domingo, 20 de dezembro de 2015




Flora nacional pode ter remédios para cura de vírus como zika — estudos revelam ação de extratos de plantas sobre micro-organismos



Mosquito Aedes Aegypti


Se doenças perigosas como a zika surgem nas florestas, a cura para elas também pode estar lá. Estudos de cientistas brasileiros revelaram que extratos de folhas, flores e frutos da flora nacional têm ação contra flavivírus, a família do zika e do que causa a dengue, e outros arbovírus que provocam surtos no Brasil, como o mayaro.
Para pesquisadores o desenvolvimento de antivirais é um aliado importante contra a epidemia.
Hoje, não existem tratamentos ou vacina específicos contra o zika. Como no caso da dengue, os médicos tratam os sintomas e não a doença.
Há poucos antivirais no mundo, a maioria contra Aids, herpes, hepatites B e C e influenza (gripe). Esses remédios são de desenvolvimento complexo, porque os vírus usam mecanismos das próprias células humanas para se replicar. É difícil combatê-los sem afetar as células e, por isso, a maioria desses medicamentos provoca efeitos colaterais.
Observa-se, porém, que alguns extratos da flora, entre eles substâncias já usadas na medicina tradicional, não têm efeitos tóxicos conhecidos e poderiam ajudar a conter a propagação da doença, enquanto não se desenvolvem vacinas e medicamentos específicos.
A guerra ao mosquito (Aedes aegypti, transmissor do zika) é longa e, enquanto isso, não podemos ficar de braços cruzados. Um antiviral reduziria dores e complicações e poderia, talvez, evitar a transmissão do vírus para o feto.
Grupos de pesquisadores estudam antivirais contra os vírus da dengue há alguns anos. Como o vírus da dengue, o zika também é um flavivírus. Por isso, há a possibilidade de se investigar se compostos já identificados contra a dengue teriam ação sobre o zika.
Um grupo de pesquisadores, do Departamento de Produtos Farmacêuticos da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), identificou ação antidengue num extrato da família dos ipês. Em laboratório, a Distictella elongata se mostrou eficiente em combater o vírus. A planta é um arbusto encontrado em Minas Gerais.
A flora é uma vasta fonte de substâncias de uso farmacológico. Cerca de 50% dos fármacos do mundo são de origem vegetal. Plantas que mostraram ação contra a dengue poderiam, sim, ser testadas contra o zika.
Outro grupo de pesquisadores que destaca o potencial da biodiversidade brasileira é o do Departamento de Química da Universidade Federal de Viçosa (MG). O grupo se prepara ainda para testar um outro tipo de arma contra o vírus zika: moléculas artificiais, desenvolvidas em laboratório contra alvos muito específicos — Os pesquisadores descobriram que um tipo de molécula sintética bloqueia uma proteína específica dos vírus da dengue. A ideia agora é testar no zika para ver se é possível obter resultado semelhante.
Já a equipe de pesquisadores do Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) identificou ação contra o vírus mayaro — outro micro-organismo que pode ser transmitido pelo Aedes — em extratos de folhas da Senna appendiculata, espécie cujo nome popular é fedegoso. Um arbusto apreciado pela beleza das flores e que pode ser encontrado no Rio e numa longa faixa do litoral brasileiro que se estende até Pernambuco.
A mesma equipe também observou ação contra o mayaro na Bauhinia longifolia, um arbusto cujo nome popular é pata-de-vaca.
Estudos revelam a ação de extratos de plantas sobre os micro-organismos, entretanto falta uma política direcionada para o uso da flora. Há extratos muito promissores, porém, para que cheguem à população teria que haver uma política voltada para isso, para acelerar testes de segurança com animais, por exemplo.






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