sexta-feira, 8 de abril de 2016


“Vazamentos seletivos” de novas delações



Depois de fechar acordos de delação premiada, executivos da Andrade Gutierrez revelaram à força tarefa da Lava Jato que a empreiteira doou para campanhas de Dilma, inclusive a de 2014, recursos provenientes da corrupção na Petrobras. As doações foram registradas no TSE como se fossem legais. Contaram também ter destinado R$ 150 milhões em propinas para o PT e o PMDB, metade para cada legenda.
Numa das ações movidas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Dilma é acusada de usar verbas provenientes de corrupção no financiamento de sua campanha. Algo que, se comprovado, pode levar à cassação da chapa Dilma—Temer.
As novas revelações adicionam lenha numa fogueira em que já ardem os depoimentos de Ricardo Pessôa. Neles, o dono da construtora UTC disse que o então tesoureiro da campanha à reeleição de Dilma, Edinho Silva, hoje ministro da Comunicação Social da Presidência, o pressionou a vitaminar as doações ao caixa do comitê de Dilma.
Na versão de Pessôa, já incorporada aos autos do TSE, a UTC comprometera-se a repassar R$ 10 milhões à tesouraria do comitê de Dilma. Preso por ordem do juiz Sérgio Moro, o dono da UTC só teve tempo de entregar R$ 7,5 milhões. Dinheiro do petrolão, disse ele.
O tesoureiro da campanha presidencial de 2014 ministro Edinho Silva voltou à boca da cena na quinta-feira (07.abr.2016) para tachar de "peça de ficção" o conteúdo divulgado das delações da Andrade Gutierrez. Edinho disse que o teor do que veio a público "não tem lastro na verdade".
Em entrevista à imprensa, o petista afirmou que a divulgação do conteúdo "tenta agravar a situação política" para ser utilizada como "instrumento da luta partidária". Ele afirmou estranhar que ela ocorra às vésperas da votação em plenário do pedido de impeachment da Presidente na Câmara dos Deputados.
"Se isso existe de fato na delação premiada, é uma mentira", disse. "E nos estranha muito que uma delação seletiva seja vazada num momento em que a Câmara dos Deputados está à véspera de uma decisão importante de um pedido que no nosso entender se caracteriza por um golpe."
Dilma Rousseff, assim como Edinho Silva, odeia vazamentos — Quando os petrolarápios começaram a suar o dedo na Lava Jato, Dilma apressou-se em declarar: “Não respeito delatores”. Pegou mal, já que Dilma havia sancionado a lei que deu à Lava Jato a ferramenta da colaboração premiada. Quando as vozes dos delatores começaram a ecoar segredos das arcas de 2014, Dilma se insurgiu contra os “vazamentos”. Na quinta-feira (07.abr.2016), acossada pela revelação dos segredos da Andrade Gutierrez, ela voltou a estrilar.
Em novo ‘golpemício’ realizado no salão de solenidades do Palácio do Planalto, a presidente queixou-se do “vazamento premeditado e direcionado”. Enxergou no noticiário a intenção de criar um “ambiente propício ao golpe”. E avisou à plateia-companheira: nos próximos dias, podem surgir novos “vazamentos oportunistas e seletivos”.
Espantosa época a nossa. Executivos de uma das maiores construtoras do país informam em depoimentos oficiais que derramaram dinheiro sujo nas arcas da campanha à reeleição de Dilma. Submetida à atmosfera malcheirosa, a presidente acha que pode adotar um discurso hidráulico e seguir em frente. Como se nada tivesse sido descoberto sobre o esgoto aberto na contabilidade do seu comitê.
Dilma se queixa da seletividade dos vazamentos. Mas seletiva mesmo são as suas reações. A presidente só reclama quando os jatos de lama lhe sujam os sapatos. Adora quando a goteira cai sobre a cabeça de personagens como Aécio Neves e Eduardo Cunha. Dilma talvez não tenha se dado conta. Mas no caso da Andrade Gutierrez, o lodo respingou no PT e também no PMDB do vice-presidente Michel Temer. Golpe? Ora, francamente! Melhor trocar o lero-lero por meio quilo de explicações.




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