terça-feira, 29 de dezembro de 2015





Abate de bois angus, de carne mais cara, cresce 21% em 2015




Gado da raça angus


A crise econômica ainda não chegou aos criadores do boi angus. A carne, considerada nobre, caiu nas graças do consumidor brasileiro e ganha cada vez mais mercado, mesmo sendo mais cara que a convencional.
A estimativa da Associação Brasileira de Angus é fechar 2015 com um abate de 400 mil cabeças do gado, um aumento de 21% em relação a 2014 e de 167% desde 2010.
Outras raças não acompanharam o crescimento. Dados do Ministério da Agricultura mostram que o abate total de gado em 2015 caiu 9% de janeiro a novembro em comparação com o mesmo período de 2014.
"O pessoal que consome nosso produto não foi atingido pela crise", diz o presidente da associação, José Roberto Weber. A carne é vendida tanto para restaurantes de luxo como para o varejo e pode custar 75% a mais que a convencional.
Para comparação, um quilo de picanha comum custa entre R$ 38,90 e R$ 46,90 nas principais redes de supermercados de São Paulo. Se o boi for Angus, o preço pode variar de R$ 69,90 a R$ 101.
O mercado do angus, porém, ainda é de nicho, e a raça representa menos de 5% das 212 milhões de cabeças de gado do país, segundo a associação. A maior parte dos bois brasileiros (cerca de 80%) é da raça nelore.

ORIGEM — O angus vem do norte da Europa e, entre os diferenciais de sua carne, estão o marmoreio (gordura entremeada na carne que melhora o sabor) e a maciez (tem menos fibra, porque os bois são abatidos mais jovens, com até 30 meses, ante 42 meses das raças comuns).
A venda de doses de sêmen da raça, usadas para fertilização, cresceu 180,6% desde 2009, chegando a 3,7 milhões de unidades em 2014. Em 2013, a comercialização do material genético da raça superou pela primeira vez a do boi nelore, cujas vendas cresceram 5% desde 2009.
Isso não significa que o mercado é ruim para criadores de outras raças, de acordo com Sebastião Guedes, vice-presidente do Conselho Nacional da Pecuária de Corte. O preço da arroba do boi gordo anda em alta e chegou a bater recorde histórico em abril deste ano (R$ 150,36).
Além disso, os criadores de nelore já têm 50% de um negócio promissor: o cruzamento da raça com o angus.
Como o angus vem de países frios, há dificuldade para adaptá-lo ao clima quente de pastos tradicionais brasileiros como os do Centro-Oeste.
"Com o cruzamento, você consegue combinar as características de qualidade, maciez, suculência e sabor do angus com a precocidade e a resistência do nelore, adaptado ao nosso clima", explica Fernando Cardoso, pesquisador de genética da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
O primeiro touro angus chegou ao Brasil em 1906, mas o consumo massivo da carne só começou há dez anos, quando foi criado o programa de certificação.

CLASSIFICAÇÃO — De acordo com gerente nacional do programa de carne angus, Fábio Medeiros, para emitir o certificado a associação acompanha o abate e analisa a idade, o percentual de gordura e a maciez da carne. É preciso que o boi tenha pelo menos 50% de sangue da raça europeia para ser classificado como angus.
Hoje, há mais de 5.000 produtores no país, em oito Estados, de norte a sul: RS, SC, PR, SP, MT, MS, MG e PA.
O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo e começou a abastecer o mercado externo também com angus em novembro, vendendo para a Alemanha e a Holanda.
O angus é a única carne bovina criada e vendida pelo frigorífico VPJ. A empresa, diz o dono Valdomiro Poliselli Jr., fechará o ano com crescimento de 30% em relação a 2014 e começará a vender para a Espanha no primeiro semestre de 2016. "Nossa carne é competitiva em qualquer lugar do mundo", diz.
Mercado não é problema para os pecuaristas. "A gente mal consegue atender a demanda interna", completa José Roberto Weber.


Exportação de gado vivo cai 64% em 2015


As vendas de animais bovinos vivos despencaram em 2015. Os dados de janeiro a novembro do Ministério do Desenvolvimento indicam exportações de apenas 192,5 mil animais, um recuo de 64% em relação à média de igual período dos três anos imediatamente anteriores.
A sangria do número de bois exportados refletiu também nas receitas obtidas com as exportações. Nos nove primeiros meses de 2015, as vendas externas de boi em pé renderam 182,6 milhões, 70% menos do que os US$ 608,2 milhões de igual período de 2014.






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