sábado, 9 de janeiro de 2016




Cerveró revela propina para eleição de Jaques Wagner em 2006 — ex-diretor da Petrobrás revelou à Procuradoria-Geral da República repasse de 'um grande aporte de recursos' para a campanha do petista - atual ministro-chefe da Casa Civil - ao governo da Bahia — documento com declarações do delator foi apreendido no gabinete do senador Delcídio Amaral



O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner


Documento apreendido no gabinete do senador Delcídio Amaral (PT/MS), ex-líder do governo no Senado, atribui ao ex-diretor da área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró a revelação de que o ministro-chefe da Casa Civil do governo Dilma, Jaques Wagner (PT), recebeu ‘um grande aporte de recursos’ para sua campanha ao governo da Bahia em 2006. Segundo Cerveró, o dinheiro teria sido desviado da Petrobrás e ‘dirigido’ pelo então presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli.
Jaques Wagner foi eleito governador baiano naquele ano e reeleito em 2010. Em outubro de 2015, ele assumiu a chefia da Casa Civil de Dilma, deixando o Ministério da Defesa.
O documento é um resumo das informações que Cerveró prestou à Procuradoria-Geral da República antes de fechar seu acordo de delação premiada.












Os papeis foram apreendidos no dia 25 de novembro, quando Delcídio foi preso sob acusação de tramar contra a Operação Lava Jato. O senador, que continua detido em Brasília, temia a delação de Cerveró.
Os investigadores querem saber como o petista teve acesso ao conteúdo da colaboração do ex-diretor da Petrobrás. Em sua delação, Cerveró falou de Delcídio e também do ministro da Casa Civil.
“Na campanha para o governo do Estado da Bahia, em 2006, houve um grande aporte de recursos para o candidato do PT, Jaques Wagner, dirigida por Gabrielli. Nessa época, o presidente Gabrielli decidiu realocar a parte operacional da parte financeira para Salvador, sem haver nenhuma justificativa, pois havia espaço para referida área no Rio de Janeiro”, informou o ex-diretor. “Para tanto, foi construído um grande prédio em Salvador, onde atualmente é o setor financeiro da Petrobrás.”
Ouvido pela reportagem, o ex-presidente da Petrobrás afirmou categoricamente. “Nunca soube de utilização de recursos ilegais dos fornecedores da Petrobrás para a campanha do governador Jaques Wagner em 2006 ou em 2010.”
Cerveró relatou como teve ‘conhecimento do fato’. Segundo ele, ‘tal fato era de conhecimento notório de todos os diretores da Petrobrás. O ex-diretor disse que não sabe qual foi a empreiteira que construiu o prédio da estatal, ‘sendo que muito provavelmente foi essa construtora que fez a doação para a campanha de Jaques Wagner’.
“As informações sobre o dinheiro enviado para a campanha de Jaques Wagner em 2006 foram da Ouvidoria Geral Maria Augusta (falecida) e de Armando Tripodi (Bacalhau – Sindicato dos Petroleiros da Bahia) que foi chefe de gabinete de Gabrielli e do qual me tornei amigo. Durante 6 anos”.
Maria Augusta Carneiro Ribeiro morreu em 2009 após um acidente de carro no Rio.
O ex-diretor citou ainda outros nomes em sua delação. “Inclusive a mulher dele Gilze foi nomeada e ficou 3 anos como ouvidora da BR Distribuidora. Grande quantidade de recursos veio das operações de trading que Gabrielli e Dutra controlavam juntos com Manso. Além disso, foi construído o prédio para a área financeira da Petrobrás onde também houve propina para eleição.”



