Taxa de desemprego fechou em 10,2% o trimestre encerrado em fevereiro — renda média real caiu 3,9%
Se 2015 foi o ano de a inflação bater os dois dígitos, agora é a vez
de o desemprego atingir tal marca. A taxa de desemprego no Brasil
ficou em 10,2% no trimestre encerrado em fevereiro, segundo dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad
Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). É a maior taxa registrada desde o início da pesquisa, em
janeiro de 2012.
Anteriormente à PNAD Contínua, o desemprego era medido pela Pesquisa
Mensal de Emprego (PME), que abrange menos cidades. Por esta
metodologia, a última vez que o desemprego chegou a dois dígitos foi
em maio de 2007, quando também ficou em 10,2%.
O resultado de fevereiro representa uma aceleração, visto que no
trimestre encerrado em novembro havia sido de 9%. Também foi maior
do que o verificado no mesmo trimestre de 2015 (7,4%).
A população desocupada no País atingiu o montante recorde de 10,371
milhões de pessoas, um crescimento de 40,1% em relação ao trimestre
encerrado em fevereiro de 2015, o equivalente a mais 2,97 milhões de
brasileiros nessa condição, maior alta em termos absolutos.
"Não foi a variação porcentual mais alta da série. Mas quando você
compara com o mesmo período do ano anterior, a pesquisa tem
crescimento expressivo na desocupação", disse Cimar Azeredo,
coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Além do aumento do desemprego, o trabalhador, em geral, ganhou
menos. A renda média real do trabalhador foi de R$ 1.934, o que
representa uma queda de 3,9% no trimestre de fevereiro frente ao
mesmo trimestre do ano anterior.
A massa de renda real habitual paga aos ocupados somou R$ 171,3
bilhões no trimestre até fevereiro, queda de 4,7% ante igual período
do ano anterior. Desde janeiro de 2014, o IBGE passou a divulgar a
taxa de desocupação em bases trimestrais para todo o território
nacional. A nova pesquisa substitui a PME, que abrangia apenas as
seis principais regiões metropolitanas, e também a Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (Pnad) anual, que produz informações
referentes somente ao mês de setembro de cada ano.
Postos de trabalho — O País registrou um corte de 1,172 milhão de
postos de trabalho no período de um ano. A população ocupada ficou
em 91,134 milhões de pessoas no trimestre encerrado em fevereiro de
2016, recuo de 1,3% ante o trimestre encerrado em fevereiro do ano
passado. Após sucessivos cortes de vagas, a população ocupada volta
ao patamar de meados de 2013, ressalta o coordenador do IBGE.
"A queda na população ocupada foi extremamente agressiva. Várias
pessoas perderam emprego. Além dos trabalhadores que foram
contratados temporariamente, o corte foi adiante. Pessoas que
estavam efetivamente empregadas perderam o trabalho", apontou
Azeredo.
Ao mesmo tempo, a população em idade de trabalhar aumentou 1% em um
ano, 1,625 milhões de indivíduos a mais. Já o total de inativos
diminuiu 0,3%, 174 mil pessoas a menos nessa condição.
"Há um crescimento demográfico da população. A população cresce. É
esperado que emprego cresça acima da população, se a situação
econômica for favorável. Mas o que acontece aqui é que a geração de
emprego não é suficiente, pelo contrário, não absorve essas
pessoas", disse Azeredo.
Trabalho informal — Além de registrar diminuição no total de vagas,
o mercado de trabalho também apresenta uma redução na qualidade do
emprego que permanece. O trabalho por conta própria cresceu 7% no
trimestre encerrado em fevereiro, ante o mesmo período do ano
anterior.
O montante equivale a 1,522 milhão de trabalhadores a mais nessa
condição. O trabalho por conta própria pode ser formal ou não, mas é
usado como um indicativo da informalidade, por abrigar muitos
trabalhadores em atividades precárias, com baixo rendimento e
nenhuma formalização. "A maioria expressiva (de trabalhadores por
conta própria) está voltada para a informalidade", afirmou Azeredo.
Embora tenha recuado a proporção de trabalhadores sem vínculo formal
no setor privado, a informalidade cresce através do trabalho por
conta própria. O total de trabalhadores sem carteira no setor
privado passou de 11,1% da população ocupada em fevereiro de 2015
para 10,7% em fevereiro de 2016. Já o total de trabalhadores por
conta própria aumentou sua representatividade de 23,6% para 25,6% no
mesmo período.
"A qualidade do emprego que permanece está sendo também afetada",
declarou Azeredo. "Essa proxy é bastante expressiva para mostrar que
o que está acontecendo no mercado de trabalho hoje é uma
informalização", acrescentou.
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