quinta-feira, 21 de abril de 2016


Mulher de marqueteiro do PT diz que Mantega intermediou caixa 2 — em delação, Monica Moura conta que recebeu recursos não declarados da campanha de Dilma em 2014



Confissão — mulher de João Santana conta que negociou com o
ex-ministro Guido Mantega pagamento em campanha


O ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do BNDES, Guido Mantega, intermediou o pagamento de caixa 2 para a campanha pela reeleição de Dilma Rousseff em 2014, segundo a mulher do marqueteiro João Santana, Monica Moura. Em relato a procuradores federais de Brasília para tentar fechar acordo de colaboração premiada, Monica contou que Mantega se reuniu com ela e indicou, mais de uma vez, executivos de empresas que deveriam ser procurados para ela receber contribuições em dinheiro, que não passaram por contas oficiais do PT e, por isso, não foram declaradas à Justiça Eleitoral. Mantega reconhece ter se encontrado com Mônica, mas nega a acusação. O coordenador jurídico da campanha de Dilma Rousseff, Flávio Caetano, negou ter havido caixa 2 na campanha pela reeleição da presidente e também que Mantega tenha solicitado a empresários valores para campanha.
A mulher de João Santana também revelou que na disputa de 2014, pelo menos R$ 10 milhões teriam sido pagos a ela e a João Santana fora da contabilidade oficial. E mais: pagamentos via caixa 2 não teriam sido prática exclusiva da última eleição: ocorreram nas campanhas presidenciais pela eleição de Dilma (2010), e pela reeleição de Lula (2006), além das campanhas municipais de Fernando Haddad (2012), Marta Suplicy (2008) e Gleisi Hoffmann (2008).
Sócia em empresas e braço direito do marqueteiro petista, ela disse ter registrado em uma agenda, que não foi apreendida pela PF, detalhes dos encontros mantidos em hotéis e restaurantes de São Paulo com interlocutores dos executivos indicados por Mantega, com o intuito de recolher as contribuições, que eram entregues em malas de dinheiro.
O advogado de Mantega, José Roberto Batochio, reconheceu que o ex-ministro teve encontros privados com Monica Moura, mas negou que tenham tratado de logística de pagamento de caixa 2 de campanha.
— Foram duas ou três conversas, jamais no ministério (da Fazenda). Se ele conversou com Monica em algum momento, foi somente quando indagado sobre dados técnicos e econômicos para elaboração de produtos de comunicação para a campanha. Quem tratava de recursos era o tesoureiro — afirmou o defensor do ministro, para quem a acusação é um "rotundo equívoco".
As investigações apontam que Monica, no entanto, cuidava de assuntos administrativos e financeiros do casal. Perguntado se outras pessoas participaram dos encontros, o defensor informou que preferia não se manifestar.
Segundo Monica, a Odebrecht pagou R$ 4 milhões em dinheiro para a campanha de Dilma em 2014, não registrados nas contas oficiais de campanha. Os valores teriam sido entregues diretamente para ela e usados para pagar fornecedores na área de comunicação. Ela afirma poder indicar, também, as empresas responsáveis pelos outros R$ 6 milhões recebidos por ela e usados para o mesmo fim.
Os dados trazidos por Monica dão novo sentido a anotações do celular do executivo Marcelo Odebrecht citadas em relatório da Polícia Federal (PF). Produzido em junho do ano passado, o documento mostra que em uma nota o empresário registrou a sigla “GM” ao lado de um número de celular. Quando a reportagem ligou para o telefone, Mantega atendeu. Ao lado da sigla também está a mensagem “Pedido específico, blindagem JEC”, que a PF diz não saber o significado.
No relatório da PF, os peritos escrevem que a sigla GM “pertence, possivelmente, a Guido Mantega”. Os agentes escreveram considerar a anotação “27M” uma referência a pagamentos de R$ 27 milhões. Pela hipótese levantada pela PF, a anotação associaria Mantega a um pagamento de pelo menos R$ 25 milhões por parte da Odebrecht (R$ 4 milhões até outubro e “depois”, R$ 21 milhões).
Em outras mensagens, o próprio executivo, que assinava e-mails com a sigla MO, assume possível participação na tratativa de contabilidade paralela de campanha. "Campanhas incluindo caixa 2 se houver, era só com MO, que não aceitava vinculação", escreveu em trecho onde sugere uma possível linha para delação de seus executivos. Em outra nota, ele registrou: "liberar para feira pois meu pessoal não fica sabendo". Segundo a força-tarefa, "feira" é uma menção a dinheiro que tinha como destinatário final o casal João Santana e Monica Moura.
No primeiro depoimento prestado à PF, logo depois de ser presa, em 24 de fevereiro, Monica Moura negou ter recebido caixa 2 por campanhas do Brasil, mas admitiu conhecer Fernando Migliaccio, executivo da Odebrecht que cuidava da área responsável por realizar pagamentos de propina na empreiteira. Migliaccio foi preso na Suíça quando tentava resgatar recursos em uma conta de banco no país.
O advogado do ex-ministro Guido Mantega, José Roberto Batochio, disse não reconhecer a sigla “GM” como uma menção a seu cliente em anotações do celular de Marcelo Odebrecht, apesar de o número do ex-ministro estar registrado ao lado da sigla.



