Sem citar 'golpe', Dilma diz na ONU que brasileiros impedirão 'retrocesso'
A presidente Dilma Rousseff discursa durante cerimônia de assinatura do Pacto de Paris, na ONU |
A presidente Dilma Rousseff afirmou na Assembleia Geral das Nações
Unidas que o país vive um momento "grave"e que os brasileiros saberão
impedir "um retrocesso". A afirmação foi feita ao final de seu
pronunciamento na sexta-feira (22.abr.2016) na cerimônia de assinatura
do Acordo do Clima de Paris, na sede da ONU em Nova York.
Sem mencionar a palavra golpe, a presidente concluiu seu pronunciamento
centrado no tema climático fazendo um desvio para abordar a crise
política no Brasil.
"Não posso terminar minhas palavras sem mencionar o grave momento que
vive o Brasil. A despeito disso, quero dizer que o Brasil é um grande
país, com uma sociedade que soube vencer o autoritarismo e construir uma
pujante democracia. Nosso povo é um povo trabalhador e com grande
apreço pela liberdade. Saberá, não tenho dúvidas, impedir qualquer
retrocesso", disse.
Ela agradeceu ainda "a todos os líderes que expressaram sua solidariedade".
Dilma falou por mais de sete minutos, mais que o dobro de tempo
recomendado pela ONU. A maior parte foi dedicada ao Acordo de Paris, que
ela classificou como "um marco histórico na construção do mundo que
queremos, com um desenvolvimento sustentável". Ela disse ter "orgulho"
do papel de seu governo para a adoção do Acordo de Paris e assumiu o
compromisso de "assegurar sua pronta entrada em vigor".
CERIMÔNIA — Segundo a ONU, 165 países indicaram que assinarão nesta
sexta-feira (22.abr.2016) o Acordo de Paris, adotado em dezembro de
2015. Será o maior apoio já demonstrado a um pacto na ONU. O recorde
anterior havia sido estabelecido no Tratado do Mar, em 1982, com a
assinatura de 119 países.
O Acordo de Paris entrará em vigor quando houver a ratificação de ao
menos 55 países, que representam 55% das emissões globais de gases
poluentes.Os demais países (a ONU tem 193 membros) terão até 17 de abril
para assinar o pacto do clima.
"Estamos numa corrida contra o tempo. Exorto os países a ratificarem o
acordo o o mais breve possível", disse Ban Ki-moon, secretário-geral da
ONU. "Juntos, vamos transformar as aspirações de Paris em ação".
A cerimônia foi aberta com uma breve apresentação musical, aos acordes
das Quatro Estações, de Antonio Vivaldi. O primeiro dos chefes de Estado
a falar foi o presidente da França, François Hollande, que lembrou as
dificuldades enfrentadas pelos países para chegar a um consenso em Paris
e repetiu o apelo de Ban para que as promessas sejam convertidas em
soluções.
Hollande lembrou que a o planeta tem registrado as mais altas
temperaturas dos últimos cem anos e as consequências das mudanças
climáticas são graves e reais, como a fome na África e desastres
naturais. "Há urgência e lógica no acordo que adotamos em Paris", disse
Hollande. "Não é só uma questão para os Estados. Todos tem
responsabilidade".
