Gráfica sem experiência atendeu à campanha de Dilma e vira alvo no TSE
Sede da Souza & Souza, gráfica contratada pela campanha de Dilma e alvo de investigação no TSE |
A campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição, em 2014, pagou R$
1,7 milhão a uma gráfica que possui uma única máquina e foi fundada em
março daquele ano, cinco meses antes de ser contratada pelo PT.
A empresa Souza & Souza situa-se em um imóvel no Belenzinho (zona
leste de São Paulo), onde fica sua máquina e uma guilhotina para cortar
papéis. Seu dono é um ex-sindicalista e ex-deputado estadual pelo PT.
A gráfica é mais uma a ser alvo de processo no TSE, movido pelo PSDB,
para investigar supostas irregularidades na campanha de Dilma. Para os
autores do pedido, ela pode ter servido para "esquentar" dinheiro
desviado.
Outras duas gráficas que forneceram serviços à campanha da presidente já
são investigadas pela Polícia Federal, conforme se revelou no ano
passado: Focal e VTBP. Ambas também são suspeitas de não terem estrutura
para entregar os materiais para os quais foram contratadas pelo PT.
A Souza & Souza emitiu cinco notas fiscais para a campanha de Dilma,
de R$ 90,5 mil a R$ 670 mil. O dono da empresa é Francisco Carlos de
Souza, conhecido como Chico Gordo, ex-metalúrgico nos anos 1970 e
deputado estadual pelo PT na década seguinte.
Francisco Carlos de Souza afirmou que começou a atuar como vendedor para
empresas do ramo gráfico em 1995. Abriu sua própria gráfica só em 2014.
Ele disse que entregou à campanha de Dilma o material constante das
notas fiscais — 34 milhões de unidades impressas, entre fôlderes,
folhetos e cédulas — e que pode comprovar a compra de matérias-primas,
mas não enviou a comprovação a reportagem.
A reportagem foi autorizada a conhecer a gráfica, mas não pôde
fotografá-la por dentro. Recém-reformado, o local é espaçoso e está
quase todo desocupado, sem sinal de atividade recente — o dono disse que
janeiro é um mês fraco. Na eleição de 2014, a empresa funcionava em
outro local no mesmo bairro.
SUBCONTRATAÇÃO
Inicialmente, o advogado de Souza, Luís Carlos, informou que, para dar
conta da demanda no período da campanha eleitoral, a gráfica
subcontratou outras empresas.
Souza também informou, preliminarmente, que a firma tinha, em 2014, uma segunda máquina, vendida depois.
O empresário e seu advogado solicitaram que a reportagem enviasse
perguntas sobre a gráfica por e-mail e pediram cinco dias para
responder.
Foram questionados os nomes das gráficas subcontratadas e da empresa que
adquiriu a máquina vendida. Passados os cinco dias, o empresário enviou
somente as notas fiscais que emitiu, sem as informações solicitadas.
Para o advogado do PSDB Flávio Henrique Pereira, há indícios que podem
ajudar a configurar crimes como abuso de poder econômico e falsidade
ideológica eleitoral.
"Se ficar demonstrada a incapacidade de produção, significa que houve
emissão de nota de serviço não prestado. Logo, essa nota é fria e o
dinheiro foi desviado para outra finalidade", disse.
OUTRO LADO
O advogado da campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição, Flávio
Crocce Caetano, afirmou, em nota, que a empresa Souza & Souza
prestou os serviços gráficos contratados e foi escolhida no mercado após
ampla seleção, que utilizou como critério o menor preço.
Segundo Caetano, a elaboração e a entrega dos produtos das gráficas
contratadas foram rigorosamente auditadas pela própria campanha.
"A documentação comprobatória da elaboração e da entrega de todo
material também foi analisada pelo Tribunal Superior Eleitoral, que
aprovou as contas da chapa Dilma/Temer por unanimidade, com votos
favoráveis dos sete ministros, além de parecer favorável da
Procuradoria-Geral da República", disse.
O dono da gráfica, Francisco Carlos de Souza, afirmou que produziu os
itens encomendados e os entregou a uma transportadora indicada pela
campanha, tendo sido tudo protocolado.
"Temos como comprovar compra de matéria-prima referente aos serviços
prestados. Os impostos de pessoa jurídica e física foram devidamente
declarados", disse.
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