quarta-feira, 2 de dezembro de 2015


Desempenho da economia brasileira só não é pior que o da Ucrânia — em ranking de 42 países, PIB do Brasil ocupa a 41ª posição no terceiro trimestre — indicadores projetam deterioração do PIB ainda maior no 4º trimestre






A queda de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre em relação a igual período de 2014 manteve o Brasil na rabeira de um ranking de 42 países elaborado pela Austin Rating. Na penúltima posição (41ª) da lista, entre julho e setembro a economia brasileira teve desempenho menos pior apenas que a da Ucrânia, que convive com uma guerra civil e cujo PIB encolheu 7% no período. Até a Rússia, que além de crise econômica enfrenta embargo de países ocidentais, e no segundo trimestre aparecia na antelanterna do ranking, passou o Brasil no segundo trimestre — seu PIB encolheu 4,1% no trimestre, colocando-a na 40ª posição da lista.
— Nos resultados do acumulado do ano até o terceiro trimestre, o principal destaque negativo, mais uma vez, ficou a cargo dos investimentos (-12,7%), refletindo o ambiente político extremamente conturbado e que afeta diretamente a contínua perda de confiança na economia — observou Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating e responsável pela elaboração do ranking.
O economista cita ainda o consumo das famílias, que representa aproximadamente dois terços da formação do PIB, e foi o pilar do crescimento econômico nos últimos 12 anos, e que neste ano já acumula retração de 3,0%.
A Índia aparece no topo do ranking, com crescimento de 7,4% no PIB do terceiro trimestre ante o o mesmo período de 2014, à frente da China, que mesmo com a desaceleração na atividade doméstica está na segunda posição, com expansão de 6,9% na mesma comparação.
Entre as economias latino americanas, o Peru é o mais bem colocado, com expansão de 2,9% no trimestre passado, na 12ª posição. Com expansão de 2,6%, o México é o 14º, e o Chile, com avanço de 2,2% no PIB, é o 22º.






Os indicadores mais recentes da economia, relativos a outubro, e o agravamento da instabilidade da economia sinalizam que a crise não chegou ao fundo do poço e se agrava neste quarto trimestre.
Surpreendidos por uma retração maior que a esperada entre julho e setembro, analistas afirmam, ainda, que o cenário de deterioração deve se prolongar em 2016.
A atividade não reagiu no início do quarto trimestre e não há "luz no final do túnel" (ou do ano) que mostre reversão dessa tendência.
Dez economistas, pesquisadores e analistas de bancos consultados estimam queda do PIB de até 3,8% neste ano e de 3,5% no próximo. Alguns já falam até em "depressão" econômica.
"Não há ainda indicação de que chegamos ao fundo do poço, infelizmente", diz Maurício Molan, economista-chefe do banco Santander.
"A dívida cresce em ritmo acelerado, há desequilíbrio nas contas públicas. Sem resolver a questão fiscal, não adianta falar em crescimento. As incertezas persistem e impedem a retomada."
Os efeitos da recessão chegam ao mercado de trabalho com força e devem se intensificar nos próximos meses. "São 169 mil empregos destruídos só em outubro. E isso é só o começo. O que está por vir é um baita de um 'ajustaço'", diz o economista Fabio Silveira, diretor de pesquisa econômica da GO Associados.
Para a pesquisadora Silvia Matos, da FGV/Ibre, a queda do PIB no quarto trimestre deste ano deve chegar a 5% na comparação com o mesmo período do ano passado.
"A desaceleração no setor de serviços chama a atenção. O recuo que houve na indústria e na construção civil contamina o comércio e os serviços. São setores intensivos em mão de obra e que dependem do consumo das famílias, que está despencando", diz.
Em relatório, o BNP Paribas diz que as perspectivas para o quarto trimestre são "desoladoras". O banco projeta retração de 3,8% em 2015 — no ano que vem, as condições não são animadoras, diz.
O pessimismo é regra geral entre os analistas. Alberto Ramos, do banco Goldman Sachs, considera que "o que começou como uma recessão puxada pelas necessidades de ajuste está se transformando, agora, em uma depressão econômica clara".
Entre os indicadores que apontam para uma retração prolongada, com desemprego em alta, falências e baixos níveis de investimento e produção — que caracterizariam uma depressão —, ele cita a queda na demanda interna em seis dos últimos oito trimestres e dados negativos de investimentos.
"Essa persistência na queda dos investimentos, há nove trimestres consecutivos, quer dizer que o futuro do país sumiu", diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.
Analistas ressaltam a necessidade de solução para a crise política para que haja melhora na economia.
"Será uma recessão histórica que pode se estender até 2017 se a solução política não aparecer", diz Sergio Vale, da MB Associados.
Projetando o pior cenário para 2016, com queda de 3,5%, os analistas do Credit Suisse dizem que a retomada da confiança de empresários e consumidores é pouco provável no curto prazo.





Nenhum comentário:

Postar um comentário