Dois sem-terra morrem durante confronto
com a PM no Paraná
com a PM no Paraná
Acampamento do MST no Paraná |
Dois sem-terra morreram e ao menos outras seis pessoas ficaram feridas
durante confronto entre integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores
Sem-Terra) e policiais na tarde de quinta-feira (07.abr.2016) em um
acampamento em Quedas do Iguaçu (447 km de Curitiba — Paraná).
A área é alvo de conflito há duas décadas. Os sem-terra montaram
acampamento em julho de 2014 na fazenda onde funciona a empresa Araupel,
de reflorestamento e beneficiamento em madeira.
Tanto o MST quanto a Polícia Militar do Paraná usam o termo "emboscada"
para explicar o que ocorreu — cada um dizendo-se vítima do outro.
O tenente-coronel Washington Lee Abe, comandante do 5º Comando Regional
Militar, afirmou que a polícia não vai tolerar represálias e está
preparada para agir, caso seja necessário.
"Só pedimos aos inocentes que se encontram lá nesse movimento que se
intitula movimento social, que se afastem. A Policia Militar do Paraná
não vai se curvar, não vai tolerar nenhum tipo de represália, não vai
tolerar nenhum tipo de infração às leis, nós estamos lá exatamente para
manter a lei e a ordem", destacou.
Pela versão da PM, policiais em dois carros da Rotam (Rondas Ostensivas
Tático Móvel) com uma brigada de incêndio formada por funcionários da
Araupel foram ao local para combater chamas de um incêndio em uma área
próxima, quando cerca de 20 sem-terra começaram a disparar contra as
equipes, que reagiram ao ataque. Ainda segundo a PM, eram seis policiais
(4 da Rotam e 2 da polícia ambiental).
Na ação, ainda segundo a versão da PM, dois sem-terra morreram e outros
seis ficaram feridos. A polícia afirmou que foram recolhidos com o grupo
uma pistola 9 milímetros e uma espingarda calibre 12. "O restante do
grupo se embrenhou na mata", diz nota da Secretaria da Segurança Pública
do Paraná.
Ainda segundo a nota, a PM enviou ao local equipes para resgatar as
vítimas e um helicóptero para remover os feridos, e também foram
deslocados PMs para a região a fim de reforçar a segurança. A Polícia
Civil abriu inquérito para apurar os fatos.
Já segundo o MST, foram na verdade os sem-terra os alvos "de uma
emboscada da PM com a ajuda de jagunços" — termo que o MST usou para
chamar funcionários da Araupel. O MST diz ainda que mais de 20 pessoas
ficaram feridas.
O movimento negou, ainda, que havia pessoas armadas e que os sem-terra tenham provocado a PM para então gerar o confronto.
O nome dos mortos não foi divulgado. Os corpos já foram retirados e
estão em frente à delegacia da cidade. Dois feridos mais graves,
baleados, foram levados para Cascavel, e outros dois para o hospital de
Quedas do Iguaçu.
Sobre as críticas do MST, a Secretaria da Segurança Pública diz que a remoção dos feridos foi ágil, com ajuda de helicóptero.
Em nota, o comando nacional do MST informou que não se sabe o número
exato de mortos e feridos, “pois a Polícia Militar estaria impedindo a
aproximação de integrantes do Movimento no local”. Porém, integrantes do
movimento na região falam em nove vítimas.
Segundo o dirigente nacional do MST, Gilmar Mauro, dirigentes do MST
foram impedidos pela PM de chegar ao local do conflito. “Vamos aguardar a
apuração, mas essas mortes preocupam muito, pois estão em consonância
com outras ações contra o movimento. Estamos no mês do massacre de
Eldorado dos Carajás (a morte, pela Polícia Militar, de 19 sem-terra na
cidade do Pará, em 1996) e estão ocorrendo outras ações semelhantes,
como o ataque a um acampamento nosso por pistoleiros em Rondônia e o
assassinato de um sem-terra na Paraíba.” Ele disse que o MST vai se
posicionar oficialmente assim que tiver mais informações sobre o caso.
Desde o massacre no Pará, em 1996, o MST se mobiliza anualmente no movimento "Abril Vermelho".
Histórico — O confronto entre policiais e integrantes do MST
ocorreu próximo de uma área pertencente a empresa Araupel, O movimento
mantém no local 2.500 famílias, cerca de 7 mil pessoas. A empresa vem
sofrendo uma pressão dos sem-terra desde a primeira ocupação de terra em
1996 (Pinhal Ralo). Desde então, boa parte da fazenda foi desapropriada
para a reforma agrária.
Em julho de 2014, a fazenda de reflorestamento da empresa foi invadida
por centenas de sem-terra. Desde então, o clima é tenso na região.
O conflito divide a cidade de Quedas do Iguaçu, município de cerca de 32
mil habitantes. A empresa Araupel emprega 1.200 funcionários.
Em outubro do ano passado, o comércio fechou as portas e houve uma
manifestação com cerca de 10 mil pessoas, segundo a PM, contrários à
presença do MST na área.
Segundo funcionários, havia na época equipes paradas por falta de
matéria-prima, já que os trabalhadores não conseguiam chegar até o local
para o corte de madeira. A associação comercial da cidade reclamava, na
ocasião, de queda nas vendas nas lojas.
O conflito na área ganhou destaque nacional em março, quando, segundo a
Araupel, 1,2 milhão de mudas de pinos foram destruídas por mulheres
integrantes do MST, em ato do Dia Internacional da Mulher. O prejuízo
estimado pela empresa foi de R$ 5 milhões. A Araupel calcula já ter
prejuízos de R$ 35 milhões desde que o acampamento do MST foi montado.
A reportagem procurou a Araupel, mas a assessoria de imprensa afirmou
que a empresa não se pronunciaria sobre a versão apresentada pelo MST.
A AGU (Advocacia-Geral da União) e o Incra (órgão federal que responde
pelo processo de reforma agrária) haviam entrado na Justiça com pedido
de nulidade dos títulos que a empresa Araupel tem sobre a área. Uma das
ações foi julgada procedente pela Justiça Federal, mas a empresa
recorreu e a sentença de primeira instância tornou-se sem valor até que
recursos sejam julgados em esferas superiores.
Segundo o advogado da Araupel, Leandro Salomão, no mês passado o TRF 4ª
região (Tribunal Regional Federal), órgão de segunda instância,
suspendeu os efeitos da primeira decisão, apontando que os títulos são
válidos e que a propriedade pertence à Araupel. AGU e Incra, então,
recorreram e o último recurso está ainda para ser julgado pelo mesmo
TRF, possivelmente até o final deste mês.
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