Dilma altera lei e declara Brizola
como 'herói da pátria' — político gaúcho teve uma atuação importante na
luta contra a ditadura e no período de redemocratização
Brizola com Dilma Rousseff em foto de 1998 |
A presidente Dilma Rousseff alterou uma lei e incluiu o nome de Leonel
Brizola no "Livro dos Heróis da Pátria". A sanção da norma e a homenagem
foram publicadas na terça-feira, 29.dez.2015, no Diário Oficial da
União (DOU).
Brizola é uma das referências políticas de Dilma. Antes de se filiar ao
PT em 2001, a presidente fez parte do PDT, partido que foi fundado pelo
político gaúcho com a abertura política no fim da ditadura militar, nos
anos 1980.
Para nomear Brizola como "herói da pátria", a presidente sancionou uma
lei aprovada pelo Congresso que altera o tempo necessário para que uma
personalidade receba a homenagem de 50 para 10 anos após a morte.
Brizola morreu em 2004, aos 82 anos.
Dilma sancionou a sugestão, feita no projeto que previa a homenagem a
Brizola, de 2013, do então líder do PDT na Câmara, Vieira da Cunha (RS).
Com a inscrição no "Livro", Brizola vai figurar ao lado de outras 31
figuras históricas, como: Tiradentes, Zumbi dos Palmares, Getúlio
Vargas, Chico Mendes, Alberto Santos Dumont e dom Pedro 1º. O "livro",
com páginas de aço, fica exposto no Panteão da Pátria e da Liberdade
Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Brizola teve uma atuação importante na luta contra a ditadura e no
período de redemocratização. Em 1989, ficou em terceiro lugar na disputa
para a Presidência da República, naquela que foi a primeira eleição
direta depois do golpe militar de 1964.
Além de ser governador do Rio Grande do Sul, sua terra natal, Brizola
também esteve à frente do governo do Rio de Janeiro, onde fixou
residência em meados da década de 60. Brizola foi um líder histórico do
trabalhismo brasileiro.
Brizola teve papel histórico determinante na campanha que garantiu a
posse do então vice-presidente João Goulart, seu cunhado, em 1961, e
exilou-se quando o golpe de 1964 o derrubou. Firmou-se como liderança de
esquerda e ficou em terceiro lugar na primeira disputa
pós-redemocratização, em 1989.
Em 1998, Brizola foi vice da chapa do então candidato do PT Luiz Inácio
Lula da Silva. A dupla perdeu a eleição para Fernando Henrique Cardozo.
Depois disso, entrou em progressivo ostracismo político à sombra do
petista. Em 2002, o PDT fez parte da base aliada que levou Lula ao
poder, mas Brizola sempre se manteve crítico ao governo petista.
Leonel de Moura Brizola |
BRIZOLISTA
Dilma fez sua carreira política associada ao PDT — só filiou-se ao PT em
2001, entrando para o primeiro governo Lula como ministra das Minas e
Energia em 2003. Ideologicamente, sempre foi vista mais como brizolista,
defendendo um ideário nacional-desenvolvimentista na área econômica, ou
seja, de forte intervenção estatal.
Tanto é assim que sempre que querem criticar a presidente, dirigentes do
PT lembram a falta de identificação histórica dela com a sigla. O
simbólico Ministério do Trabalho é feudo do PDT, e o neto de Brizola
chegou a ser titular da pasta sob Dilma por um breve período no seu
primeiro mandato.
Quando Brizola morreu, em 21 de junho de 2004, Dilma era ministra das
Minas e Energia. Na ocasião, disse que ele teve um papel de destaque na
vida social e política do país, "especialmente no movimento da
legalidade e no processo de redemocratização".
"A sua trajetória política é parte indissociável da história do Brasil", disse a então ministra.
