Instabilidade política deste ano não
dará folga a Dilma em 2016 — ano de 2015 foi marcado por choque do
Estado contra interesses oligárquicos
Dilma Rousseff vai atravessar o primeiro trimestre de 2016 em busca de
algo que não conseguiu durante todo o ano de 2015: estabilidade. Ela
termina o primeiro ano da reeleição como a governante mais rejeitada
pelo eleitorado nos últimos 29 anos, ou seja, desde a redemocratização
do país há 29 anos. Sua taxa de desaprovação é recorde (83%), confirmou o
Ibope na primeira quinzena de dezembro (veja o gráfico abaixo). Muito
além, por exemplo, das avaliações mais negativas registradas pelo
governo José Sarney (1986-1990), que deixou o poder com uma inflação
mensal de 83%.
Dilma já foi alvo de 39 pedidos de impeachment em 245 dias úteis, entre a
posse em janeiro e a última sexta-feira (18.dez.2015). Significa que,
nesse período, a Câmara dos Deputados recebeu um pedido para retirar a
presidente do poder a cada seis dias de funcionamento. Três foram
aceitos, anexados e transformados num único processo, que está em
andamento.
Gráfico mostra variação percentual da avaliação do governo |
O que faz de 2015 um ano singular é o império das instituições no choque
do Estado com interesses de oligarquias expostos nos últimos dois anos a
partir de investigações sobre corrupção na Petrobras — os velhos vícios
nas relações público-privadas já levaram 23 conglomerados empresariais a
significativas perdas patrimoniais, 116 prisões e 75 condenações que
somam mais de 626 anos, inclusive para alguns dos principais acionistas e
executivos.
A consequência institucional foi uma posição de supremacia consolidada
pelo Judiciário em relação ao Executivo e ao Legislativo num cenário
político que faz o calendário de 2015 parecer interminável: a presidente
e o vice encontram-se ameaçados de impeachment e cassação; os
presidentes da Câmara e do Senado ameaçados de perda de mandato e
prisão; quase um terço Congresso está sob investigação no Supremo
Tribunal Federal, e um ex-presidente, Lula, cumpre inédita rotina de
visitas à polícia para depor em inquéritos sobre corrupção durante seus
oito anos de governo.
A névoa de incertezas sobre o ano que vem tem origem na soma do impasse
político aos efeitos depressivos da crise econômica dos últimos 24
meses, quando se acumulou queda de 30% nos investimentos, declínio de
14% na produção industrial e de 14,5% nas vendas no comércio. Na origem
desses desequilíbrios estão atrapalhadas decisões de quem realmente
comanda a economia no governo Dilma Rousseff, ou seja, ela mesma.
No governo e na oposição percebe-se consenso sobre a perspectiva de
agravamento da situação no próximo trimestre, a partir de informações
coletadas no setor privado.
Prevê-se acréscimo de quase um milhão de pessoas no grupo de 8 milhões
de desempregados; inflação estável em dois dígitos; aumento da taxa
básica de juros, e, dificuldades crescentes para refinanciamento da
dívida pública, restringindo a solvência dos governos federal, estaduais
e municipais.
A isso soma-se um processo decisório confuso que estimula a inoperância.
Exemplar foi o caso do Ministério da Saúde em meados do ano, quando se
reduziu em 40% os repasses às prefeituras para serviços de controle do
vetor de doenças como dengue e zika.
Resultado: na sexta-feira (18.dez.2015), a 40 quilômetros do Palácio do
Planalto confirmava-se o primeiro caso de zika, com outras 19 suspeitas.
Dilma vai atravessar 2016 batalhando pelo mandato. Se e quando
conseguir, talvez já não tenha tempo para construir um legado. Corre o
risco de sobreviver na indiferença de um rodapé da História.
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