Para analistas, única saída do Banco
Central contra inflação é subir juros — Copom deve elevar taxa na
próxima reunião, dia 19.jan.2016
Dilema: Banco Central, presidido por Alexandre Tombini, deve iniciar novo ciclo de aperto, apesar de recessão |
A previsão de uma inflação teimosa em 2016 — menor que no ano
passado, mas ainda acima do teto da meta do governo — deve forçar o
Banco Central (BC) a voltar a subir juros. Para economistas, a
autoridade monetária deve agir na primeira reunião do Comitê de
Política Monetária (Copom), comandado pelo presidente do BC,
Alexandre Tombini, marcada para dia 19.jan.2016, e elevar a taxa básica Selic
em 0,5 ponto percentual, para 14,75% ao ano. Como efeito colateral,
a medida pode retrair ainda mais a combalida atividade econômica.
Caso as previsões se confirmem, será o fim de uma trégua de quase
seis meses: os juros estão estáveis em 14,25% desde o fim de julho.
Mais do que conter o consumo, já abalado pela recessão, um novo
ciclo de alta de juros servirá para mostrar ao mercado que o BC está
comprometido com o controle da inflação, explicam os analistas. As
projeções para 2016 estão cada vez mais pessimistas desde meados do
ano passado, reflexo da preocupação com a situação das contas
públicas do país. A mediana das previsões é de que o Índice de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerre 2016 em 7,18%, segundo o
boletim Focus.
— A única coisa a fazer é elevar os juros. Existe uma discussão se
essa alta de fato poderia trazer a inflação para baixo, porque, como
o crédito já está bastante retraído, o principal canal de atuação da
taxa de juros já estaria sendo afetado. Mas a taxa teria uma ação
sobre as expectativas. Acho que é justamente esse o caminho que o BC
vai seguir — afirma Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg
Associados.
Pelas contas de Thais, o IPCA deve fechar 2016 em 8%. Já a Selic
chegaria a 16% ao ano, resultado de uma sequência de elevações que
se prolongaria até julho. A previsão pode mudar, de acordo com o que
o Copom sinalizar nos próximos meses, destaca.
Luis Otavio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, prevê um
ciclo de altas mais curto. Para ele, o Copom aumentará a Selic
agora, em janeiro, e mais uma vez em março, levando a taxa a 15,25%
ao ano. Leal também acredita que a decisão de subir juros terá
efeito psicológico sobre o mercado, principalmente com o temor de
pressões políticas sobre a autoridade monetária:
— Voltaram a surgir vozes dizendo que existe ingerência política
sobre o BC. Esse ruído atrapalha muito a decisão. Mesmo que tenha um
bom motivo para não subir os juros, ele fica numa situação em que,
se não subir, pode ser interpretado como ingerência política. Vai
ser uma reunião difícil.
Já Márcio Milan, economista da Tendências, espera que os juros
subam, mas voltem a cair no fim do ano. Ele prevê altas neste mês e
em março, seguidas por uma estabilidade. E, a partir de outubro,
recuo da taxa básica, que encerraria 2016 em 14,75%:
— A partir do segundo semestre, já se estaria olhando mais para
2017, quando a depressão econômica deve começar a ter mais efeito
para reduzir preços.
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