quinta-feira, 10 de dezembro de 2015




Perspectivas 2016: Banco Central está sem estratégia para juros em 2016 — Depois de sinalizar que poderia cortar juros no próximo ano, passar a acenar para manutenção em 14,25% e finalmente deixar a porta aberta para novos aumentos na Selic, o Banco Central mostra que não tem estratégia para a política monetária em 2016. Perdido entre a recessão e uma inflação fora de controle, o BC pode tanto baixar a Selic para 11% como subir para 16,25%, apontam agentes de mercado.



Primeiro esperava-se que o Banco Central cortasse a Selic ainda neste ano, o que foi descartado pouco tempo depois. Aí o mercado passou a esperar que ela fosse reduzida em 2016. Projeção que logo foi abandonada e começou a se estimar que a Selic fosse mantida em 14,25% por todo o ano de 2016. Agora há quem ache que a taxa de juros deve subir no ano que vem. Tudo isso aconteceu nos últimos quatro meses.
De fato, nem o Banco Central (BC) definiu ainda os seus próximos passos. A crise política agravada pela abertura do processo de impeachment embaralha ainda mais o jogo no Congresso e paralisa o ajuste das contas do governo, com o qual o BC contava para trazer a inflação para baixo. Nesse ponto, o governo deixou o BC mais uma vez sozinho na luta contra a alta dos preços.
Na ausência de uma âncora fiscal, não há muito o que o BC possa fazer para trazer as expectativas de inflação para baixo.
Economistas avaliam que um aumento dos juros neste momento seria a prescrição de uma política errada.
Nas últimas semanas, o quadro fiscal teve dificuldade de chegar a uma resolução por causa das dificuldades políticas do país, como a discussão sobre o impeachment de Dilma Rousseff e a eventual cassação de Eduardo Cunha.
Uma mudança da Presidente da República desencadearia uma troca no comando do BC, o que poderia, no médio prazo, mudar a orientação dos membros sobre a política monetária.


Priorizar — O que teremos que ver não é se a presidente Dilma vai continuar ou não. Independentemente do desfecho do processo de impeachment, é preciso termos um líder que entenda a necessidade de priorizar questões fiscais e orçamento.


Balanço de riscos — Existem forças opostas atuando sobre a inflação e o cenário político conturbado só adiciona mais incertezas sobre essa balança de riscos. Por conta disso, a maioria do mercado acredita que o BC vai adotar cautela e manter a Selic no atual patamar de 14,25%. No entanto, a probabilidade de uma subida dos juros aumentou desde que alguns diretores do BC votaram pela volta do aperto monetário na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), temendo não cumprir as metas de inflação.
“A maioria dos membros do Copom considerou monitorar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião para, então, definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária”, disse o BC em sua última ata do Copom.
Nas últimas quatro vezes que o BC usou a expressão “próximos passos” em sua comunicação, a orientação da política monetária mudou na próxima reunião. Isso aconteceu em agosto de 2005, março de 2008, março de 2010 e março de 2013.
Os dados de inflação apresentados sugerem que, apesar do movimento de alta ser liderado em grande parte pelos preços administrados, os aumentos de preços são generalizados. Isso pode levar as expectativas de inflação a subir ainda mais, aumentando a probabilidade de o BC subir a taxa de juros já no próximo mês.
Segundo dados do Boletim Focus mais recente, a mediana das projeções para a Selic em 2016 está em 14,25%, mesmo patamar atual. As apostas variam entre aumento dos juros para 16,25%, nas mais pessimistas, e corte da Selic para 11%, nas mais otimistas. O país vive uma fase de incertezas e de inconsistências políticas que torna imprevisível o rumo da Selic.
Sem o impeachment de Dilma a incerteza econômica continua. Com o impeachment, a recuperação econômica não será de um dia para o outro. De qualquer maneira é uma fase de acomodação econômica que vai levar um certo tempo, de médio a longo prazo.
Mudança — Há dois meses o mercado tinha como certa a queda da Selic em 2016, mas a projeção atual é de, no mínimo, manutenção dos juros em 14,25%. Mas um novo rebaixamento da nota soberana do país pode mudar esse quadro e levar o BC a elevar os juros.
Citando riscos de paralisia política em meio à piora da economia e nas contas do governo, a agência de risco Moody's anunciou na quarta-feira (09.dez.2015) que colocou o rating do Brasil em revisão para possível rebaixamento.
Dentes trincados — A consultoria econômica LCA avalia que o BC “trincará” os dentes e manterá a taxa básica de juros estacionada nos atuais 14,25% ao ano até que tenha confiança de que a inflação tenderá a ceder para perto do centro da meta (4,5%), o que deverá ocorrer ao longo de 2017 na ausência de pressões significativas provenientes dos preços administrados e num contexto de relativa acomodação cambial e baixo dinamismo da atividade econômica.
"No Brasil, onde a política monetária já está apertada, não esperamos movimentos nos juros: o nível alto da inflação e das expectativas de inflação impedem cortes nos juros, ao mesmo tempo em que a recessão profunda impede aumentos adicionais da taxa básica", afirma economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn.
Se por um lado as incertezas políticas e fiscais seguem pressionando as expectativas de inflação, por outro a recessão ajuda a conter os efeitos secundários da depreciação cambial e dos ajustes de preços administrados, aponta Goldfajn.






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