“Vazamentos seletivos” de novas delações
Depois de fechar acordos de delação premiada, executivos da Andrade
Gutierrez revelaram à força tarefa da Lava Jato que a empreiteira
doou para campanhas de Dilma, inclusive a de 2014, recursos
provenientes da corrupção na Petrobras. As doações foram registradas
no TSE como se fossem legais. Contaram também ter destinado R$ 150
milhões em propinas para o PT e o PMDB, metade para cada legenda.
Numa das ações movidas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Dilma é
acusada de usar verbas provenientes de corrupção no financiamento de
sua campanha. Algo que, se comprovado, pode levar à cassação da
chapa Dilma—Temer.
As novas revelações adicionam lenha numa fogueira em que já ardem os
depoimentos de Ricardo Pessôa. Neles, o dono da construtora UTC
disse que o então tesoureiro da campanha à reeleição de Dilma,
Edinho Silva, hoje ministro da Comunicação Social da Presidência, o
pressionou a vitaminar as doações ao caixa do comitê de Dilma.
Na versão de Pessôa, já incorporada aos autos do TSE, a UTC
comprometera-se a repassar R$ 10 milhões à tesouraria do comitê de
Dilma. Preso por ordem do juiz Sérgio Moro, o dono da UTC só teve
tempo de entregar R$ 7,5 milhões. Dinheiro do petrolão, disse ele.
O tesoureiro da campanha presidencial de 2014 ministro Edinho Silva
voltou à boca da cena na quinta-feira (07.abr.2016) para tachar de
"peça de ficção" o conteúdo divulgado das delações da Andrade
Gutierrez. Edinho disse que o teor do que veio a público "não tem
lastro na verdade".
Em entrevista à imprensa, o petista afirmou que a divulgação do
conteúdo "tenta agravar a situação política" para ser utilizada como
"instrumento da luta partidária". Ele afirmou estranhar que ela
ocorra às vésperas da votação em plenário do pedido de impeachment
da Presidente na Câmara dos Deputados.
"Se isso existe de fato na delação premiada, é uma mentira", disse.
"E nos estranha muito que uma delação seletiva seja vazada num
momento em que a Câmara dos Deputados está à véspera de uma decisão
importante de um pedido que no nosso entender se caracteriza por um
golpe."
Dilma Rousseff, assim como Edinho Silva, odeia vazamentos — Quando
os petrolarápios começaram a suar o dedo na Lava Jato, Dilma
apressou-se em declarar: “Não respeito delatores”. Pegou mal, já que
Dilma havia sancionado a lei que deu à Lava Jato a ferramenta da
colaboração premiada. Quando as vozes dos delatores começaram a
ecoar segredos das arcas de 2014, Dilma se insurgiu contra os
“vazamentos”. Na quinta-feira (07.abr.2016), acossada pela revelação
dos segredos da Andrade Gutierrez, ela voltou a estrilar.
Em novo ‘golpemício’ realizado no salão de solenidades do Palácio do
Planalto, a presidente queixou-se do “vazamento premeditado e
direcionado”. Enxergou no noticiário a intenção de criar um
“ambiente propício ao golpe”. E avisou à plateia-companheira: nos
próximos dias, podem surgir novos “vazamentos oportunistas e
seletivos”.
Espantosa época a nossa. Executivos de uma das maiores construtoras
do país informam em depoimentos oficiais que derramaram dinheiro
sujo nas arcas da campanha à reeleição de Dilma. Submetida à
atmosfera malcheirosa, a presidente acha que pode adotar um discurso
hidráulico e seguir em frente. Como se nada tivesse sido descoberto
sobre o esgoto aberto na contabilidade do seu comitê.
Dilma se queixa da seletividade dos vazamentos. Mas seletiva mesmo
são as suas reações. A presidente só reclama quando os jatos de lama
lhe sujam os sapatos. Adora quando a goteira cai sobre a cabeça de
personagens como Aécio Neves e Eduardo Cunha. Dilma talvez não tenha
se dado conta. Mas no caso da Andrade Gutierrez, o lodo respingou no
PT e também no PMDB do vice-presidente Michel Temer. Golpe? Ora,
francamente! Melhor trocar o lero-lero por meio quilo de
explicações.
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