Veja a íntegra do discurso da presidente Dilma Rousseff:
Senhor secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon,Senhor presidente da França e presidente da COP21, presidente François Hollande,Senhoras e senhores chefes de Estado e de governo participantes dessa cerimônia de assinatura do Acordo de Paris,Senhoras e senhores integrantes de delegações,Senhoras e senhores,Com imensa honra e emoção, venho a Nova Iorque, hoje, no Dia da Terra, assinar o Acordo de Paris sobre a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, um acordo universal.Sua conclusão exitosa, em dezembro de 2015, representou um marco histórico na construção do mundo que queremos: um mundo de desenvolvimento sustentável para todos, com o cumprimento das metas estabelecidas na Agenda 2030. O êxito deve muito à atuação do governo francês, à judiciosa e paciente construção do acordo pelo presidente François Hollande e também ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.Tenho orgulho do trabalho desenvolvido pelo meu governo e pelo meu país para que, coletivamente, chegássemos a esse acordo. Tenho orgulho de nossa contribuição e da contribuição de todos os países e da sociedade internacional. Agradeço o esforço e o trabalho incansável da equipe de negociadores do Brasil, chefiada pela nossa ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.Nós, países participantes, demos respostas firmes e decisivas aos imensos desafios apresentados pela construção de um amplo consenso, consenso necessário para o enfrentamento das mudanças do clima.Hoje, ao lado de todos os chefes de Estado e de governo aqui presentes, assumo o compromisso de assegurar a pronta entrada em vigor do Acordo no Brasil e mais uma vez saúdo a todos por essa histórica conquista da humanidade.O caminho que teremos de percorrer agora será ainda mais desafiador: transformar nossas ambiciosas aspirações em resultados concretos. Realizar os compromissos que assumimos irá exigir a ação convergente de todos nós, de todos os nossos países e sociedades, rumo a uma vida e a uma economia menos dependentes de combustíveis fósseis, dedicadas e comprometidas com práticas sustentáveis na sua relação com o meio ambiente.Países em desenvolvimento, como o Brasil, têm apresentado resultados expressivos na redução das emissões e se comprometeram com metas ainda mais ambiciosas.O desafio de enfrentar a mudança do clima torna imprescindível o aumento progressivo do nível de ambição dos países desenvolvidos. Exige, de forma contínua, a mobilização de meios de implementação adequados, para que os países em desenvolvimento tenham suporte e sigam contribuindo para os esforços globais de mitigação e adaptação.É fundamental ampliar o financiamento do combate à mudança do clima para além do compromisso de US$ 100 bilhões anuais.É indispensável criar meios de reorientar os fluxos financeiros internacionais de modo permanente para apoiar ações que representem soluções para o problema global e promovam também benefícios de adaptação, saúde pública e desenvolvimento sustentável.É necessário, ainda, que o setor privado desenvolva um esforço robusto de redução de emissões.Senhoras e senhores,Ao reiterar o compromisso do Brasil com os objetivos do Acordo de Paris, quero assegurar que estamos perfeitamente cientes que firmá-lo é apenas o começo. A parte mais fácil.Meu país está determinado a intensificar ações de mitigação e de adaptação. Anunciei aqui, durante a Cúpula da Agenda de Desenvolvimento 2030, a contribuição brasileira de 37% de redução dos gases de efeito estufa até 2025, assim como a ambição de alcançarmos uma redução de 43% até 2030 - tomando 2005 como ano-base em ambos os casos.Alcançaremos o desmatamento zero na Amazônia e vamos neutralizar as emissões originárias da supressão legal de vegetação. Nosso desafio é restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas e outros 15 milhões de hectares de pastagens degradadas. Promoveremos também a integração de 5 milhões de hectares na relação lavoura-pecuária e florestas.Todas as fontes renováveis de energia terão sua participação em nossa matriz energética ampliada até alcançar 45% em 2030.Continuaremos contando com a contribuição e a participação de todos os setores de nossa sociedade, que estão conscientes da amplitude do desafio, e com a necessidade de deixar este legado às futuras gerações.Senhoras e senhores,Meu governo traçou metas ambiciosas e ousadas porque sabe que os riscos associados aos efeitos negativos recaem fortemente sobre as populações vulneráveis de nosso país e do mundo quando nós não tomamos medidas corretas para a contenção da mudança do clima.Essa preocupação deve ser compartilhada agora e por todos nós. Sem a redução da pobreza e da desigualdade não será possível vencer o combate à mudança do clima. E esse combate tampouco pode ser feito à custa dos que menos têm e menos podem.Essa é uma das razões pelas quais o conceito de desenvolvimento sustentável precisa ser referência permanente de nosso projeto comum. Incluir, crescer, conservar e proteger: eis a síntese alcançada na Conferência Rio+20, realizada no Brasil em 2012.Senhoras e senhores,Não posso terminar minhas palavras sem mencionar o grave momento que vive o Brasil. A despeito disso, quero dizer que o Brasil é um grande país, com uma sociedade que soube vencer o autoritarismo e construir uma pujante democracia. Nosso povo é um povo trabalhador e com grande apreço pela liberdade. Saberá, não tenho dúvidas, impedir quaisquer retrocessos.Sou grata a todos os líderes que expressaram a mim sua solidariedade.Muito obrigada.
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