terça-feira, 15 de dezembro de 2015




Redução da meta fiscal é 'inconveniente' e 'um equívoco' — Ministro da Fazenda reforçou a necessidade de aprovação das medidas provisórias que atingem as classes de maior renda e que foram enviadas ao Congresso



Em meio a possibilidade de alteração da meta fiscal do ano que vem, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, continua firme na sua posição de defender um resultado de 0,7% do PIB. Para ele, a possibilidade de mudar a meta é "inconveniente" e classificou como um "equívoco" a mistura da meta "por causa do bolsa família". "(Isso) não fica de pé", disse Levy. Na avaliação do dirigente da Fazenda, "as camadas de maior renda estão ansiosas para participar do esforço fiscal e trazer o Brasil de volta para o crescimento".
O ministro reforçou a necessidade de aprovação das medidas provisórias, que atingem as classes de maior renda e que foram enviadas ao Congresso. Com a aprovação dessas matérias o caixa do governo no ano que vem ganhará um reforço."Tem que focar na votação de medidas que são importantes e que foram mandadas há 2 ou 3 meses atrás", afirmou.
Entre as MPs enviadas pela Fazenda, está a 690, que trata da incidência do Imposto de Produtos Industrializados (IPI) sobre bebidas e fim da isenção de PIS/Cofins sobre eletrônicos. Há também a MP 692, que altera a cobrança de Imposto de Renda sobre ganhos de capital e no programa de redução de litigamos tributários. A MP mais enfatizada por Levy foi a MP 694, que trata do IR sobre juros de capital próprio e fim do benefício fiscal para a indústria química.
Sobre o corte de R$ 10 bilhões no Bolsa Família que o relator do Orçamento do ano que vem, deputado Ricardo Barros (PP-PA), Levy disse que "ninguém vai querer se esconder atrás do Bolsa Família para não tomar as medidas necessárias para o Brasil ir no rumo correto, de preservação dos empregos e de estabilidade e tranquilidade para as famílias".







DIVERGÊNCIAS
A meta original do governo, defendida por Levy como essencial, é que o setor público economize 0,7% do PIB, o equivalente a R$ 43,8 bilhões.
O líder do governo na Comissão de Orçamento, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), porém, afirmou que irá apresentar uma emenda à LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) para reduzir a meta de superavit fiscal de 2016 em R$ 10 bilhões.
A LDO define qual deve ser a economia nas contas públicas em porcentual dos PIB e faz algumas projeções sobre receitas e gastos do governo.
Com base nisso, o Orçamento estabelece a arrecadação e os gastos para o ano.
Na sexta-feira (11.dez.2015), o relator do Orçamento de 2016 no Congresso, deputado Ricardo Barros (PP-PR), havia oficializado a proposta de incluir no seu parecer o corte de R$ 10 bilhões do Bolsa Família.
Para evitar esse corte, Pimenta defende que os R$ 34,4 bilhões que a União deveria economizar para cumprir meta de 0,7% do PIB sejam reduzidos para R$ 24,4 bilhões.



Efeitos do Bolsa Família são desiguais


PALAVRA FINAL
Dois ministros disseram que a presidente tende a reduzir a meta, mas uma decisão final será tomada em reunião da Junta Orçamentária, com Jaques Wagner (Casa Civil), Levy e Nelson Barbosa (Planejamento).
Assessores disseram que, para evitar uma crise com o ministro da Fazenda, a presidente ainda pode discutir novos cortes no Orçamento ou aumento de receita, para tentar evitar um corte na meta.
Um assessor disse que a presidente, neste momento, não quer gerar uma situação que leve seu ministro da Fazenda a deixar o governo.



CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS
Causas
  • Os gastos do governo superaram a arrecadação, em queda devido à crise econômica.
  • As pedaladas fiscais de 2014 precisaram ser contabilizadas neste ano, aumentando o rombo nas contas do governo. O deficit deve chegar a R$ 120 bilhões.
  • As medidas de ajuste fiscal do governo demoraram a ser aprovadas no Congresso, adiando o corte de gastos.
Consequências
  • A dívida pública cresce quando os gastos do governo são maiores do que o valor que ele consegue arrecadar.
  • A dívida crescente reduz a nota de crédito do país e, com isso, os juros cobrados por credores, agravando a recessão; o dólar tende a subir.
  • A dificuldade em reduzir o gasto público impulsiona a inflação, que ultrapassou os 10% em 12 meses até novembro; o dólar em alta eleva preços.
  • Para fechar as contas, o governo precisa aumentar impostos ou cortar gastos, o que pode resultar em mais desemprego. 



Atualizando: A presidente Dilma enviou ao Congresso uma proposta de redução da meta fiscal de 0,7% para 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2016, com a possibilidade de abatimento de investimentos que, na prática, permite que ela seja de zero no ano que vem.
A decisão do Palácio do Planalto contraria a posição do ministro Joaquim Levy (Fazenda), que defende dentro do governo a manutenção da meta de 0,7% do PIB, equivalente a R$ 43,8 bilhões.
O texto encaminhado pelo governo ao Congresso reduz o superavit primário (economia de gastos para pagamento da dívida pública) de R$ 43,8 bilhões para R$ 30,58 bilhões, o mesmo que 0,5% do PIB.
Além disso, o documento enviado aos parlamentares prevê a possibilidade de abater R$ 30,58 bilhões de investimentos caso haja uma "frustração de receita" em relação à previsão feita pela equipe econômica.
A nova regra, se aprovada pelos deputados e senadores, funcionará como uma banda de flutuação de 0% a 0,5% do PIB.
À revelia do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a presidente Dilma Rousseff decidiu pedir ao Congresso Nacional aval para que a meta fiscal de 2016 seja, na prática, de zero.
A alteração representa uma derrota para o ministro Levy, que defendia a todo custo a manutenção da meta em 0,7% do PIB (R$ 43,8 bilhões), compromisso que feito a ele pela própria presidente Dilma depois que o Brasil perdeu o grau de investimento pela agência internacional de classificação de risco Standard & Poor's. O ministro, que chegou na semana passada, a ameaçar deixar o governo se a meta fosse reduzida, fica agora numa situação ainda mais delicada com essa nova derrota dentro do governo. Antes mesmo da decisão, o mercado financeiro já reagia mal com o risco de redução da meta.
Uma fonte da área econômica afirmou que o ministro Levy assumiu uma posição como se não fosse do governo. Causou ainda mais desgaste do ministro no Palácio do Planalto as declarações sobre o Bolsa Família. A avaliação é de que o ministro "não ajuda" ao fazer esse tipo de declaração sobre um dos principais programa do governo neste momento delicado.
O relator Ricardo Barros lamentou a decisão. "Se o governo não quer ter meta, pronto. Quem fala em meta é a Lei de Responsabilidade Fiscal", alfinetou.
Mesmo com a redução da meta, Barros disse que vai manter o corte no Bolsa Família. "A redução da meta não me obriga a repor dinheiro do Bolsa. O governo que destaque e me derrote como fez com a CPMF", disse.






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