Abate de bois angus, de carne mais cara, cresce 21% em 2015
Gado da raça angus |
A crise econômica ainda não chegou aos criadores do boi angus. A
carne, considerada nobre, caiu nas graças do consumidor brasileiro e
ganha cada vez mais mercado, mesmo sendo mais cara que a
convencional.
A estimativa da Associação Brasileira de Angus é fechar 2015 com um
abate de 400 mil cabeças do gado, um aumento de 21% em relação a
2014 e de 167% desde 2010.
Outras raças não acompanharam o crescimento. Dados do Ministério da
Agricultura mostram que o abate total de gado em 2015 caiu 9% de
janeiro a novembro em comparação com o mesmo período de 2014.
"O pessoal que consome nosso produto não foi atingido pela crise",
diz o presidente da associação, José Roberto Weber. A carne é
vendida tanto para restaurantes de luxo como para o varejo e pode
custar 75% a mais que a convencional.
Para comparação, um quilo de picanha comum custa entre R$ 38,90 e R$
46,90 nas principais redes de supermercados de São Paulo. Se o boi
for Angus, o preço pode variar de R$ 69,90 a R$ 101.
O mercado do angus, porém, ainda é de nicho, e a raça representa
menos de 5% das 212 milhões de cabeças de gado do país, segundo a
associação. A maior parte dos bois brasileiros (cerca de 80%) é da
raça nelore.
ORIGEM — O angus vem do norte da Europa e, entre os diferenciais de
sua carne, estão o marmoreio (gordura entremeada na carne que
melhora o sabor) e a maciez (tem menos fibra, porque os bois são
abatidos mais jovens, com até 30 meses, ante 42 meses das raças
comuns).
A venda de doses de sêmen da raça, usadas para fertilização, cresceu
180,6% desde 2009, chegando a 3,7 milhões de unidades em 2014. Em
2013, a comercialização do material genético da raça superou pela
primeira vez a do boi nelore, cujas vendas cresceram 5% desde 2009.
Isso não significa que o mercado é ruim para criadores de outras
raças, de acordo com Sebastião Guedes, vice-presidente do Conselho
Nacional da Pecuária de Corte. O preço da arroba do boi gordo anda
em alta e chegou a bater recorde histórico em abril deste ano (R$
150,36).
Além disso, os criadores de nelore já têm 50% de um negócio
promissor: o cruzamento da raça com o angus.
Como o angus vem de países frios, há dificuldade para adaptá-lo ao
clima quente de pastos tradicionais brasileiros como os do
Centro-Oeste.
"Com o cruzamento, você consegue combinar as características de
qualidade, maciez, suculência e sabor do angus com a precocidade e a
resistência do nelore, adaptado ao nosso clima", explica Fernando
Cardoso, pesquisador de genética da Embrapa (Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária).
O primeiro touro angus chegou ao Brasil em 1906, mas o consumo
massivo da carne só começou há dez anos, quando foi criado o
programa de certificação.
CLASSIFICAÇÃO — De acordo com gerente nacional do programa de carne
angus, Fábio Medeiros, para emitir o certificado a associação
acompanha o abate e analisa a idade, o percentual de gordura e a
maciez da carne. É preciso que o boi tenha pelo menos 50% de sangue
da raça europeia para ser classificado como angus.
Hoje, há mais de 5.000 produtores no país, em oito Estados, de norte
a sul: RS, SC, PR, SP, MT, MS, MG e PA.
O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo e começou a
abastecer o mercado externo também com angus em novembro, vendendo
para a Alemanha e a Holanda.
O angus é a única carne bovina criada e vendida pelo frigorífico
VPJ. A empresa, diz o dono Valdomiro Poliselli Jr., fechará o ano
com crescimento de 30% em relação a 2014 e começará a vender para a
Espanha no primeiro semestre de 2016. "Nossa carne é competitiva em
qualquer lugar do mundo", diz.
Mercado não é problema para os pecuaristas. "A gente mal consegue
atender a demanda interna", completa José Roberto Weber.
Exportação de gado vivo cai 64%
em 2015
As vendas de animais bovinos vivos despencaram em 2015. Os dados de
janeiro a novembro do Ministério do Desenvolvimento indicam
exportações de apenas 192,5 mil animais, um recuo de 64% em relação
à média de igual período dos três anos imediatamente anteriores.
A sangria do número de bois exportados refletiu também nas receitas
obtidas com as exportações. Nos nove primeiros meses de 2015, as
vendas externas de boi em pé renderam 182,6 milhões, 70% menos do
que os US$ 608,2 milhões de igual período de 2014.
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