Com a palavra — José Sérgio Gabrielli:
“Repudio, mais uma vez, o método utilizado para obtenção e o conteúdo das acusações levantadas através de vazamentos seletivos de delações premiadas.
Em primeiro lugar, o trecho citado no vazamento da delação, de posse da reportagem e sem que eu tenha tido acesso a ela, fala de pessoas já falecidas, como a ex- Ouvidora Geral da Petrobrás e do meu ex- Chefe de Gabinete, que nega a informação veiculada. É o disse que me disse de alguém, que ouviu falar, que outrem teria feito tal coisa. Nada indica um conhecimento direto sobre a falsa denúncia, seja por parte do delator, seja por parte do jornalista. Nem há uma acusação explícita, até pelo próprio delator, segundo a parte do material a que a reportagem se refere, sobre minha participação direta nos pretensos fatos delatados.
Nunca soube de utilização de recursos ilegais dos fornecedores da Petrobrás para a campanha do governador Jaques Wagner em 2006 ou em 2010.
Não vejo nenhuma consistência na informação de que “operações de trading” seriam de competência da Presidência da Petrobrás. Nunca foram e não são. Desta forma, a pretensa origem dos recursos é absolutamente falsa.
Mais ainda incoerente é seu parágrafo seguinte, sobre a realocação de parte das atividades financeiras e de tributos da Petrobrás para Salvador. Além de ter sido uma operação que reduziu custos da empresa, consolidando suas atividades de pagamentos e de acompanhamento tributário, o Cofip (Centro de Operações da Área Financeira), órgão responsável por estas atividades, inicia suas operações em julho de 2008, portanto dois anos depois das eleições de 2006.
Segundo informativos da imprensa da época:
“A escolha da capital baiana como sede do Cofip também foi resultante de um grande processo de avaliação qualitativa e quantitativa, que começou em 2007, envolvendo diversas pesquisas. Foram analisados os grandes centros brasileiros onde a Companhia tem escritórios da Área Financeira, sendo examinados itens como custo e qualidade de vida, oferta de serviços de educação e saúde e até a disponibilidade de imóveis. A escolha do local buscou, simultaneamente à otimização de custo da empresa, reduzir também o custo de vida dos empregados, mantendo ou melhorando sua qualidade de vida”. (http://www.dci.com.br/financas/petrobras-cria-cofip-para-gerenciar-atividades-financeiras-da-empresa-id163895.html)
Completando a informação:
As reformas do prédio do Cofip foram realizadas pela empresa Civil, que era a proprietária do mesmo, sem que tenha havido qualquer irregularidade do meu conhecimento.
Há uma grande confusão com outro prédio, relacionada à construção da sede da Petrobrás em Salvador, em outro local e em datas completamente diferentes e que deve ter sido inaugurada em 2014 ou 2015. Estou fora da empresa deste fevereiro de 2012.”



Com a palavra — o ministro Jaques Wagner:
“Ministro Jaques Wagner está à disposição do Ministério Público e das autoridades competentes. Ele confia no resultado das investigações. Acredita que o Brasil será um outro país após a apuração das denúncias. Ele não vai comentar o depoimento pois não conhece seus termos na íntegra e dentro do seu real contexto.”



PS.: O prédio construído em Salvador, supostamente citado por Cerveró, foi erguido em contrato de locação firmado em 2010 entre a Petrobras e o Petros, o fundo de pensão dos funcionários da estatal. As empreiteiras OAS e Odebrecht, investigadas na Lava Jato, foram contratadas para a construção da torre.

Após um final de ano em que deixou de respirar por aparelhos, o Palácio do Planalto sentiu o baque de ver alvejado seu principal ministro, símbolo da esperança de renascimento do governo em 2016. A ordem é blindá-lo a todo custo. A exposição do chefe da Casa Civil, espécie de rainha no tabuleiro de xadrez do governo, deixa a presidente Dilma Rousseff ainda mais vulnerável. Um tiro nele pode ser decisivo para um xeque-mate na petista.

A oposição já prepara um requerimento de convocação de Jaques Wagner para depor na CPI dos Fundos de Pensão, presidida por Efraim Filho (DEM-PB), tão logo o Congresso volte a funcionar.

É consenso no governo a percepção de que o conteúdo vazado pode até “constranger”, mas não “compromete” o ministro. “É dever de um governador tentar liberar obras paradas. Não há nada ilegal em pedir doação para campanha”, resume um aliado.

“Na Bahia, nem síndico de prédio se elege sem conversar com OAS e Odebrecht”, diz um defensor do petista.

A menção a Wagner na delação de Cerveró, contudo, foi classificada como preocupante por um interlocutor da presidenta. O novo foco de crise reforça a urgência de uma agenda positiva que se sobreponha ao caso.

Em conversa com Dilma na sexta-feira (08.jan.2016), o chefe da Casa Civil afirmou não conhecer Nestor Cerveró.

Para o Palácio, policiais federais insatisfeitos com o Executivo teriam sido os responsáveis pela divulgação das mensagens envolvendo figuras centrais da Esplanada. A corporação nega qualquer ato nesse sentido.






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