O líder trabalhista Leonel Brizola e Luiz Inácio Lula da Silva participam de comício na praça da Sé, em São Paulo, em 1987 |
CRONOLOGIA
- 22.jan.1922 — Nasce, na vila de Cruzinha, então Passo Fundo (RS), Leonel de Moura Brizola, filho do lavrador José Brizola e de Oniva de Moura
- 1945 — Começa a cursar engenharia na Universidade do Rio Grande do Sul. Em agosto, ajuda a fundar o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) gaúcho
- 19.jan.1947 — É eleito deputado estadual pelo PTB
- 1º.mar.1950 — Casa-se com Neusa Goulart, irmã do deputado estadual João Goulart. Getúlio Vargas é padrinho do casamento
- 3.out.1954 — É eleito deputado federal
- 3.out.1955 — Vence a eleição para prefeito de Porto Alegre
- 3.out.1958 — É eleito governador do Rio Grande do Sul
- 25.ago.1961 — Jânio Quadros renuncia à Presidência enquanto o vice-presidente, João Goulart, está na China. Ministros militares não admitem a posse de Jango. Brizola comanda, então, a campanha da legalidade, que pretende garantir a posse de Jango
- 7.out.1962 — Brizola é eleito deputado federal agora pelo Estado da Guanabara
- 31.mar.1964 — João Goulart é deposto. Brizola tenta organizar a resistência armada, mas o presidente, contrário à idéia, parte para o exílio no Uruguai. Brizola é cassado e tem seus direitos políticos suspensos
- 15.mai.1964 — Brizola foge para o Uruguai, de avião, vestindo uma farda de soldado da Brigada Militar e supostamente levando consigo a faixa presidencial usada por João Goulart
- 1967 — Brizola teria feito acordo com Fidel Castro para a implantação de movimentos guerrilheiros no Brasil, financiados por Cuba. A ajuda cubana teria chegado a US$ 1 milhão
- 1978 —Muda-se para Portugal, onde inicia contatos com socialistas e socialdemocratas. Participa de encontro da Internacional Socialista na Alemanha
- 6.set.1979 — Após 15 anos no exílio, Brizola retorna ao Brasil
- 12.mai.1980 — Depois de trabalhar pela reorganização do PTB, Brizola perde o direito sobre a sigla para o grupo de Ivete Vargas
- 25.mai.1980 — É criado o PDT (Partido Democrático Trabalhista)
- 15.nov.1982 — É eleito governador em eleição marcada por acusações de fraude, no episódio conhecido com escândalo da Proconsult
- 15.nov.1989 —Recebe mais de 11 milhões de votos mas fica em terceiro lugar na eleição presidencial. Apóia Lula no segundo turno contra Collor
- 3.out.1990 — É eleito governador do Rio de Janeiro no primeiro turno
- 1992 — Demora a aderir à campanha pelo impeachment de Collor depois de posicionar-se contra à criação da CPI do caso PC Farias
- 7.abr.1993 — Neusa Goulart Brizola morre aos 71 anos
- 15.mar.1994 — Após Brizola ganhar direito de resposta contra a Rede Globo, Cid Moreira lê, no "Jornal Nacional", texto em que Brizola afirma que "tudo na Globo é tendencioso e manipulado"
- Abr.1994 — Brizola deixa o governo do Rio de Janeiro para candidatar-se a Presidente a República
- 3.out.1994 — Fica em quinto lugar na eleição presidencial, com pouco mais de 3% dos votos
- Jan.1998 —PT e PDT fecham aliança para a eleição, com Brizola como candidato a vice-presidente
- 4.out.1998 — Lula e Brizola são derrotados no primeiro turno da eleição
- 1º.out.2000 — Perde a eleição para a prefeitura do Rio
- 6.out.2002 — Tenta se eleger senador, mas fica em sexto lugar
- 21.mar.2003 — Reeleito presidente nacional do PDT, Brizola afirma a independência do partido em relação ao governo Lula
- 28.out.2003 — É indicado presidente de honra da Internacional Socialista durante o 22º congresso da entidade, em São Paulo
- 12.dez.2003 —O PDT rompe com o governo Lula e deixa a base aliada
- 21.jun.2004 —Morre no Rio, aos 82 anos
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