Boi que engorda mais rápido dá lucro a pecuaristas pelo Brasil
Gado da raça nelore criado no Polo de Pesquisa Alta Mogiana, em Colina, São Paulo |
O lucro que o pecuarista Alaor Ávila Filho tira de cada hectare de sua fazenda em Goiás aumentou dez vezes.
O segredo, diz Ávila, 44 anos, é o boi 777 — um sistema de produção que
reduz de três para dois anos o tempo em que o gado fica pronto para o
abate.
Desenvolvido pela Apta (agência de tecnologia dos agronegócios da
Secretaria de Agricultura paulista), o sistema já é adotado hoje em oito
Estados e se baseia em uma combinação de genética, nutrição e pasto.
O nome é boi 777 porque o ciclo até o abate é dividido em três etapas
nas quais, em cada uma, o animal ganha sete arrobas (105 quilos) de peso
de carcaça (carne e ossos).
A média nacional de produção de gado é de 4 arrobas por hectare/ano, enquanto no novo sistema chega a 20.
Os bezerros já nascem com perspectiva de bom desenvolvimento, pois foram
gerados a partir de vacas de procedência, também suplementadas.
Ao longo do desenvolvimento, o animal recebe doses crescentes de
suplementos, como zinco, potássio e fósforo. Segundo pesquisadores, os
elementos melhoram a saúde bovina e não afetam a carne. "Nada usado é
diferente de um processo mais tardio", diz Fernando Garcia, do
departamento de apoio à produção e saúde animal da faculdade de
veterinária da Unesp de Araçatuba.
O resultado do processo é uma carne mais macia, saborosa e de cor mais
clara, já que o boi é abatido mais cedo. O destino são frigoríficos que
abastecem açougues gourmet, restaurantes finos e o mercado
internacional.
A engorda precoce tem feito com que os abatedouros incentivem a sua adoção.
Gerente de compra do frigorífico Minerva, Fabiano Tito Rosa diz que a
empresa adota, há um ano, um programa de orientação, assistência e
adiantamento de recursos para pecuaristas produzirem animais nos moldes
do 777. O projeto é desenvolvido em parceria com a Apta.
"Alguns mercados exigem animais jovens, por questão de qualidade e
protocolo contra a vaca louca. Preciso de animal de carne com pH baixo,
que não escurece e não endurece", diz ele.
Segundo Rosa, 40 pecuaristas, com 15 mil cabeças de gado, já fazem parte
do programa. O frigorífico exporta 75% de sua produção.
MAIS LUCRO
"Até 30 anos atrás, a terra era barata. Comprava e jogava o animal lá.
Era um salve-se quem puder. O 777 me permitiu ser competitivo com
atividades como cana e soja", disse Ávila Filho, dono da fazenda
Panorâmica do Turvo, em Indiara (GO), que adotou o sistema em 2013.
Seu lucro líquido por hectare atingiu R$ 2.272 no período 2014/15, ou
11,3% do valor do hectare de terra na região. Segundo o fazendeiro, cuja
produção é certificada para exportação, no sistema tradicional o lucro
seria de R$ 200.
Fora os custos de manutenção da propriedade, a estimativa de produtores é
que o gasto até o animal ser abatido chegue a R$ 2.500 no sistema 777,
ante os até R$ 600 da produção convencional.
A rentabilidade, no entanto, compensa, diz Ávila.
Segundo a Apta, o custo maior não torna o sistema inacessível a pequenos
produtores. A agência atende até a pecuaristas que abatem 30 animais
por ano.
Por ser um órgão público, ele fornece informações sem custo e agenda
visitas assistidas. Ao longo deste ano, deve oferecer também cursos.
Desenvolvido desde 2008, o método 777 também traz vantagens ao ambiente,
porque reduz o ciclo de vida do gado no pasto, afirma o pesquisador
Flavio Dutra de Resende, da Apta.
Coordenador de pecuária da Agroconsult, Maurício Palma Nogueira diz que o
sistema está se difundindo num momento propício, já que o lucro dos
pecuaristas tem caído nos últimos 20 anos.
"Na década de 1980, compravam-se até quatro bezerros com o dinheiro de um boi. Agora, dá no máximo dois."
O veterinário Hyberville Neto, da Scot Consultoria, diz que o "novo" boi
precisa de investimentos adicionais, "mas o sistema torna mais
eficientes recursos como terra e mão de obra. Gera mais gado, usa melhor
o curral e reduz a depreciação".
Nenhum comentário:
Postar um comentário