Perspectivas 2016: Banco Central está
sem estratégia para juros em 2016 — Depois de sinalizar que poderia
cortar juros no próximo ano, passar a acenar para manutenção em 14,25% e
finalmente deixar a porta aberta para novos aumentos na Selic, o Banco
Central mostra que não tem estratégia para a política monetária em
2016. Perdido entre a recessão e uma inflação fora de controle, o BC
pode tanto baixar a Selic para 11% como subir para 16,25%, apontam
agentes de mercado.
Primeiro esperava-se que o Banco Central cortasse a Selic ainda neste
ano, o que foi descartado pouco tempo depois. Aí o mercado passou a
esperar que ela fosse reduzida em 2016. Projeção que logo foi abandonada
e começou a se estimar que a Selic fosse mantida em 14,25% por todo o
ano de 2016. Agora há quem ache que a taxa de juros deve subir no ano
que vem. Tudo isso aconteceu nos últimos quatro meses.
De fato, nem o Banco Central (BC) definiu ainda os seus próximos passos.
A crise política agravada pela abertura do processo de impeachment
embaralha ainda mais o jogo no Congresso e paralisa o ajuste das contas
do governo, com o qual o BC contava para trazer a inflação para baixo.
Nesse ponto, o governo deixou o BC mais uma vez sozinho na luta contra a
alta dos preços.
Na ausência de uma âncora fiscal, não há muito o que o BC possa fazer para trazer as expectativas de inflação para baixo.
Economistas avaliam que um aumento dos juros neste momento seria a prescrição de uma política errada.
Nas últimas semanas, o quadro fiscal teve dificuldade de chegar a uma
resolução por causa das dificuldades políticas do país, como a discussão
sobre o impeachment de Dilma Rousseff e a eventual cassação de Eduardo
Cunha.
Uma mudança da Presidente da República desencadearia uma troca no
comando do BC, o que poderia, no médio prazo, mudar a orientação dos
membros sobre a política monetária.
Priorizar — O que teremos que ver não é se a presidente Dilma vai
continuar ou não. Independentemente do desfecho do processo de
impeachment, é preciso termos um líder que entenda a necessidade de
priorizar questões fiscais e orçamento.
Balanço de riscos — Existem forças opostas atuando sobre a inflação e o
cenário político conturbado só adiciona mais incertezas sobre essa
balança de riscos. Por conta disso, a maioria do mercado acredita que o
BC vai adotar cautela e manter a Selic no atual patamar de 14,25%. No
entanto, a probabilidade de uma subida dos juros aumentou desde que
alguns diretores do BC votaram pela volta do aperto monetário na última
reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central),
temendo não cumprir as metas de inflação.
“A maioria dos membros do Copom considerou monitorar a evolução do
cenário macroeconômico até sua próxima reunião para, então, definir os
próximos passos na sua estratégia de política monetária”, disse o BC em
sua última ata do Copom.
Nas últimas quatro vezes que o BC usou a expressão “próximos passos” em
sua comunicação, a orientação da política monetária mudou na próxima
reunião. Isso aconteceu em agosto de 2005, março de 2008, março de 2010 e
março de 2013.
Os dados de inflação apresentados sugerem que, apesar do movimento de
alta ser liderado em grande parte pelos preços administrados, os
aumentos de preços são generalizados. Isso pode levar as expectativas de
inflação a subir ainda mais, aumentando a probabilidade de o BC subir a
taxa de juros já no próximo mês.
Segundo dados do Boletim Focus mais recente, a mediana das projeções
para a Selic em 2016 está em 14,25%, mesmo patamar atual. As apostas
variam entre aumento dos juros para 16,25%, nas mais pessimistas, e
corte da Selic para 11%, nas mais otimistas. O país vive uma fase de
incertezas e de inconsistências políticas que torna imprevisível o rumo
da Selic.
Sem o impeachment de Dilma a incerteza econômica continua. Com o
impeachment, a recuperação econômica não será de um dia para o outro. De
qualquer maneira é uma fase de acomodação econômica que vai levar um
certo tempo, de médio a longo prazo.
Mudança — Há dois meses o mercado tinha como certa a queda da Selic em
2016, mas a projeção atual é de, no mínimo, manutenção dos juros em
14,25%. Mas um novo rebaixamento da nota soberana do país pode mudar
esse quadro e levar o BC a elevar os juros.
Citando riscos de paralisia política em meio à piora da economia e nas
contas do governo, a agência de risco Moody's anunciou na quarta-feira
(09.dez.2015) que colocou o rating do Brasil em revisão para possível
rebaixamento.
Dentes trincados — A consultoria econômica LCA avalia que o BC
“trincará” os dentes e manterá a taxa básica de juros estacionada nos
atuais 14,25% ao ano até que tenha confiança de que a inflação tenderá a
ceder para perto do centro da meta (4,5%), o que deverá ocorrer ao
longo de 2017 na ausência de pressões significativas provenientes dos
preços administrados e num contexto de relativa acomodação cambial e
baixo dinamismo da atividade econômica.
"No Brasil, onde a política monetária já está apertada, não esperamos
movimentos nos juros: o nível alto da inflação e das expectativas de
inflação impedem cortes nos juros, ao mesmo tempo em que a recessão
profunda impede aumentos adicionais da taxa básica", afirma
economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn.
Se por um lado as incertezas políticas e fiscais seguem pressionando as
expectativas de inflação, por outro a recessão ajuda a conter os efeitos
secundários da depreciação cambial e dos ajustes de preços
administrados, aponta Goldfajn.
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