sábado, 16 de janeiro de 2016




Estados Unidos investigam compradores secretos de imóveis de luxo — é a 1ª vez que o governo americano exige que as imobiliárias revelem os nomes de quem se esconde por trás das transações em dinheiro



Nova York


Preocupado com o dinheiro ilícito usado para a aquisição de imóveis de luxo, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos informou que começará a identificar e investigar compradores secretos de propriedades desta categoria.
A iniciativa começará em dois dos principais destinos da riqueza do planeta na nação norte americana: Manhattan e o Condado de Dade, Miami. O departamento vasculhará este lado mais sombrio do mercado imobiliário: as compras em dinheiro vivo realizadas por empresas de fachada, que em geral protegem a identidade dos compradores.
É a primeira vez que o governo federal dos Estados Unidos exige que as imobiliárias revelem os nomes de quem se esconde por trás das transações em dinheiro, medida que seguramente está apavorando o setor, enormemente beneficiado nos últimos anos pelo boom da construção cada vez mais dependente de compradores abastados cuja identidade não é revelada.
A iniciativa faz parte de um programa federal mais abrangente que visa ampliar o foco na lavagem de dinheiro em imóveis. Representantes do Tesouro e da polícia informaram que estão sendo destinadas verbas consideráveis à investigação da venda de imóveis que envolvem companhias de fachada, como empresas de responsabilidade limitada, sociedades e outras entidades.
Segundo acrescentaram, futuras investigações visarão cada vez mais profissionais que assessoram as operações de lavagem de dinheiro, como donos de agências imobiliárias, advogados, banqueiros e agentes especializados na constituição das empresas de responsabilidade limitada.
Os funcionários afirmaram que a nova iniciativa do governo se inspira em parte numa série publicada no ano passado pelo jornal New York Times sobre a utilização cada vez maior de companhias de fachada em razão do aumento da procura por compradores estrangeiros de investimentos seguros nos Estados Unidos. A investigação descobriu que os profissionais do setor imobiliário, principalmente no mercado de luxo, não costumam ter muitas informações a respeito dos compradores. Até o momento, nenhum deles foi obrigado legalmente a coligir estas informações.
A utilização de companhias de fachada no mercado imobiliário é legal, e as empresas de responsabilidade limitada servem a diversas finalidades nada misteriosas. Mas uma funcionária de alto escalão do Tesouro, Jennifer Shasky Calvery, disse que na sua agência houve casos em que residências de vários milhões de dólares funcionavam como cofres de segurança para guardar ganhos obtidos ilegalmente em transações consideradas mais suspeitas ainda pelo uso de companhias de fachada anônimas.
"Estamos preocupados com a possibilidade de que o dinheiro sujo esteja sendo investido em imóveis de luxo", disse Calvery, diretora da Rede de Investigações de Crimes Financeiros, uma unidade do Tesouro que assumiu a iniciativa. "Achamos que o maior risco está nas transações menos transparentes".
O departamento tratará das vendas pagas em dinheiro vivo, realizadas através de companhias de fachada.
O governo exige que as seguradoras, envolvidas praticamente em todas as vendas, descubram a identidade dos compradores e entreguem as informações obtidas ao Tesouro.
O governo inserirá as informações em bancos de dados que então permitirão que sejam aplicadas medidas legais.
O programa do Tesouro apurará transações imobiliárias no valor de bilhões de dólares.
Em Manhattan, os compradores de imóveis no valor de mais de US$ 3 milhões agora são obrigados a informá-las; no Condado de Dade, Miami, exige-se que sejam informadas as vendas superiores a US$ 1 milhão. Em Manhattan, 1.045 transações de imóveis residenciais de mais de US$ 3 milhões, no segundo semestre de 2015, por um valor total de aproximadamente US$ 6,5 bilhões , segundo a PropertyShark, uma empresa de dados sobre o setor imobiliário.
A exigência começará a ser imposta em dois mercados, e vigorará de março a agosto inclusive. Se os funcionários do Tesouro descobrirem que muitas vendas envolveram dinheiro de origem suspeita, disse Calvery, a exigência passará a ter caráter permanente em todo o país.
Um funcionário sênior do FBI, Patrick Fallon, disse que o caráter anônimo das operações favorecido pelas atuais empresas de fachada emperrava as investigações, e a iniciativa do Tesouro agora contribuirá para chegar até o dinheiro ilícito.
"Nosso propósito é encorajar a expansão da iniciativa, não apenas em diferentes áreas geográficas, mas também nos prazos", disse Fallon, diretor da seção de crimes financeiros do FBI. "Achamos que valerá a pena".
Em sua devassa, The Times descobriu que cerca de 50% dos imóveis residenciais no valor de pelo menos US$ 5 milhões são adquiridas por meio de empresas de fachada. Em Manhattan e Los Angeles, a porcentagem é maior ainda.
Em Nova York, The Times analisou as propriedades localizadas num complexo muito famoso de imóveis residenciais perto do Central Park, o Time Warner Center, e descobriu vários proprietários ocultos que haviam sido investigados pelo governo. Entre eles, senadores russos, um ex-governador da Colômbia, um financista britânico e um homem de negócios ligado ao primeiro-ministro da Malásia, atualmente sob investigação.
Na Flórida, The Times descobriu um condomínio em Boca Raton ligado ao ministro da Habitação do México, que recentemente deixou seu posto no gabinete e agora é um dos principais candidatos ao cargo de governador no Estado sulino de Oaxaca.
Calvery disse que o que foi apurado convenceu o Tesouro da necessidade de uma nova investigação dos compradores mais ricos.






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