sexta-feira, 18 de dezembro de 2015




Nelson Barbosa vai substituir Joaquim Levy no Ministério da Fazenda — troca de comando representa uma nova linha na política econômica, que deve ter um tom mais desenvolvimentista — ex-ministro Joaquim Levy critica atuação do governo em relação ao ajuste fiscal e afirma ter feito sua parte



O novo ministro da Fazenda Nelson Barbosa era titular do Planejamento


O economista Nelson Barbosa é o novo ministro da Fazenda. Barbosa era titular do Planejamento e assumirá o cargo no lugar de Joaquim Levy, que estava muito desgastado no governo. A troca de comando na Fazenda também representa uma nova linha na política econômica, que deve ter um tom mais desenvolvimentista. O atual ministro da Controladoria Geral da União (CGU), Valdir Simão, será transferido para o Planejamento.
A presidente Dilma Rousseff pretendia manter Levy até janeiro de 2016, mas as últimas declarações e despedidas públicas do ministro precipitaram a saída. Além disso, ela se irritou com uma entrevista que Levy deu com críticas ao governo.
"O governo só fala do fiscal. Por quê? Eu não sei. Nunca entendi. Parece que tem medo de reforma, não quer nenhuma reforma", reclamou Levy, na entrevista. "Meu caminho é de paz interior. Estou tranquilo", insistiu ele.
Levy e Barbosa tiveram vários embates no governo sobre tamanho da meta fiscal e déficit primário no Orçamento. O ministro da Fazenda chegou a reclamar com Dilma de que estava isolado no governo e por isso tinha dificuldades para aprovar as medidas do ajuste fiscal.



O ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse que conseguiu evitar 'pedaladas'


No que dependia de nós, fizemos o que foi proposto, diz Levy


De saída do governo, o ministro da Fazenda Joaquim Levy enviou na sexta-feira, 18.dez.2015, uma mensagem de fim de ano a jornalistas na qual faz uma crítica à atuação do País no esforço fiscal, ao mesmo tempo que afirma ter feito sua parte no ajuste que propôs.
Ao longo do ano, medidas de aperto fiscal propostas por Levy acabaram modificadas e abrandadas pelo Congresso Nacional. "Em alguma medida, a falta de maior sinalização de disposição mais imediata de esforço fiscal por parte do Estado brasileiro também piorou as expectativas dos agentes econômicos, inibindo decisões de investimento e consumo, com reflexos negativos no nível da atividade econômica e na geração de empregos, que poderão se estender por 2016", disse o ministro.
"Eu e minha equipe fizemos o que foi proposto em janeiro, pelo menos naquilo que dependia de nós", disse o ministro, ponderando que foi possível avançar em parceria com outros órgãos do governo e especialmente com o Congresso. "O tempo saberá mostrar os resultados que se colherão de tudo que foi feito até agora", afirma.
Levy disse ainda que chega ao fim de 2015 preocupado com a situação do País, mas mantém confiança na capacidade de recuperação da economia. "Seria uma injustiça comigo, com minha equipe e com a presidente Dilma Rousseff achar que o País enfrenta uma recessão pelo fato de termos proposto e, em alguma medida, já implementado um ajuste fiscal", disse.
O ministro também afirmou que a votação da meta de superávit primário para 2016 nesta semana traz uma sinalização importante. Ele ponderou que o cumprimento da meta, aprovada sem a permissão sem abatimentos, exigirá novas receitas. De acordo com Levy, isso será mais difícil agora que o governo não conseguiu que as MP 692 e 694, com medidas de ajuste do imposto de renda, fossem votadas este ano.
Após perder a batalha sobre a meta fiscal do ano que vem, Levy afirmou que seu "objetivo não é criar constrangimento ao governo, mas é importante saber quais são as prioridades, até em função das diversas demandas sobre a presidente e qualquer caminho é em função disso", numa referência clara ao processo de impeachment que virou prioridade no Palácio do Planalto e ajudou na decisão presidencial para a redução da meta fiscal e manutenção do Bolsa Família.
Levy se mostrou descrente com a possibilidade de que a presidente Dilma Rousseff seja impedida de continuar o mandato. "Acho que a perspectiva de impeachment é pequena. As pessoas não querem mais incerteza", afirmou.
De acordo com Levy, é importante diminuir as incertezas no cenário atual. "As indicações de Brasília têm que ser de mais tranquilidade e que mostram rumo. Superando a incerteza política, nossa economia vai reagir muito bem", disse.
O ministro avaliou que a presidente tem bastante conhecimento do andamento da economia, mas "tem estado envolvida em outro processo que não tem natureza econômica", em referência ao debate sobre impeachment travado no Congresso.
Levy falou de suas ações em diversos momentos no passado, como uma espécie de balanço. Disse considerar muito importante reorganizar a economia com medidas estruturais e facilitar o pagamento de impostos. "Essa foi a natureza da nossa ação", afirmou. "Estivemos atentos a todos os setores, mesmo em momentos de desafio fiscal, respondemos aos setores para continuar crescendo."
Levy defendeu um esforço maior em relação à inflação no ano que vem, e a adoção de ações estruturais para melhorar a transição da política monetária para a economia.
Para ele, a economia brasileira se recuperará de forma rápida. "Temos que botar o Brasil em uma base mais sólida, em que você tenha expansão da economia, empresas com vontade de investir e empregar e pessoas com vontade de fazer planos", afirmou.
O ministro disse que as incertezas políticas levaram à retração da atividade econômica, mas acredita que elas tenderão a se dissolver nos próximos meses e permitir a economia voltar. "Apesar de tudo o que está acontecendo em Brasília, as empresas estão encontrando seu caminho. Na medida em que tiver clareza e direcionamento, elas vão ter ainda mais capacidade", afirmou. "Se a quantidade de risco que você consegue suportar está toda ocupada com o risco de Brasília, sobra pouco para o risco individual que você vai tomar."
De linha liberal, o ministro defendeu que o papel do governo é "dar espaço para a economia ter fôlego". "Estamos trabalhando nas reformas que dão esse tipo de direcionamento", completou.
O ministro destacou ainda que os Estados estão conseguindo superar desafios fiscais, fazendo esforços e cortando despesas e, apesar dos problemas listados, o ministro ressaltou que não se deve abrir espaço para o pessimismo. "Minha convicção é que a economia brasileira tem capacidade de se recuperar de forma rápida", afirmou.






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