A explosão H1N1 — a perigosa gripe chega antes do previsto ao Brasil e atinge principalmente São Paulo — como se proteger do vírus que já matou mais pessoas em três meses do que em todo o ano passado
Pacientes usam máscaras para se proteger do H1N1 em pronto-socorro público lotado |
A gripe do tipo H1N1 já conta com centenas de casos no País. Muitos
deles fatais. Como o surto desembarcou no Brasil mais forte, mais cedo e
com mais gravidade este ano, provocou uma corrida da população a
médicos e postos de saúde. O resultado? Longas filas e desabastecimento
de vacinas e remédios, uma vez que as autoridades não estavam
preparadas.
Tido como um mal do frio, até o fim do verão de 2016 o H1N1 já havia
matado no País 28% a mais do que em todo o ano passado. Entre os
paulistas a situação foi pior: quase três vezes mais fatalidades e 700%
mais casos no mesmo período. Desta vez, a gripe veio antes provavelmente
por dois motivos. Primeiro, porque pessoas contaminadas no hemisfério
norte (onde é inverno) trouxeram a infecção, que se alastrou. Segundo,
porque o número de vacinações em 2015 ficou abaixo do esperado,
resultando em mais pessoas suscetíveis à doença. Mas pesquisadores
conjecturam que até o fenômeno climático El Niño possa ter alguma culpa
nessa história. “É uma surpresa enorme quando uma doença comum na época
de frio começa tão precocemente”, diz o infectologista Marcos Boulos,
professor da Universidade de São Paulo e coordenador de Controle de
Doenças do estado.
O que mais tem preocupado é o grande número de mortes decorrentes do
H1N1 este ano. Elas estão diretamente relacionadas ao aumento de casos,
mas há outros fatores. A gripe é perigosa quando causa nos pacientes
insuficiências respiratórias graves, que podem ser fatais. Normalmente,
as maiores vítimas são idosos, diabéticos e cardiopatas. Ainda que esses
grupos continuem sob risco, cerca de 50% das mortes em 2016 se deu
entre adultos na faixa etária de 40 a 60 anos, parcela que normalmente
está mais isenta e não é alvo costumeiro das campanhas de vacinação. “O
H1N1 parece ser mais agressivo do que outros subtipos virais, com
maiores possibilidades de provocar infecções graves” afirma o
infectologista Francisco Ivanildo de Oliveira Júnior, supervisor médico
do ambulatório do Hospital Emílio Ribas, de São Paulo.
O H1N1 também é um vírus democrático, que faz vítimas em todas as classes sociais.
A crise é de tais proporções que nem algumas das mais prestigiadas
clínicas paulistanas têm dado conta de atender a todos. Nas unidades do
Hospital Albert Einstein do Ibirapuera e do Morumbi (SP), por exemplo, a
espera pela aplicação da vacina supera duas horas — e os estoques
semanais recebidos pelo hospital podem acabar “a qualquer momento”. Na
clínica Cedipi, localizada nos Jardins, um dos endereços mais caros da
cidade de São Paulo, a versão quadrivalente, que protege contra o H1N1 e
mais três tipos de gripe, estava esgotada na quinta-feira 31.mar.2016 e
as linhas telefônicas congestionadas devido ao aumento nas buscas.
Muitos lugares simplesmente não possuíam mais o medicamento disponível, e
alguns deles escalaram funcionários para avisar os clientes, ainda na
rua, sobre a escassez.
Contaminados com H1N1 foram comprar o medicamento Tamiflu, prescrito
para esse tipo de gripe, nas farmácias de São Paulo, mas não encontraram
o remédio em nenhuma delas. Acabou por conta da alta procura.
Pais de crianças doentes esperam a vez em longa fila de hospital privado |
Para debelar a crise, o governo federal enviou lotes de vacinas de H1N1
de 2015 para o noroeste paulista, região mais afetada do País. Além
disso, a Secretaria de Saúde de São Paulo antecipou a distribuição do
lote de 2016 para os principais grupos de risco. De acordo com o
Ministério da Saúde, porém, um adiantamento em escala nacional está fora
de questão. Como a “receita” do medicamento muda anualmente, a pasta
admite que não possui capacidade de produção e condição logística para
mudar a data marcada para o começo da campanha, 30 de abril.
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