segunda-feira, 4 de abril de 2016


Inteligência artificial motiva corrida tecnológica



Lee Se-dol, campeão do jogo Go, foi derrotado numa partida pelo programa
de inteligência artificial AlphaGo, do Google


A vitória de um programa de inteligência artificial do Google sobre um campeão do complexo jogo de tabuleiro Go, em março, foi um aviso — não tanto aos jogadores, mas aos concorrentes do Google.
Muitas das maiores empresas do setor tecnológico, como Amazon, Google, IBM e Microsoft, estão disputando o lugar de empresa dominante no campo da inteligência artificial (IA).
As empresas travam uma “guerra de plataformas”. A plataforma é a parte do software sobre a qual outras empresas desenvolvem seus produtos e da qual os consumidores não podem prescindir. Ao se tornar uma plataforma, enormes lucros aparecem. A Microsoft dominou os computadores pessoais porque o sistema operacional Windows se tornou o centro do mundo do software para o consumidor. O Google dominou a internet graças ao seu mecanismo de buscas.
Ou seja, a companhia que controlar a plataforma da IA poderá guiar o setor tecnológico nos próximos anos. “Quem ganhar esta corrida vai dominar a próxima fase da era da informação”, disse Pedro Domingos, autor do livro “The Master Algorithm” [o algoritmo mestre], de 2015, no qual argumenta que a IA e a tecnologia de “big data” irão recriar o mundo.
As grandes empresas de tecnologia estão todas cortejando as mesmas start-ups, que poderão fornecer as tecnologias que lhes faltam, e tentando contratar os mesmos cérebros.
Fei-Fei Li, professora da Universidade de Stanford e especialista em visão por computador, disse que um orientando de doutorado dela recebeu quatro ofertas de empregos de pequenas e grandes empresas, sendo uma delas com remuneração superior a US$ 1 milhão (R$ 3,6 milhões) por ano.
Ela comentou secamente que uma das maiores empresas de tecnologia foi considerada a pior pelo candidato, tanto em termos de dinheiro quanto de interesse.
Na Universidade de Toronto, a IBM procurou uma start-up chamada Ross Intelligence, que vende os serviços de um assistente jurídico inteligente, e ofereceu o uso gratuito do seu software de IA, chamado Watson. Para a IBM, seria financeiramente vantajoso que start-ups como a Ross gerassem vendas, já que a isso se seguiria um acordo de divisão de faturamento. “Não tem custo inicial nenhum”, disse Andrew Arruda, da Ross Intelligence, que se transferiu em 2015 para o Vale do Silício.
As empresas costumam usar competições para exibir seus avanços. Em 1997, um computador da IBM derrotou o campeão de xadrez Garry Kasparov. Há cinco anos, o Watson, da IBM, venceu o game-show de TV “Jeopardy!”.
Até 2020, o mercado para aplicativos de aprendizado de máquina atingirá US$ 40 bilhões, calcula a empresa de pesquisas IDC. E 60% desses aplicativos, segundo essa estimativa, rodarão em plataformas de quatro empresas — Amazon, Google, IBM e Microsoft.
Em janeiro, a “Nature” publicou um artigo descrevendo como o programa do Google derrotou um campeão europeu de Go em cinco partidas, ofuscando os esforços do Facebook para promover o seu próprio software jogador de Go. O software do Google depois disso derrotou o grande-mestre sul-coreano Lee Se-dol por 4 x 1, em março, na Coreia do Sul.
A unidade Watson da IBM é tanto um software quanto uma empresa de serviços com 500 parceiros, entre grandes empresas e start-ups. “A meta de longo prazo é ter centenas de milhões de pessoas usando o Watson como uma IA self-service”, disse David Kenny, da divisão Watson.
Em 2015, Amazon e Microsoft agregaram capacidades de aprendizado de máquina às suas plataformas de software em nuvem, chamadas Amazon Web Services e Microsoft Azure, respectivamente. Essas empresas estão usando os softwares de aprendizado de máquina para ajudar seus clientes a detectarem padrões e fazerem previsões em meio a vastas quantidades de dados.
A Microsoft oferece 18 serviços de aprendizagem de máquina, incluindo reconhecimento facial, análise de texto e recomendações de produtos.
Em novembro, o Google liberou gratuitamente o coração da tecnologia de aprendizado de máquina que seus engenheiros usam, o Tensor Flor. E, recentemente, a empresa apresentou um novo serviço de transcrição de voz para texto.
No Facebook, a visão de IA se limita aos seus produtos. Seu executivo Mike Schroepfer disse que o software de reconhecimento de imagem da empresa é usado atualmente para escolher quais fotos ou vídeos mostrar no feed de notícias do usuário, com base na rede de contatos e interesses da pessoa. “Antes, a foto era uma caixa-preta para nós”, disse ele.
David Yoffie, professor da Escola de Negócios de Harvard, disse que as empresas de tecnologia ainda estão enfocando nichos. “Nenhuma delas tem a chance de se tornar tão onipresente quanto um sistema operacional se tornou na era do PC”, disse.




Nenhum comentário:

Postar um comentário