quinta-feira, 31 de dezembro de 2015




Governo diz ter pago  R$ 72,4 bilhões para quitar pedaladas fiscais — pagamento tem impacto na dívida pública e no resultado primário de 2015 — governo não quer deixar brechas que possam ser usadas no processo de impeachment no Congresso



Dilma Rousseff anda de bicicleta ao redor do Palácio da Alvorada


O Tesouro Nacional anunciou o balanço do pagamento de todo o passivo das pedaladas fiscais — os atrasos nos repasses da União aos bancos públicos para cobrir despesas com subsídios e programas sociais, ou seja, as instituições bancavam os pagamentos e, só depois, o Tesouro entregava o dinheiro a elas — e que foram objeto de condenação pelo TCU (Tribunal de Contas da União).
No total, o governo quitou, R$ 72,4 bilhões. Desse valor, R$ 55,8 bilhões em subsídios e subvenções empurrados de exercícios anteriores serão abatidos da meta [a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) prevê a possibilidade de abatimento na meta fiscal de 2015 de R$ 57 bilhões das "pedaladas" fiscais] e R$ 16,8 bilhões em obrigações que vencem em 2015 devem ser incluídos como despesa primária, dentro da previsão de déficit primário de 2015.
Embora também estejam sob questionamento do TCU, os R$ 16,6 bilhões pagos em 2015 não são considerados pelo governo como "pedaladas", e sim como passivos a serem pagos aos bancos já inclusos na programação orçamentária.
A procuradoria do TCU, no entanto, diz que o governo continuou praticando pedaladas em 2015 e seu questionamento ainda será julgado pelo tribunal.
Com o pagamento de R$ 72,4 bilhões , segundo o governo, todo o estoque das pedaladas foi zerado.
— Foram pagos todos os passivos devidos, seja os relacionados ao levantamento no acórdão do TCU, sejam as despesas ocorridas ao longo do ano referentes a 2015 — afirmou o secretário interino do Tesouro Nacional, Otávio Ladeira.
O pagamento das pedaladas que será abatido da meta é inferior ao previsto pela União e autorizado pelo Orçamento votado no Congresso, de R$ 57 bilhões. Ladeira explicou que o valor final será menor porque, no momento em que o governo fez a contabilidade, identificou que o passivo era inferior.
— No momento em que fomos pagando as despesas, percebemos que o valor era menor do que o originalmente estimado.
A maior parte das pedaladas, R$ 70,9 bilhões, serão pagos com recursos da conta única (que reúne excedente de orçamentos anteriores), sem necessidade de emissões de novos títulos para o pagamento. Desses, R$ 21,1 bilhões sairão do colchão da dívida (recursos de títulos emitidos anteriormente e que não foram necessários para rolagem da dívida).
A exceção é um passivo de R$ 1,5 bilhão com o Banco do Brasil, que exigirá uma nova emissão direta para a instituição financeira, por conta de uma característica da dívida. Segundo Ladeira, essa emissão vai ocorrer ainda dentro de 2015. Todos valores são referentes a tudo que foi apurado até 30 de junho de 2015, uma vez que, tradicionalmente, as apurações do que é devido aos bancos pela União acontecem semestralmente.






2016
O governo avalia que, com os pagamentos, está virando uma página nos questionamentos sobre as pedaladas fiscais, aliviando o orçamento de 2016.
Para o ano que vem o governo prevê um pagamento de cerca de R$ 20 bilhões em subsídios, sendo R$7 bilhões a R$ 8 bilhões para o PSI, programa de financiamento de investimentos do BNDES.
Segundo Ladeira, os novos pagamentos devidos, em 2016, serão feitos de acordo com os prazos previstos nos contratos. "A periodicidade será aquela determinada nos contratos, pagaremos tempestivamente todas as despesas ", afirmou.
No caso do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do BNDES, a Fazenda editou portaria determinando que o pagamento seja feito seis meses depois de os valores terem sido lançados no balanço do banco.
Durante a entrevista coletiva, o secretário foi questionado sobre que valores dos R$ 72,4 bilhões pagos das pedaladas neste ano teriam sido destinados para o Bolsa Família, como disse a presidente Dilma Rousseff. Ladeira disse não saber responder.

DÍVIDA
O pagamento dos passivos vai aumentar, na mesma proporção, a dívida pública. O custo para o governo desta operação vai depender, segundo o Tesouro Nacional, do momento em que o Banco Central decidir emitir títulos públicos para retirar da economia os reais que estão sendo usado para fazer o pagamento das pedaladas.
Ladeira explica que o pagamento impactará diretamente o resultado fiscal, a dívida bruta e a dívida líquida. No caso em que serão utilizados recursos da conta única, como um montante muito grande de dinheiro voltará para os bancos, a liquidez aumenta, ou seja, há muito dinheiro na economia que precisará ser enxugado pelo Banco Central por meio de operações compromissadas [o BC precisará vender papéis no mercado], o que impacta a dívida bruta. Além disso, o pagamento realizado por meio de emissão de novos títulos pelo Tesouro Nacional [a emissão direta de R$ 1,5 bilhão para o Banco do Brasil] impacta também e altera a trajetória da dívida pública federal.
— O impacto na dívida pública é de R$ 55,8 bilhões em dezembro. Os gastos de R$ 16,8 bilhões já foram incorporados.

DETALHAMENTO
O Tesouro Nacional detalhou os valores contabilizados de passivos relativos às chamadas "pedaladas fiscais" junto ao Banco do Brasil, BNDES, FGTS e Caixa.
Um total de R$ 12,2 bilhões contabilizados se referem ao passivo da União junto ao FGTS, sendo a totalidade correspondente a datas anteriores ao fim de 2014. Outros R$ 10,5 bilhões são relativos a adiantamentos concedidos pelo FGTS à União, com R$ 9 bilhões até 2014 e R$ 1,5 bilhão de 2015.
Para o BNDES, foram calculados R$ 30 bilhões relativos a valores devidos pelo Tesouro Nacional a título de equalização de taxa de juros. Desse total, R$ 21,4 bilhões vêm de até 2014 e R$ 8,6 bilhões de 2015.
Foram contabilizados ao Banco do Brasil R$ 18,2 bilhões por equalização de taxas da safra agrícola, além de título e créditos a receber. Do valor, R$ 12,1 bilhões correspondem ao período até o fim de 2014, que trata o TCU, e R$ 6,1 bilhões de 2015.






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