quarta-feira, 20 de janeiro de 2016





Chile tem maior plantação legal de maconha da América Latina




Iniciativa da Fundação Daya, a plantação chilena deve beneficiar cerca de 4 mil pacientes


COLBÚN, Chile — Uma plantação de 6.900 mudas tem chamado atenção no Chile, após sua inauguração oficial, no início deste ano. O motivo não poderia ser mais nobre e inusitado: trata-se de pés de maconha, cultivados há pouco mais de dois meses para serem usados como medicamento por cerca de 4 mil pessoas que fazem terapias para doenças como epilepsia, câncer e Mal de Parkinson. Esta é a maior plantação da cannabis sativa na América Latina.
O cultivo é feito na zona rural de Colbún, a 270 quilômetros ao Sul de Santiago, capital chilena, bem próximo à Cordilheira dos Andes. Apoiada por 20 municípios do país, a iniciativa foi levada à frente pela Fundação Daya, ONG que busca terapias alternativas para aliviar o sofrimento humano.
A organização espera colher 1,5 milhão de toneladas de ervas de cannabis entre março e maio, sob a supervisão de funcionários do Serviço Agrícola e Pecuário do governo.
— Esta plantação é uma etapa essencial para a plataforma colaborativa que objetiva desenvolver a maconha medicinal. No Chile, estamos na vanguarda dessa questão porque temos a maior safra na América Latina neste momento — disse Ana Maria Gazmuri, presidente da Fundação Daya.
Ela explica que os pacientes que serão beneficiados são moradores de cada uma das 20 cidades envolvidas no projeto.
— Em cada município haverá uma equipe médica que aplicará todos os questionários e perguntas relacionadas com o estudo, entregando, em princípio semanalmente e logo depois quinzenalmente, as doses correspondentes àqueles pacientes que estão participando — afirmou Ana Maria.



Trabalhador faz o manejo das plantas de cannabis sativa na maior plantação da América Latina


PROJETO DE DESCRIMINALIZAÇÃO PATINA NO CONGRESSO CHILENO
Ironicamente, o Chile é conhecido por ser um país conservador. Não à toa, o divórcio permaneceu ilegal até 2004, e o aborto o é até hoje, em qualquer circunstância — mesmo em situações de estupro, feto com anencefalia ou risco de morte para a gestante, três casos em que a legislação brasileira, por exemplo, permite a interrupção da gravidez.
Com relação à maconha, no entanto, o Chile foi o primeiro país latino-americano a autorizar o cultivo da planta para fins medicinais, a partir de um projeto de lei aprovado na cidade de La Florida, em dezembro de 2014. Na ocasião, a iniciativa pretendia atender 200 pacientes de câncer.
Desta vez, a inauguração da plantação na zona rural de Colbún vem num momento em que o Congresso chileno patina na discussão de um projeto de lei para descriminalizar o cultivo de maconha para uso pessoal, tanto medicinal quanto recreativo. Atualmente, a maconha está classificada como droga ilícita, e quem for flagrado cultivando para fins não medicinais ou portando a erva pode ser preso, com penas que vão de cinco a dez anos.
Isso só foi possibilitado porque, desde o mês passado, o país conta com uma legislação que autoriza a elaboração e venda de medicamentos com substâncias derivadas do cânhamo — como a maconha também é conhecida. Tal norma também foi adotada recentemente por nações como Porto Rico e Colômbia.
O cultivo da cannabis em grande escala e para uso terapêutico conta com o apoio técnico da Universidade de Valparaíso, que disponibilizou especialistas para estudarem as plantas. Também participam do projeto o Instituto do Câncer do Chile e hospitais públicos, que farão estudos clínicos com a meta de desenvolver pelo menos três remédios diferentes.
— Claramente, no Chile, estamos vivendo uma mudança nas políticas e na percepção cidadã. Estamos muito satisfeitos de que esta transformação esteja ocorrendo agora, quando o mundo vive um ressurgimento da maconha medicinal — assinala a presidente da Fundação Daya.






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