Analistas temem guinada na política
econômica com novo ministro da Fazenda e mostram preocupação com a
capacidade de o governo conseguir reequilibrar as contas
O novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa |
A grande preocupação dos analistas do mercado financeiro que
participaram de conferência hoje (21.dez.2015) com o novo ministro da
Fazenda, Nelson Barbosa, foi com a capacidade de o governo conseguir
reequilibrar as contas e reverter o déficit orçamentário atual num
cenário de retração da economia. Os analistas temem que Barbosa faça uma
guinada na política econômica que foi traçada no início do ano e
buscaram ouvir dele mais detalhes da sua proposta.
Uma das incertezas manifestada nas perguntas feitas ao ministro foi com
as receitas necessárias para garantir a meta fiscal de 0,5% do Produto
Interno Bruto. Atingir a meta foi o primeiro compromisso assumido pelo
novo ministro durante a entrevista coletiva que o seu nome foi anunciado
na sexta-feira da semana passada.
Entre as cobranças dos investidores, estava uma base sólida para as
promessas que vem fazendo. O ministro foi questionado sobre como irá
aprovar medidas no Congresso Nacional em meio à crise política e sobre a
meta fiscal do próximo ano, que não foi aprovada nos termos que o
governo pediu ao Congresso. O ministro tentou transmitir confiança.
Barbosa foi firme e disse que é possível tanto o cumprimento da meta de
2016 quanto a aprovação de matérias no Legislativo. O ministro chegou a
citar 2015 como um ano difícil mas com grandes aprovações.
Os analistas também concentraram suas perguntas na busca de mais
informações sobre o compromisso do ministro com reformas, principalmente
a da Previdência. Barbosa reforçou que ela será prioritária, mas não
aprofundou detalhes. Outro ponto abordado foi o da regra do reajuste do
salário mínimo. O mercado teme que o governo mude a regra prejudicando
ainda mais as contas públicas. É que grande parte das despesas do
governo está atrelada à correção do mínimo. Barbosa garantiu que não
haverá mudanças.
Sobre o BNDES, se comprometeu com estratégia do ex-ministro Joaquim Levy
de acabar com os empréstimos do Tesouro Nacional. "Ouvi mais elogios do
que críticas em relação à fala do ministro, mas acho que o ceticismo do
mercado e o estigma de ter sido o contraponto do Levy pesam muito
contra nesse estágio inicial. Vai ter que conquistar a confiança passo a
passo!", disse um economista de um banco estrangeiro que ouviu a
conferência. Para ele, a única "vantagem" para o ministro é que as
expectativas estão muito baixas. "Se conseguirem aprovar uma agenda
fiscal mínima, será visto como grande vitória", disse ele.
AVALIAÇÃO FINAL
O maior temor do mercado, com a nomeação de Nelson Barbosa para o
Ministério da Fazenda, é a perda de um "contraponto" e "anteparo" a
ideias "malucas" ou "extremas" caso a pressão sobre a presidente Dilma
venha a aumentar na busca de fazer a economia voltar a crescer a
qualquer custo.
Esta é a avaliação de analistas e investidores que participaram da
conferência por telefone feita pelo novo ministro da Fazenda nesta
segunda-feira (21.dez.2015), das 12h às 13h, quando voltou a prometer
que o governo não irá abandonar o ajuste fiscal e irá propor reformas
estruturais, como a da Previdência, adiantando inclusive que deve ser
proposta uma idade mínima para aposentadoria.
Segundo analistas e investidores, o discurso de Nelson Barbosa foi
"correto", "seguro" e "coerente" com a promessa de manter a busca pelo
reequilíbrio das contas.
O problema, dizem, é que, agora, com a saída de Joaquim Levy, o governo
passa a não contar mais com uma voz na equipe econômica para servir de
"contraponto e anteparo" a propostas que lembrem o modelo adotado no
primeiro mandato da presidente Dilma.
Um investidor destacou que, agora, restou a dupla Dilma Rousseff e
Nelson Barbosa, duas pessoas que pensam de forma muito semelhante sobre
política econômica, adeptas da filosofia da importância do Estado como
indutor do crescimento econômico.
Na avaliação de analistas, Nelson Barbosa ficará sempre sob suspeita.
MERCADO APONTA ALTA NA SELIC EM JANEIRO
Taxa básica de juro deve subir até 15,25% e sofrer corte em dezembro de 2016
Os economistas consultados pelo BC (Banco Central) para o Boletim Focus
apostam em aumento da Selic na primeira reunião do Copom (Comitê de
Política Monetária). A projeção aponta alta de 0,50 pp (ponto
percentual), alcançando 14,75%.
As cinco instituições financeiras que mais acertam projeções no Boletim
Focus, as chamadas Top 5, que apostavam em aumento de 0,25 ponto na
semana passada também passaram a prever alta de 0,50 ponto em janeiro.
A revisão para a perspectiva de juros acontece após número pior que o
esperado para a inflação parcial de dezembro, resultando em maior
expectativa para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo)
neste e no próximo ano.
De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), a inflação acelerou de 0,85% em novembro para 1,18% em
dezembro, na maior taxa para o mês desde 2002.
O Boletim Focus revisou as expectativas de inflação em 2015 de 10,61%
para 10,70%. Com a inércia inflacionária maior, a perspectiva para a
inflação em 2016 foi revisada de 6,80% para 6,87%.
As recentes declarações do presidente do BC, Alexandre Tombini,
contribuem para a expectativa de alta nos juros do próximo ano.
Recentemente, Tombini afirmou que o atraso do ajuste das contas públicas
contribui para que a inflação continue resistente e a convergência para
a meta fosse postergada para 2017.
O presidente do BC reforçou que fará o que for necessário para domar a
inflação e trazê-la de volta para dentro da meta em 2016.
Mais altas — A taxa de juros deve ter duas novas elevações de
0,25 ponto nas reuniões de março e abril, para 15,25%, patamar que deve
ser mantido até o encontro de dezembro do Copom, quando a Selic deve ser
cortada em 0,50 ponto, para 14,75%, segundo a mediana de projeções do
Focus.
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