Anotações no celular de Marcelo Odebrecht

Sigla "GM" aparece ao lado do telefone do ex-ministro Guido Mantega






Mantega é investigado na Zelotes por decisões suspeitas do Carf ex-ministro já teve seu sigilo bancário e fiscal
quebrado pela Justiça do DF


Mais longevo ministro da Fazenda da história, entre 2006 e 2015, Guido Mantega passou antes pela presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico — BNDES (2004-2006) e pelo Ministério do Planejamento (2003-2004).
Discreto e de perfil técnico, sempre se manteve afastado da vida orgânica do partido, mas próximo da elite empresarial, em especial depois do ingresso no governo federal.
Em novembro de 2015, o juiz da 10ª Vara Federal de Brasília, Vallisney de Souza Oliveira, autorizou a quebra de seu sigilo bancário e fiscal quebrado em investigação da Operação Zelotes, ao lado de outros investigados.
A investigação, que segue sob sigilo, busca apurar as circunstâncias de nomeações de conselheiros do Carf — órgão vinculado ao Ministério da Fazenda responsável pelo julgamento de recursos de empresas contra multas aplicadas pela Receita Federal.
É investigada, também, a relação do ex-ministro com o empresário Victor Sandri, um dos donos do Grupo Comercial Cimento Penha, beneficiado por decisões suspeitas do Carf.
A Polícia Federal apurou que o grupo se livrou de uma dívida fiscal de R$ 106 milhões graças à ação de uma empresa de consultoria. Não há indicativos de que Mantega tenha recebido qualquer tipo de vantagem material das empresas, mas o entendimento do MPF e da PF era de que as investigações deviam ser aprofundadas. O ex-ministro nega qualquer irregularidade.

CONSULTORIA — Depois de deixar o governo federal, em 2015, e cumprir quarentena, Mantega abriu com a irmã uma empresa de consultoria em gestão empresarial e administração de bens. Por pelo menos três vezes ele foi agredido verbalmente em locais públicos de São Paulo e na presença da família, em função de seu vínculo com o PT, em meio às investigações envolvendo o partido.
As agressões ocorreram pela primeira vez na lanchonete do Hospital Albert Einstein, onde a esposa dele passava por tratamento. As outras duas foram no restaurante Aguzzo, em Pinheiros, e no restaurante Trio, na Vila Olímpia.
Depois que o advogado do ex-ministro apresentou uma queixa-crime por injúria, calúnia e difamação contra empresários identificados entre os agressores, eles pediram perdão ao ex-ministro e, com isso, o caso foi encerrado na Justiça.




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