quinta-feira, 10 de dezembro de 2015




Levy diz que 'está fora' se Congresso cortar a zero meta fiscal de 2016 — Ministro admitiu que pode sair do governo se houver mudança na meta de superávit primário para o próximo ano, fixada por ele em 0,7% em PIB — Levy comentou, também, que: reflete a realidade do País, decisão da Moody's de rebaixamento da nota brasileira



O ministro da Fazenda, Joaquim Levy


O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, admitiu na quarta-feira (09.dez.2015) à noite, numa conversa com representantes da Comissão Mista de Orçamento (CMO), que poderá deixar o governo caso seja a proposta, defendida por uma ala do governo, de reduzir a zero a meta de superávit primário para o próximo ano, fixada por ele em 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB). "Se zerar o superávit, estou fora", disse Levy aos presentes ao encontro, realizado no Ministério da Fazenda.
A eventual mudança na meta de economia que o País pretende fazer em 2016 para pagar os juros da dívida pública é um dos pilares da gestão Levy. A previsão do superávit de 0,7% do PIB consta do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que pode ir à votação a partir da próxima terça-feira, 15.dez.2015, dia em que haverá sessão plenária do Congresso.
O líder do governo na Comissão Mista de Orçamento (CMO), deputado Paulo Pimenta (PT-RS), garantiu que apresentará uma emenda para ser votada em plenário a fim de contemplar a chamada "meta zero".
O petista disse que, se for aceita, essa alteração — na parte da União referente ao superávit (0,55% do PIB) — permitirá a liberação de R$ 34 bilhões em recursos. Desse total, R$ 24 bilhões serviriam para bancar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e outros R$ 10 bilhões para impedir um eventual corte nesse valor do Bolsa Família. Essa é a intenção do relator-geral do Orçamento de 2016, deputado Ricardo Barros (PP-PR), para fechar as contas.
Revelada na semana passada, a intenção do líder do governo na CMO conta com o respaldo de parte dos integrantes da comissão e com apoio do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, defensor de uma meta fiscal mais flexível para o próximo ano. O senador Walter Pinheiro (PT-BA), integrante da CMO, disse que no governo "todo mundo" é a favor de uma meta menor no próximo ano, menos o ministro da Fazenda.
Pinheiro e outros senadores da base aliada, como Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Eunício Oliveira (PMDB-CE), líder do partido na Casa, também se mostram favoráveis a um meta fiscal "factível". A avaliação é que pode ser difícil cumprir o superávit de 0,7% do PIB diante dos déficits do ano passado e deste ano.
Outrora defensor da "meta zero", o senador Romero Jucá (PMDB-RR) desistiu de apresentar uma emenda com esse teor. Duas semanas atrás ele contou ter comunicado aos ministros da Fazenda e do Planejamento sua intenção. Mas admitiu hoje que recuou diante do apelo de Levy, de quem é um conselheiro frequente. "O apelo do Levy sempre cala fundo no meu coração, mesmo quando eu discordo dele", afirmou Jucá.
A presidente da CMO, senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), é contra qualquer redução da meta fiscal. Para ela, uma mudança nesse sentido acabaria com o esforço que o governo tem feito para recuperar o equilíbrio econômico. Ela disse que, se a medida for aprovada, o País certamente será rebaixado por uma segunda agência de classificação de risco, com graves consequências para a economia brasileira.
Em setembro, logo após o governo ter mandado ao Congresso um orçamento para o próximo ano com um déficit de 0,5% do PIB, a Standard & Poor's retirou o selo de bom pagador do Brasil. Procurada desde a manhã de quinta-feira (10.dez.2015), a assessoria do ministro Levy não respondeu até a publicação dessa reportagem.


Ministro comenta a decisão da Moody's de rebaixamento da nota brasileira


O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou na quinta-feira (10.dez.2015), que a decisão da Moody's de ameaçar retirar o selo de bom pagador do Brasil em breve reflete a atual situação do país e defendeu que é preciso ter união para fazer reformas.
"A questão do rebaixamento reflete a realidade. Se você não se organiza, não tem união e o resultado é sério", afirmou ele ao ser questionado por jornalistas, acrescentando: "O governo não está achando normal ter isso".
O ministro fez ainda uma comparação com o futebol.  "Tem que trabalhar e tentar voltar para a divisão que você acha que pertence", apontou. Antes, Levy destacou que "ao invés de discutirmos downgrade, temos que discutir upgrade, para sermos um país 'A'."
Na véspera, a Moody's deixou o país mais perto de perder o selo de bom pagador pela segunda grande agência de classificação de riscos ao colocar o rating "Baa3" em revisão para rebaixamento.
A agência explicou que a revisão, que significa normalmente que uma ação pode acontecer em até 90 dias, é consequência da paralisia política, em meio ao processo de abertura de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, e deterioração das condições macroeconômicas e fiscais do país.
Levy destacou ainda que as metas econômicas do Brasil, que enfrenta quadro de retração e inflação de dois dígitos com juros elevados, são influenciadas por fatores externos, "inclusive políticos".
Dívida. O ministro participou de evento da Febraban ao lado do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Em discurso, Levy ainda ressaltou que é importante entender que o Brasil tem segurança em relação à sua dívida e que, se não fossem as dificuldades de cunho político, as condições de dívida externa estariam melhores.
"A dívida do Tesouro é de médio e longo prazo", disse Levy.
Ele ainda defendeu a reforma da Previdência Social e a necessidade de encontrar uma fonte de receita para atingir o equilíbrio fiscal.
"É preciso ação de curto prazo para encontrar uma fonte de receita específica para criar uma ponte para chegarmos à estabilidade fiscal", disse ele.






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