Estudo diz que ação no câmbio pode
não ser eficaz — levantamento foi divulgado pelo Banco Central, mas não
reflete necessariamente a opinião da instituição
BC perdeu quase R$ 90 bi com operações para tentar conter disparada do dólar |
Um dia depois de apresentar a perda de quase R$ 90 bilhões com
intervenções no câmbio em 2015, o Banco Central liberou um estudo sobre
os efeitos práticos dessas operações. O resultado é que não há provas de
que o chamado swap cambial (intervenção no mercado equivalente à venda
de dólares no mercado futuro) reduza a volatilidade da cotação do dólar
no curto prazo. “Não há evidências concretas de que a atuação do BC
contribui de maneira clara para a redução da volatilidade cambial no
curto prazo”, trouxe o documento.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, repete à exaustão que o
regime de câmbio no Brasil é flutuante e as atuações do BC no mercado
não têm o objetivo de conter a alta do dólar, mas de diminuir as
oscilações bruscas das cotações em momentos de maior tensão. O discurso
foi repetido no fim do ano em audiência no Senado em resposta a críticas
de parlamentares às intervenções do BC.
O estudo "Efeitos das Intervenções Cambiais sobre a Taxa de Câmbio
Futura no Brasil" é de autoria do funcionário do BC Marcio Magalhães
Janot e de Leonardo Peixoto Macedo, do banco BBM. O BC diz que os
trabalhos para discussão representam as opiniões dos autores e não
refletem, necessariamente, a visão do banco.
“Podemos concluir que o BC tem capacidade de afetar as condições do
mercado e o sentimento dos participantes quando as intervenções são
realizadas surpreendendo o mercado e com tamanho adequado, ou seja,
intervenções muito grandes ou muito pequenas podem não ter o efeito
esperado”, escreveram os pesquisadores.
Eles ressaltaram que ainda é preciso abordar em trabalhos futuros se as
condições do mercado no momento das intervenções do BC influenciam a
eficácia dessas operações. Se intervenções que ocorrem em horário de
elevado volume de negócios tendem a causar mais impacto no mercado de
câmbio.
Janot e Macedo também chegaram a quatro outras conclusões. A primeira é a
de que as intervenções, quando feitas de maneira inesperada, causam
impacto no nível da taxa de câmbio mais fortemente do que as
intervenções antecipadas, e de maneira persistente.
Outras conclusões: não há evidências de antecipação do mercado em
relação às intervenções não anunciadas; as intervenções parecem ser uma
resposta do BC a um determinado movimento da taxa de câmbio (compras de
dólar ocorrem após um período de apreciação do real e vendas de dólar
ocorrem após um período de depreciação do real). Por fim, os autores
também avaliaram que o tamanho das intervenções afeta a amplitude dos
impactos, mas que essa relação não é linear.
De agosto de 2013 até 31 de março de 2014, o BC ofereceu ao mercado o
que ficou conhecido como “ração diária” nas operações de swap. Nos
últimos meses, com exceções, o banco apenas rolou esses contratos.
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