira dama, Marisa Letícia, frequentou o
condomínio algumas vezes, enquanto o apartamento era reformado. Segundo
Pinheiro, “a OAS limpava o prédio e inseria arranjos florais para
recebimento da família presidencial” e o elevador que servia o prédio
ficava preso durante a permanência de Lula e Marisa no local para que
ninguém incomodasse os visitantes.
José Afonso Pinheiro relatou também que ‘o funcionário Igor, da OAS,
pediu para que não falasse nada, ou seja, de que o apartamento seria do
Lula e da esposa, mas, sim, deveria dizer que é pertencente a OAS’.
“Esse pedido aconteceu depois do carnaval de 2015.”
Na ocasião, ele disse ainda que ‘nenhuma outra pessoa diversa de
integrantes da família Lula, ou do próprio casal presidencial, não
frequenta ou frequentou a unidade 164-A’. O zelador não soube dizer se o
tríplex esteve à venda, mas afirmou que a unidade, ‘diferente de
outras, nunca foi visitada por qualquer pessoa acompanhada de corretor
ou corretora de imóveis’.
O depoimento do zelador consta da denúncia oferecida pelo Ministério
Público em março contra o ex-presidente Lula por ocultação de
patrimônio. São acusados também a ex-primeira-dama Marisa Letícia, o
filho mais velho do casal Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha, e mais 13
investigados. Na lista estão o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o
empresário Léo Pinheiro, da empreiteira OAS, amigo de Lula, e
ex-dirigentes da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop).
De acordo com o zelador, a situação se complicou para ele depois disso.
Em dezembro, em contato com a reportagem, ele se recusou a repetir o
teor de seu depoimento dizendo que havia sido instruído pelo síndico a
não fazer mais comentários sobre a visita de Lula ao prédio. Questionado
sobre que funcionário da OAS o teria constrangido, ele respondeu que
preferia não citar nomes.
Pinheiro atua como zelador há 20 anos e terá um prazo para deixar o
apartamento que ocupa no prédio Solaris com a mulher e a filha. Aos 47
anos, ele teme que será difícil encontrar nova oportunidade. José Afonso
Pinheiro nasceu no Paraná e está no Guarujá há 30 anos.
Procurado, o síndico do prédio afirmou que a demissão não teve motivação
política, mas se recusou a explicar por que Pinheiro foi dispensado.
— Não fui pressionado por ninguém nem conheço ninguém. Não sou político,
tenho raiva do Lula e ódio da Dilma. Os motivos da demissão não
interessam a ninguém além de mim e dele — afirmou Mauro de Freitas.
A OAS foi contatada mas não respondeu à reportagem.
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