Flora nacional pode ter remédios
para cura de vírus como zika — estudos revelam ação de
extratos de plantas sobre micro-organismos
Mosquito Aedes Aegypti |
Se doenças perigosas como a zika surgem nas florestas, a cura para
elas também pode estar lá. Estudos de cientistas brasileiros
revelaram que extratos de folhas, flores e frutos da flora nacional
têm ação contra flavivírus, a família do zika e do que causa a
dengue, e outros arbovírus que provocam surtos no Brasil, como o
mayaro.
Para pesquisadores o desenvolvimento de antivirais é um aliado
importante contra a epidemia.
Hoje, não existem tratamentos ou vacina específicos contra o zika.
Como no caso da dengue, os médicos tratam os sintomas e não a
doença.
Há poucos antivirais no mundo, a maioria contra Aids, herpes,
hepatites B e C e influenza (gripe). Esses remédios são de
desenvolvimento complexo, porque os vírus usam mecanismos das
próprias células humanas para se replicar. É difícil combatê-los sem
afetar as células e, por isso, a maioria desses medicamentos provoca
efeitos colaterais.
Observa-se, porém, que alguns extratos da flora, entre eles
substâncias já usadas na medicina tradicional, não têm efeitos
tóxicos conhecidos e poderiam ajudar a conter a propagação da
doença, enquanto não se desenvolvem vacinas e medicamentos
específicos.
A guerra ao mosquito (Aedes aegypti, transmissor do zika) é longa e,
enquanto isso, não podemos ficar de braços cruzados. Um antiviral
reduziria dores e complicações e poderia, talvez, evitar a
transmissão do vírus para o feto.
Grupos de pesquisadores estudam antivirais contra os vírus da dengue
há alguns anos. Como o vírus da dengue, o zika também é um
flavivírus. Por isso, há a possibilidade de se investigar se
compostos já identificados contra a dengue teriam ação sobre o zika.
Um grupo de pesquisadores, do Departamento de Produtos Farmacêuticos
da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), identificou ação antidengue num extrato da família dos ipês.
Em laboratório, a Distictella elongata se mostrou eficiente em
combater o vírus. A planta é um arbusto encontrado em Minas Gerais.
A flora é uma vasta fonte de substâncias de uso farmacológico. Cerca
de 50% dos fármacos do mundo são de origem vegetal. Plantas que
mostraram ação contra a dengue poderiam, sim, ser testadas contra o
zika.
Outro grupo de pesquisadores que destaca o potencial da
biodiversidade brasileira é o do Departamento de Química da
Universidade Federal de Viçosa (MG). O grupo se prepara ainda para
testar um outro tipo de arma contra o vírus zika: moléculas
artificiais, desenvolvidas em laboratório contra alvos muito
específicos — Os pesquisadores descobriram que um tipo de molécula
sintética bloqueia uma proteína específica dos vírus da dengue. A
ideia agora é testar no zika para ver se é possível obter resultado
semelhante.
Já a equipe de pesquisadores do Instituto de Microbiologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) identificou ação
contra o vírus mayaro — outro micro-organismo que pode ser
transmitido pelo Aedes — em extratos de folhas da Senna
appendiculata, espécie cujo nome popular é fedegoso. Um arbusto
apreciado pela beleza das flores e que pode ser encontrado no Rio e
numa longa faixa do litoral brasileiro que se estende até
Pernambuco.
A mesma equipe também observou ação contra o mayaro na Bauhinia
longifolia, um arbusto cujo nome popular é pata-de-vaca.
Estudos revelam a ação de extratos de plantas sobre os
micro-organismos, entretanto falta uma política direcionada para o
uso da flora. Há extratos muito promissores, porém, para que cheguem
à população teria que haver uma política voltada para isso, para
acelerar testes de segurança com animais, por exemplo.
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