Planalto teme apuração de obras do governo Dilma
Barragem da hidrelétrica de Belo Monte |
Após a homologação da delação dos executivos da construtora Andrade
Gutierrez, assessores presidenciais passaram a avaliar que, pela
primeira vez, projetos do governo Dilma podem entrar no alvo da
Operação Lava Jato.
A possibilidade mudou o humor da petista e deixou sua equipe
apreensiva, pelo fato de a divulgação da delação premiada do
ex-presidente da construtora Otávio de Azevedo ter ocorrido quando o
governo sentia que começava a virar o jogo do impeachment.
Em depoimentos aos procuradores, os executivos da Andrade não só
citaram que parte das doações legais para a campanha presidencial de
2014 tiveram origem em propinas como revelaram que esses recursos
vieram de obras tocadas no governo Dilma, como a usina de Belo
Monte.
Os delatores citaram o ex-ministro Edison Lobão (Minas e Energia) e
o ex-diretor da Eletrobras Valter Cardeal. Eles trabalharam com a
presidente no primeiro mandato e teriam participado das negociações
da propina, que teria rendido R$ 150 milhões a PT e PMDB. Ambos
negam as acusações.
Irritada com a delação, a petista repetiu a assessores que, se houve
algum esquema de propina com doações legais, não foi montado por sua
equipe de campanha, sugerindo que caberia ao PT explicar
irregularidades nessa área.
Os assessores da presidente destacam que Dilma não quis misturar as
contas de sua campanha com as do PT. Por isso, escalou o hoje
ministro Edinho Silva (Comunicação Social) para comandar suas
finanças na eleição, deixando claro que não queria interferência do
tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.
O diálogo sobre doações entre o ex-presidente da Andrade, Edinho e
Giles Azevedo, assessor especial de Dilma, é citado como exemplo.
Nele, ao ser cobrado a doar para ela, o executivo diz que já havia
feito contribuições ao PT, por meio de Vaccari.
Nessa conversa, que teria ocorrido na eleição de 2014, Edinho e
Giles informam a Azevedo que uma coisa era doar para o PT, e outra,
para a campanha. Ficou acertado, então, que o executivo faria doação
extra de R$ 20 milhões para Dilma. Desse total, R$ 10 milhões foram
doados de uma só vez e o restante, parcelado.
Em conversas com auxiliares, Dilma demonstrou incômodo pelo fato de
o depoimento não especificar se os recursos foram doados ao partido
ou à sua campanha.
Por isso, ela tem repetido que em nenhum momento foi dito à sua
equipe que os R$ 20 milhões doados para sua campanha teriam vindo de
um esquema de propina, e que não cabia a ela explicar isso, mas ao
tesoureiro do PT.
A ausência de informação sobre o conteúdo completo da delação é a
principal preocupação do Planalto. Nas palavras de um auxiliar
presidencial, a delação premiada criou "um cenário imprevisível",
fragilizando o clima que começava a ficar mais favorável para o
Planalto.
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