segunda-feira, 4 de abril de 2016


Mulheres optam por dupla mastectomia,
mas benefício é incerto



Vivien Foldes, 58 anos, não se arrepende de ter feito a cirurgia,
mas se surpreendeu com os efeitos causados


Vivien Foldes não se arrepende de ter removido seus seios há cinco anos, depois de apresentar um câncer em estágio inicial.
No entanto, há coisas que Foldes, contadora de 58 anos de Woodmere (Estado de Nova York), gostaria de ter sido informada quando decidiu pela dupla mastectomia. Por exemplo, o fato de que o processo de reconstrução se arrastaria por cinco meses e a deixaria para sempre incapaz de dormir de barriga para baixo. Ou que ela ficaria insensível “da frente até as costas em toda a região do sutiã”, disse. “Nada. Zero.”
Ainda assim, diz Foldes, sua mãe teve dois tipos de câncer e ela quis ser proativa: “Eu não quis esperar para ver o que iria acontecer”.
Foldes faz parte de um grupo cada vez maior de mulheres que optam por ter ambos os seios removidos depois de um diagnóstico de câncer, apesar de os médicos dizerem que a operação não aumenta as chances de sobrevivência.
Agora, um novo estudo baseado em pesquisas com milhares de mulheres sugere que as que fazem mastectomia dupla tampouco se beneficiam de uma grande melhora na qualidade de vida. A pesquisa foi publicada no periódico “The Journal of Clinical Oncology”.
“Alguns estudos mostraram que, nas pacientes que não têm uma mutação genética que aumenta o risco de câncer de seio, o benefício de remover o seio saudável — meramente de uma perspectiva da doença — é de zero a mínimo”, disse E. Shelley Hwang, chefe de cirurgia de seio no Instituto do Câncer Duke na Carolina do Norte, que liderou o estudo. O que ela queria descobrir era: “Se não estende a longevidade, pelo menos melhora a qualidade de vida?”
Hwang concluiu que os benefícios são marginais. “Algumas mulheres tiveram resultados muito bons e estão felizes por terem tomado essa decisão”, disse. Mas “você não fica melhor, ou mais feliz, nem se sente melhor sexualmente por ter o seio saudável removido”, acrescentou.
O número de mulheres que optam por remover o seio canceroso e o saudável — procedimento chamado de mastectomia profilática contralateral (MPC) — aumentou. Em 2011, cerca de 11% das mulheres nos Estados Unidos que sofreram mastectomia por causa de câncer escolheram a MPC, comparadas com menos de 2% em 1998.
Muitos especialistas estão preocupados com essa tendência. Mulheres com câncer de seio em fase inicial têm a mesma probabilidade de sobrevivência se fizerem uma lumpectomia [cirurgia que preserva a mama] ou uma mastectomia, e pesquisas sugerem que o risco de um câncer no seio contralateral é baixo.
Mas as pacientes dizem que querem eliminar qualquer risco. Hwang disse: “Elas têm câncer e não querem ter de lidar com isso de novo”.
Muitas também são influenciadas pelo histórico familiar. Valerie Garguilo, 54, de Bellport, Nova York, viu sua irmã morrer em 2008 depois de lutar durante sete anos contra um câncer de seio que foi tratado com uma lumpectomia seguida de duas outras e depois metástase até os ossos e o cérebro. Quando Garguilo descobriu que tinha câncer em estágio zero, quatro anos atrás, ela decidiu por uma mastectomia dupla. “Quis fazer o máximo possível para cortar minhas chances de recorrência.”
Complicações cirúrgicas podem ocorrer durante a reconstrução e há risco de dor ou insensibilidade crônicas. Além disso, muitas mulheres têm expectativas irreais sobre a aparência e a sensibilidade dos novos seios. “Uma paciente disse que não sentia mais os abraços de seus filhos”, disse Hwang. “Isso me marcou.”




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