Nelson Barbosa vai substituir Joaquim
Levy no Ministério da Fazenda — troca de comando representa uma nova
linha na política econômica, que deve ter um tom mais desenvolvimentista
— ex-ministro Joaquim Levy critica atuação do governo em relação ao
ajuste fiscal e afirma ter feito sua parte
O novo ministro da Fazenda Nelson Barbosa era titular do Planejamento |
O economista Nelson Barbosa é o novo ministro da Fazenda. Barbosa era
titular do Planejamento e assumirá o cargo no lugar de Joaquim Levy, que
estava muito desgastado no governo. A troca de comando na Fazenda
também representa uma nova linha na política econômica, que deve ter um
tom mais desenvolvimentista. O atual ministro da Controladoria Geral da
União (CGU), Valdir Simão, será transferido para o Planejamento.
A presidente Dilma Rousseff pretendia manter Levy até janeiro de 2016,
mas as últimas declarações e despedidas públicas do ministro
precipitaram a saída. Além disso, ela se irritou com uma entrevista que
Levy deu com críticas ao governo.
"O governo só fala do fiscal. Por quê? Eu não sei. Nunca entendi. Parece
que tem medo de reforma, não quer nenhuma reforma", reclamou Levy, na
entrevista. "Meu caminho é de paz interior. Estou tranquilo", insistiu
ele.
Levy e Barbosa tiveram vários embates no governo sobre tamanho da meta
fiscal e déficit primário no Orçamento. O ministro da Fazenda chegou a
reclamar com Dilma de que estava isolado no governo e por isso tinha
dificuldades para aprovar as medidas do ajuste fiscal.
O ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse que conseguiu evitar 'pedaladas' |
No que dependia de nós, fizemos o que foi proposto, diz Levy
De saída do governo, o ministro da Fazenda Joaquim Levy enviou na
sexta-feira, 18.dez.2015, uma mensagem de fim de ano a jornalistas na
qual faz uma crítica à atuação do País no esforço fiscal, ao mesmo tempo
que afirma ter feito sua parte no ajuste que propôs.
Ao longo do ano, medidas de aperto fiscal propostas por Levy acabaram
modificadas e abrandadas pelo Congresso Nacional. "Em alguma medida, a
falta de maior sinalização de disposição mais imediata de esforço fiscal
por parte do Estado brasileiro também piorou as expectativas dos
agentes econômicos, inibindo decisões de investimento e consumo, com
reflexos negativos no nível da atividade econômica e na geração de
empregos, que poderão se estender por 2016", disse o ministro.
"Eu e minha equipe fizemos o que foi proposto em janeiro, pelo menos
naquilo que dependia de nós", disse o ministro, ponderando que foi
possível avançar em parceria com outros órgãos do governo e
especialmente com o Congresso. "O tempo saberá mostrar os resultados que
se colherão de tudo que foi feito até agora", afirma.
Levy disse ainda que chega ao fim de 2015 preocupado com a situação do
País, mas mantém confiança na capacidade de recuperação da economia.
"Seria uma injustiça comigo, com minha equipe e com a presidente Dilma
Rousseff achar que o País enfrenta uma recessão pelo fato de termos
proposto e, em alguma medida, já implementado um ajuste fiscal", disse.
O ministro também afirmou que a votação da meta de superávit primário
para 2016 nesta semana traz uma sinalização importante. Ele ponderou que
o cumprimento da meta, aprovada sem a permissão sem abatimentos,
exigirá novas receitas. De acordo com Levy, isso será mais difícil agora
que o governo não conseguiu que as MP 692 e 694, com medidas de ajuste
do imposto de renda, fossem votadas este ano.
Após perder a batalha sobre a meta fiscal do ano que vem, Levy afirmou
que seu "objetivo não é criar constrangimento ao governo, mas é
importante saber quais são as prioridades, até em função das diversas
demandas sobre a presidente e qualquer caminho é em função disso", numa
referência clara ao processo de impeachment que virou prioridade no
Palácio do Planalto e ajudou na decisão presidencial para a redução da
meta fiscal e manutenção do Bolsa Família.
Levy se mostrou descrente com a possibilidade de que a presidente Dilma
Rousseff seja impedida de continuar o mandato. "Acho que a perspectiva
de impeachment é pequena. As pessoas não querem mais incerteza",
afirmou.
De acordo com Levy, é importante diminuir as incertezas no cenário
atual. "As indicações de Brasília têm que ser de mais tranquilidade e
que mostram rumo. Superando a incerteza política, nossa economia vai
reagir muito bem", disse.
O ministro avaliou que a presidente tem bastante conhecimento do
andamento da economia, mas "tem estado envolvida em outro processo que
não tem natureza econômica", em referência ao debate sobre impeachment
travado no Congresso.
Levy falou de suas ações em diversos momentos no passado, como uma
espécie de balanço. Disse considerar muito importante reorganizar a
economia com medidas estruturais e facilitar o pagamento de impostos.
"Essa foi a natureza da nossa ação", afirmou. "Estivemos atentos a todos
os setores, mesmo em momentos de desafio fiscal, respondemos aos
setores para continuar crescendo."
Levy defendeu um esforço maior em relação à inflação no ano que vem, e a
adoção de ações estruturais para melhorar a transição da política
monetária para a economia.
Para ele, a economia brasileira se recuperará de forma rápida. "Temos
que botar o Brasil em uma base mais sólida, em que você tenha expansão
da economia, empresas com vontade de investir e empregar e pessoas com
vontade de fazer planos", afirmou.
O ministro disse que as incertezas políticas levaram à retração da
atividade econômica, mas acredita que elas tenderão a se dissolver nos
próximos meses e permitir a economia voltar. "Apesar de tudo o que está
acontecendo em Brasília, as empresas estão encontrando seu caminho. Na
medida em que tiver clareza e direcionamento, elas vão ter ainda mais
capacidade", afirmou. "Se a quantidade de risco que você consegue
suportar está toda ocupada com o risco de Brasília, sobra pouco para o
risco individual que você vai tomar."
De linha liberal, o ministro defendeu que o papel do governo é "dar
espaço para a economia ter fôlego". "Estamos trabalhando nas reformas
que dão esse tipo de direcionamento", completou.
O ministro destacou ainda que os Estados estão conseguindo superar
desafios fiscais, fazendo esforços e cortando despesas e, apesar dos
problemas listados, o ministro ressaltou que não se deve abrir espaço
para o pessimismo. "Minha convicção é que a economia brasileira tem
capacidade de se recuperar de forma rápida", afirmou.
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