Investigação descobre novas contas secretas de empreiteiras envolvidas no petrolão
Uma investigação internacional sobre um escritório do Panamá conhecido
por abrir empresas para esconder dinheiro ilícito aponta que a Odebrecht
criou três firmas que operam contas secretas que são desconhecidas
pelos investigadores da Operação Lava Jato.
As empresas offshores controladas pela Odebrecht são as seguintes: Davos
Holdings Group SA, Crystal Research Services Pesquisa e Salmet Trad
Corp.
A Odebrechet negocia um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República e não quis comentar o caso.
O escritório panamenho que criou as empresas é o Mossack Fonseca, que
tem uma filial em São Paulo e também é investigado pela Lava Jato.
A apuração internacional começou quando o jornal alemão "Süddeustche
Zeitung" obteve 11,5 milhões de documentos sobre o escritório do Panamá e
compartilhou os papéis com 376 jornalistas de 109 veículos em 76
países, todos ligados ao ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas
Investigativos), uma entidade sem fins lucrativos com sede em
Washington, nos Estados Unidos.
A série de reportagens foi batizada internacionalmente de "Panama Papers".
A apuração revela que o escritório panamenho criou empresas para 57
investigados no esquema de corrupção da Petrobras. Para esses
investigados foram criadas 107 empresas offshores.
Essas firmas podem ser legais ou ilegais, mas tem em comum o fato de
operarem em paraísos fiscais para pagar menos impostos e dificultar que
as autoridades descubram quem são seus verdadeiros donos.
QUEIROZ GALVÃO — Uma das empresas investigadas na Lava Jato, a Queiroz
Galvão, usou o escritório do Panamá para abrir duas offshores em junho
de 2014, três meses depois de a Polícia Federal e do Ministério Público
Federal desencadearam a operação.
A empresa foi aberta por Carlos Queiroz Galvão, sócio da empreiteira. A
troca de correspondência com a Mossack Fonseca sugere que ele tinha
pressa em criar as offshores.
Um outro documento da Queiroz Galvão aponta que a empreiteira pagava 3%
de comissão de tudo o que receber do governo da Venezuela em um projeto
de irrigação naquele país.
Carlos Queiroz Galvão diz que não ocupa nenhum cargo na empresa. Sobre o
contrato na Venezuela, a empresa afirma que não fez nenhum pagamento
ilegal no exterior.
SCHAHIN — O escritório do Panamá criou também uma empresa para Carlos
Eduardo Schahin, sobrinho de Milton Schahin, que era controlador do
banco que leva o seu sobrenome até ser vendido ao BMG em 2011.
A offshore, chamada Lardner Inverstiments Ltd. e aberta em 1996, tinha
como sócios outros três executivos do banco: Eugênio Bergamo, Robert Van
Dijk e Teruo Hyai.
Investigado pela Lava Jato, Milton Schahin fez um acordo de delação com
os investigadores e revelou que o banco fez um empréstimo de R$ 12
milhões ao empresário José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula,
que nunca foi pago.
Preso pela Lava Jato, Bumlai confessou que os recursos foram repassados
ao PT e que o partido nunca quitou o empréstimo, mas recompensou a
família com um contrato de R$ 1,6 bilhão da Petrobras, para operação de
sondas de petróleo.
O PT nega que tenha recebido recursos ilícitos. Carlos Eduardo não quis fazer comentários sobre a offshore.
MENDES JÚNIOR — A empreiteira também adquiriu uma offshore da Mossack
Fonseca, em 1997, chamada Lanite Development. Aparecem como sócios da
offshore Jésus Murilo Vale Mendes, Ângelo Marcus de Lima Cota e
Jefferson Eustáquio, que são, respectivamente, presidente, diretor
financeiro e superintendente da Mendes Júnior.
A empreiteira diz que a Lanite foi aberta como parte de um projeto de
internacionalização da Mendes Júnior que não foi adiante. Por isso,
segundo a empresa, a offshore ficou inativa.
A Mossack Fonseca disse em nota que só abre as empresas offshores, mas
não tem interferência na operação delas. O escritório afirma respeitar a
lei e, em 40 anos, nunca foi acusada de nenhum crime. "Temos orgulho do
trabalho que fazemos, independentemente das ações recentes de alguns
que buscam caracterizar nossa trabalho de forma errônea".
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