Inteligência artificial motiva corrida tecnológica
Lee Se-dol, campeão do jogo Go, foi derrotado numa partida pelo programa de inteligência artificial AlphaGo, do Google |
A vitória de um programa de inteligência artificial do Google sobre um
campeão do complexo jogo de tabuleiro Go, em março, foi um aviso — não
tanto aos jogadores, mas aos concorrentes do Google.
Muitas das maiores empresas do setor tecnológico, como Amazon, Google,
IBM e Microsoft, estão disputando o lugar de empresa dominante no campo
da inteligência artificial (IA).
As empresas travam uma “guerra de plataformas”. A plataforma é a parte
do software sobre a qual outras empresas desenvolvem seus produtos e da
qual os consumidores não podem prescindir. Ao se tornar uma plataforma,
enormes lucros aparecem. A Microsoft dominou os computadores pessoais
porque o sistema operacional Windows se tornou o centro do mundo do
software para o consumidor. O Google dominou a internet graças ao seu
mecanismo de buscas.
Ou seja, a companhia que controlar a plataforma da IA poderá guiar o
setor tecnológico nos próximos anos. “Quem ganhar esta corrida vai
dominar a próxima fase da era da informação”, disse Pedro Domingos,
autor do livro “The Master Algorithm” [o algoritmo mestre], de 2015, no
qual argumenta que a IA e a tecnologia de “big data” irão recriar o
mundo.
As grandes empresas de tecnologia estão todas cortejando as mesmas
start-ups, que poderão fornecer as tecnologias que lhes faltam, e
tentando contratar os mesmos cérebros.
Fei-Fei Li, professora da Universidade de Stanford e especialista em
visão por computador, disse que um orientando de doutorado dela recebeu
quatro ofertas de empregos de pequenas e grandes empresas, sendo uma
delas com remuneração superior a US$ 1 milhão (R$ 3,6 milhões) por ano.
Ela comentou secamente que uma das maiores empresas de tecnologia foi
considerada a pior pelo candidato, tanto em termos de dinheiro quanto de
interesse.
Na Universidade de Toronto, a IBM procurou uma start-up chamada Ross
Intelligence, que vende os serviços de um assistente jurídico
inteligente, e ofereceu o uso gratuito do seu software de IA, chamado
Watson. Para a IBM, seria financeiramente vantajoso que start-ups como a
Ross gerassem vendas, já que a isso se seguiria um acordo de divisão de
faturamento. “Não tem custo inicial nenhum”, disse Andrew Arruda, da
Ross Intelligence, que se transferiu em 2015 para o Vale do Silício.
As empresas costumam usar competições para exibir seus avanços. Em 1997,
um computador da IBM derrotou o campeão de xadrez Garry Kasparov. Há
cinco anos, o Watson, da IBM, venceu o game-show de TV “Jeopardy!”.
Até 2020, o mercado para aplicativos de aprendizado de máquina atingirá
US$ 40 bilhões, calcula a empresa de pesquisas IDC. E 60% desses
aplicativos, segundo essa estimativa, rodarão em plataformas de quatro
empresas — Amazon, Google, IBM e Microsoft.
Em janeiro, a “Nature” publicou um artigo descrevendo como o programa do
Google derrotou um campeão europeu de Go em cinco partidas, ofuscando
os esforços do Facebook para promover o seu próprio software jogador de
Go. O software do Google depois disso derrotou o grande-mestre
sul-coreano Lee Se-dol por 4 x 1, em março, na Coreia do Sul.
A unidade Watson da IBM é tanto um software quanto uma empresa de
serviços com 500 parceiros, entre grandes empresas e start-ups. “A meta
de longo prazo é ter centenas de milhões de pessoas usando o Watson como
uma IA self-service”, disse David Kenny, da divisão Watson.
Em 2015, Amazon e Microsoft agregaram capacidades de aprendizado de
máquina às suas plataformas de software em nuvem, chamadas Amazon Web
Services e Microsoft Azure, respectivamente. Essas empresas estão usando
os softwares de aprendizado de máquina para ajudar seus clientes a
detectarem padrões e fazerem previsões em meio a vastas quantidades de
dados.
A Microsoft oferece 18 serviços de aprendizagem de máquina, incluindo
reconhecimento facial, análise de texto e recomendações de produtos.
Em novembro, o Google liberou gratuitamente o coração da tecnologia de
aprendizado de máquina que seus engenheiros usam, o Tensor Flor. E,
recentemente, a empresa apresentou um novo serviço de transcrição de voz
para texto.
No Facebook, a visão de IA se limita aos seus produtos. Seu executivo
Mike Schroepfer disse que o software de reconhecimento de imagem da
empresa é usado atualmente para escolher quais fotos ou vídeos mostrar
no feed de notícias do usuário, com base na rede de contatos e
interesses da pessoa. “Antes, a foto era uma caixa-preta para nós”,
disse ele.
David Yoffie, professor da Escola de Negócios de Harvard, disse que as
empresas de tecnologia ainda estão enfocando nichos. “Nenhuma delas tem a
chance de se tornar tão onipresente quanto um sistema operacional se
tornou na era do PC”, disse.
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