sexta-feira, 8 de abril de 2016


Zelador que depôs contra Lula foi demitido e relata
pressão da OAS — José Afonso Pinheiro perdeu emprego no Condomínio Solaris, no Guarujá, onde ex-presidente
seria dono do tríplex 164-A



O Edifício Solaris, no Guarujá, onde Lula seria proprietário de um tríplex


Depois de quase três anos de serviços prestados, o zelador José Afonso Pinheiro, do edifício Solaris, no Guarujá, onde o ex-presidente Lula seria dono de um apartamento tríplex (164-A), foi demitido na quinta-feira, 07.abr.2016. Segundo Pinheiro, nenhum incidente aconteceu no período anterior à dispensa e o síndico, Mauro de Freitas, teria lhe dito apenas que seus serviços não eram mais necessários, sem mais explicações. Para ele, a causa da demissão é política.
— Certeza que tem a ver com o depoimento que prestei. Depois que falei ao promotor, o pessoal da OAS tentou me constranger, dizendo que tava falando mentira, que tinha falado demais. O síndico me mandou não falar mais nada, se não perderia o emprego. Esperaram a poeira baixar e se livraram de mim, a corda sempre estoura para o mais fraco — afirmou Pinheiro.
Em outubro, o zelador prestou depoimento ao Ministério Público de São Paulo sobre a relação de Lula com o tríplex 164-A do edifício na Praia de Astúrias, litoral sul paulista. Aos promotores, confirmou que Lula esteve no local e que a ex-primeira dama, Marisa Letícia, frequentou o condomínio algumas vezes, enquanto o apartamento era reformado. Segundo Pinheiro, “a OAS limpava o prédio e inseria arranjos florais para recebimento da família presidencial” e o elevador que servia o prédio ficava preso durante a permanência de Lula e Marisa no local para que ninguém incomodasse os visitantes.
José Afonso Pinheiro relatou também que ‘o funcionário Igor, da OAS, pediu para que não falasse nada, ou seja, de que o apartamento seria do Lula e da esposa, mas, sim, deveria dizer que é pertencente a OAS’. “Esse pedido aconteceu depois do carnaval de 2015.”
Na ocasião, ele disse ainda que ‘nenhuma outra pessoa diversa de integrantes da família Lula, ou do próprio casal presidencial, não frequenta ou frequentou a unidade 164-A’. O zelador não soube dizer se o tríplex esteve à venda, mas afirmou que a unidade, ‘diferente de outras, nunca foi visitada por qualquer pessoa acompanhada de corretor ou corretora de imóveis’.
O depoimento do zelador consta da denúncia oferecida pelo Ministério Público em março contra o ex-presidente Lula por ocultação de patrimônio. São acusados também a ex-primeira-dama Marisa Letícia, o filho mais velho do casal Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha, e mais 13 investigados. Na lista estão o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o empresário Léo Pinheiro, da empreiteira OAS, amigo de Lula, e ex-dirigentes da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop).
De acordo com o zelador, a situação se complicou para ele depois disso. Em dezembro, em contato com a reportagem, ele se recusou a repetir o teor de seu depoimento dizendo que havia sido instruído pelo síndico a não fazer mais comentários sobre a visita de Lula ao prédio. Questionado sobre que funcionário da OAS o teria constrangido, ele respondeu que preferia não citar nomes.
Pinheiro atua como zelador há 20 anos e terá um prazo para deixar o apartamento que ocupa no prédio Solaris com a mulher e a filha. Aos 47 anos, ele teme que será difícil encontrar nova oportunidade. José Afonso Pinheiro nasceu no Paraná e está no Guarujá há 30 anos.
Procurado, o síndico do prédio afirmou que a demissão não teve motivação política, mas se recusou a explicar por que Pinheiro foi dispensado.
— Não fui pressionado por ninguém nem conheço ninguém. Não sou político, tenho raiva do Lula e ódio da Dilma. Os motivos da demissão não interessam a ninguém além de mim e dele — afirmou Mauro de Freitas.
A OAS foi contatada mas não respondeu à reportagem.







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