Exportação brasileira de carne de cavalo
cresce 30% em 2015
cresce 30% em 2015
Propriedades espalhadas por Goiás e Bahia fornecem animais a dois frigoríficos no país |
Encarregado de um haras em Bela Vista de Goiás (GO), Antônio Alves dos
Santos, o Tonico, achou uma forma de ganhar algum dinheiro com os
animais velhos e sem serventia da propriedade.
Nas próximas semanas, embarcará 20 de suas 180 éguas rumo ao município
mineiro de Araguari, a 256 km da fazenda. Elas serão abatidas por R$
1,10 o quilo.
"Vamos vender as de descarte, com mais de 12 anos."
O haras Qualité é uma das dezenas de propriedades espalhadas por Goiás e
Bahia autorizadas a fornecer animais aos dois frigoríficos de abate de
equídeos (cavalo, jumento e burro) do país.
Sem aceitação na mesa dos brasileiros, ela é exportada para países europeus e asiáticos, onde é uma iguaria.
Em 2015, esses frigoríficos exportaram 2.800 toneladas da carne, 30% a
mais do que em 2014. Foi o maior volume em cinco anos, com rendimento de
US$ 7,5 milhões.
Esse aumento foi puxado pela retomada das atividades do frigorífico de
Araguari. Chamado Prosperidad, ficou dois anos fechado após um caso de
mormo (doença infectocontagiosa causada por uma bactéria) na cidade.
"O cavalo não era nosso, mas, pelas regras, o frigorífico não poderia
estar a menos de 10 km do foco. E estávamos a 4 km", diz Edmar Martins,
gerente de produção.
O frigorífico abate atualmente de 70 a 80 animais por dia. O produto é
embalado de acordo com os cortes — filé mignon, maminha, alcatra — e
exportado sob a marca Fava Brazilian Prime Meat.
Apesar do recente impulso nas exportações, o setor segue distante do seu
período áureo na década passada. Em 2008, os frigoríficos chegaram a
embarcar 9.900 toneladas para o exterior.
"O Brasil chegou a ficar entre os quatro maiores produtores do mundo,
com 11 frigoríficos em operação. O futuro do setor ficou mais incerto
com as barreiras técnicas", diz Roberto de Souza Lima, professor do
departamento de economia da Esalq/USP.
Em 2010, a União Europeia passou a exigir um histórico detalhado da vida
do animal nos seis meses que antecedem o abate. Segundo Lima, a maioria
dos animais era de trabalho, sem registro e acompanhamento. Para
cumprir os exames e registros exigidos, o custo foi elevado.
Além do Prosperidad, sobrou em operação o frigorífico Foresta, de São
Gabriel (RS). Ambos são controlados por empresários uruguaios e têm,
somados, aproximadamente 300 funcionários.
Procurado, o Foresta não atendeu aos pedidos de entrevista. O medo de
manifestações contrárias ao abate de cavalos é constante. ONGs acusam os
frigoríficos de maus-tratos com os animais.
"Não somos nem 1% do PIB e temos a impressão de que querem sumir com a
gente. Recebemos pouca ajuda. Mas nossa atividade sustenta muitas
famílias", disse Sandra Jorge, diretor do Prosperidad.
Para os frigoríficos, a criação dos cavalos especificamente para o abate
está fora de cogitação. Diferentemente do gado, o cavalo converte pouco
do que come em gordura. O manejo é caro.
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