Uma nova narrativa para 2016 —
incomodados com as primeiras declarações do novo ministro da Fazenda,
líderes de movimentos sociais e Lula querem convencer Dilma a anunciar
medidas que indiquem mudança na economia
Presidente da CUT Vagner Freitas |
O mercado financeiro reagiu mal ao anúncio do novo ministro. Apesar de
Barbosa ter assumido com um discurso de manutenção do ajuste fiscal e
equilíbrio das contas públicas, a resposta foi uma alta no preço do
dólar e queda das ações na bolsa.
Por outro lado, a defesa do ajuste fiscal e o anúncio da intenção de
fazer uma reforma na Previdência enfureceram os movimentos sociais que
saíram às ruas para protestar contra o impeachment de Dilma.
O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas,
distribuiu uma nota com fortes críticas ao início da gestão Barbosa e o
comparou a seu antecessor, Joaquim Levy, alvo de reclamações por ser,
supostamente, um representante do setor bancário no governo.
“Agora, novamente no fim do ano, assisto atônito às mesmas cenas do ano
passado. Muda o ministro da economia, mas não muda a política econômica.
Era justamente isso que temíamos. Isso não vai acontecer. A primeira
fala do novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, é semelhante à
primeira de Joaquim Levy”, disse Freitas.
Exigência. Responsável pela mobilização de um dos maiores
contingentes de militantes pró-Dilma nas ruas, o presidente da CUT
afirmou, em tom de ameaça, que ela corre o risco de perder o apoio nas
ruas e, consequentemente, o mandato presidencial.
“Exigimos que nos próximos dias, ao invés desse discurso conservador
ultrapassado e subordinado ao mercado, o governo anuncie medidas de
interesse da classe trabalhadora. Os golpistas estão de plantão com
pedidos de impeachment ou renúncia. E as ruas só vão defender o projeto
democrático popular se tiverem o que defender”, disse o sindicalista.
Menos alinhado ao PT, Guilherme Boulos, líder do Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto (MTST), deu um ultimato à presidente. “Não
adianta nada o novo ministro assumir e duas horas depois ir à TV para
dizer que vai manter o ajuste fiscal. Dilma já perdeu o apoio popular. O
que as ruas disseram [no dia do protesto contra o impeachment de Dilma]
foi: esta é a última chance”, afirmou.
Nova narrativa. Incomodado com a recepção negativa tanto do
mercado quanto da base histórica do PT aos primeiros movimentos do novo
ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva pressiona o governo a anunciar logo nos primeiros dias de 2016
medidas concretas que sinalizem mudanças na política econômica rumo à
retomada do crescimento. Para o petista, a criação de expectativas
positivas no início do segundo ano do governo Dilma Rousseff é
fundamental para garantir apoio popular à presidente na batalha contra o
impeachment.
A preocupação foi manifestada por Lula no início da semana a auxiliares e
integrantes do governo. Segundo relatos, o ex-presidente teria dito que
o início da gestão de Barbosa conseguiu desagradar tanto à direita
quanto à esquerda.
Segundo Lula, a mudança de nomes por si só não surte efeito. É preciso
explicar para a população o que vai mudar com a entrada de Barbosa no
lugar de Levy. Por isso, o ex-presidente tem procurado ministros para
tentar convencer Dilma a anunciar medidas concretas nos próximos dias e
dar um novo discurso a Barbosa.
Embora integrantes do governo falem no anúncio de um pacote nas próximas
semanas, o cardápio de novidades ainda é considerado insuficiente. Por
enquanto, estão na lista uma reforma da Previdência em acordo com
empresários e empregados e a adoção de medidas para destravar concessões
públicas.
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