Empresas que apostavam na alta do dólar correm para evitar prejuízos — com a possibilidade maior de impeachment e tendência de queda da moeda
americana, empresas desmontam operações e inundam mercado com dólares
O mercado financeiro foi inundado, nos últimos dois dias, com operações
de empresas que apostavam na alta do dólar para este ano e agora já
acreditam que a moeda americana continuará sua trajetória de queda, na
medida em que a votação do impeachment da presidente Dilma se aproxima.
Para tentar evitar prejuízos em seus balanços, mudaram de posição na
bolsa. Somente na terça-feira (12.abr.2016), a BM&FBovespa registrou
US$ 2,6 bilhões de vendas líquidas de posição “comprada” de dólar
dessas companhias, ou seja, de apostas na desvalorização da moeda
americana, em um movimento totalmente atípico.
Quando o mercado é inundado de dólares dessa forma, a tendência é que a
moeda caia fortemente. Para segurar esse movimento, o Banco Central
também entrou no mercado. Em dois dias, leiloou mais de US$ 13 bilhões
em swaps cambiais, as maiores atuações desde 2005, quando começou a
fazer leilões de swap. Na prática, essa movimentação do BC fez com que o
dólar permanecesse quase estável. Tirou assim a volatilidade do mercado
e ainda evitou que as empresas perdessem mais dinheiro com a queda do
dólar. Na terça-feira (12.abr.2016), a moeda americana fechou cotada a
R$ 3,4858, uma queda de 0,15%. Um executivo de um importante banco
estrangeiro diz que sem o BC, na terça-feira (12.abr.2016), o dólar
poderia ter batido em R$ 3,30.
De acordo com operadores de mercado, essa corrida não é feita por
empresas que buscam “hedge” cambial, ou seja, proteção das variações do
dólar. É um movimento típico de quem está apostando ou na alta ou na
queda de um preço na bolsa, usando o que é chamado no mercado de
“derivativo”. Normalmente, são grandes empresas com experiência de
atuação direta no mercado financeiro que operam dessa forma.
Uma das companhias que tem experiência nesse mercado é a JBS, a maior
empresa de proteína animal do mundo e dona da Friboi. Somente no ano
passado, a empresa ganhou mais de R$ 10 bilhões, segundo informou em seu
balanço, fazendo operações no mercado de dólar. Mas a posição que
assumiu no ano passado trará fortes prejuízos neste ano, caso não mude
suas apostas.
Segundo relatório do banco Credit Suisse, no final de 2015 as posições
em derivativos de dólar da JBS eram de US$ 12 bilhões. Como o dólar caiu
de R$ 3,90 para R$ 3,56, caso tenha mantido a posição, somente no
primeiro trimestre teria perdido R$ 5,1 bilhões. Se, no segundo
trimestre, o dólar cair mais 10%, terá mais R$ 5,1 bilhões em perdas,
segundo o Credit Suisse.
De acordo com informação de algumas corretoras, foi justamente o JBS uma
das principais companhias que fez toda essa movimentação. Procurada, a
empresa disse que não comenta boatos de mercado.
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