Brasil pode perder até 2,2 milhões de vagas formais de emprego em 2016
O Brasil pode perder até 2,2 milhões de vagas com carteira assinada
neste ano que começa e o emprego só deve começar a reagir em 2018, na
opinião de especialistas em mercado de trabalho.
Sem a retomada da economia, com a inflação corroendo o poder de compra
das famílias e as empresas se reestruturando, o desemprego — mais
concentrado em 2015 no setor industrial e na construção civil — deve
agora atingir com intensidade o setor de serviços e o comércio.
O trabalhador com carteira assinada deve ser o mais afetado, segundo
analistas, que já veem espaço para o avanço da informalidade nas
contratações. Os mais otimistas preveem ao menos 800 mil vagas
eliminadas.
Na análise dos mais pessimistas — os que acreditam que o PIB vai
encolher 3% —, o Brasil vai perder de 2 milhões a 2,2 milhões de
empregos com registro em carteira.
E há ainda quem diga que até 2017 termine com 100 mil postos de trabalho a menos.
EFEITO RETARDADO
"O mercado de trabalho sente os efeitos da fraca atividade com defasagem
de até um ano. Os problemas de 2015 terão desdobramentos mais adiante",
diz Fábio Romão, da LCA Consultores.
Os dados mais recentes mostram que, de janeiro a novembro de 2015, foram
destruídos 945 mil vagas formais — revertendo a tendência de alta
verificada de 2002 a 2014.
A indústria concentrou 44% da perda, seguida pela construção civil.
Comércio e serviços juntos responderam por 30% das vagas fechadas.
"Daqui para frente, o enfraquecimento será onde ainda há gordura para
cortar: no comércio e no setor de serviços. A indústria brasileira já
regrediu oito anos — voltou ao mesmo nível da crise de 2008. Pode ainda
haver perda no setor industrial? Pode, mas não com a mesma magnitude já
vista", diz Fabio Silveira, diretor de pesquisa econômica da GO
Associados.
Serviços ligados ao consumo das famílias (alimentação, educação, lazer e
turismo) e os prestados às empresas (transporte, logística e
armazenagem) devem ser os mais afetados. O mesmo vale para o comércio,
que depende diretamente do bolso do consumidor.
Para o diretor da GO, a taxa de desemprego na média anual sobe para 10%
em 2016, se considerada a pesquisa mensal de emprego (PME) do IBGE. "São
três pontos percentuais acima da taxa média de 2015 (7,1%). Em 2017, o
desemprego começa a ceder, mas pouco. A previsão é a taxa média ficar no
patamar de 9%", diz Silveira.
O ritmo de fechamento de postos de trabalho neste ano deve ser
semelhante ao de 2015, diz o economista Fábio Romão. "Em 2016, o Brasil
deve perder 1,46 milhão de vagas, sendo que a maior parte deve ser
fechada no primeiro trimestre."
MAIS PROCURA
O desemprego deve continuar subindo em 2016 e 2017, diz Romão, mesmo
considerando retrações do PIB menores do que a prevista para 2015
(-3,6%).
"Deve haver geração de vagas em 2017. Mas, como será um ano de saída de
crise, a busca por emprego vai pressionar o mercado de trabalho. A
ocupação cresce em ritmo menor que a população economicamente ativa",
afirma.
Levando em conta o desemprego medido pela Pnad contínua (indicador do
IBGE que substituiu a pesquisa anterior, realizada apenas nas principais
regiões metropolitanas do país), a taxa passa de 8,7% na média de 2015
para 13,5% em 2017, segundo a LCA. Na medida antiga (PME), iria de 6,9%
para 9,5%.
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