Depois de Levy, presidente do Banco
Central vira alvo de petistas — em busca de discurso para enfrentar a
crise e as eleições deste ano, partido prega guinada na economia e mira
em Tombini
Alexandre Tombini — presidente do BC vira alvo de petistas |
Alvejado pela Operação Lava Jato e sob cerco político, o PT está à
procura de uma alternativa para enfrentar sua mais grave crise, que
ameaça o governo. A aposta para este ano eleitoral reside em uma guinada
na economia, mas, diante da perspectiva de aumento dos juros, petistas
pressionam cada vez mais a presidente Dilma Rousseff por mudanças na
política monetária.
Dirigentes e parlamentares do PT já começam a pregar, nos bastidores, a
saída do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, embora não haja
decisão do partido sobre o assunto. A prova de fogo de Tombini ocorrerá
na primeira reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom),
marcada para as próximas terça e quarta-feira (19 e 20 jan.2016).
Se a taxa básica de juros, hoje em 14,25%, voltar a subir, Tombini
virará uma espécie de “Joaquim Levy” para o PT. Então ministro da
Fazenda, Levy caiu em dezembro e foi substituído por Nelson Barbosa,
após meses de tiroteio do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Para Lula, Levy estava com “prazo de validade vencido” porque “só
falava em ajuste fiscal” e encarava investimentos sociais como gastos
que deveriam ser cortados.
“Se o Banco Central não quiser se adequar, vai repetir o conflito que
houve com Levy”, afirmou o secretário de Formação Política do PT, Carlos
Henrique Árabe. Na avaliação da cúpula petista, mais juros significam
mais desemprego e menos renda, uma combinação explosiva para o governo e
o partido, após o desgaste sofrido com a Lava Jato, que investiga um
esquema de corrupção na Petrobras.
“O Banco Central estará totalmente na contramão do programa que foi
eleito em 2014 se elevar os juros”, insistiu Árabe. “A equipe precisa
marchar no mesmo rumo. Não pode ter uma linha pelo crescimento e outra
pelo desemprego. Como vamos ter uma direção do Banco Central que joga no
aprofundamento da recessão quando o governo quer se voltar para o
crescimento?”
O tema promete esquentar a primeira reunião do ano da Executiva Nacional
do partido, no dia 26, pouco depois da decisão do Banco Central sobre
os juros. “É claro que, diante da persistência da linha conduzida até
agora, a pretexto de combater a inflação, haverá choque não só com o PT,
mas com os movimentos sociais”, argumentou Árabe, que integra a
tendência Mensagem ao Partido, a segunda maior força do PT.
A corrente é liderada pelo ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso
Genro, que pregou a “refundação” do PT em 2005, após o escândalo do
mensalão, e pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
“O governo precisa fazer alguma coisa para baixar os juros porque as
previsões para este ano mostram que a recessão será muito grande”,
afirmou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), da corrente Construindo um
Novo Brasil (CNB), a mesma de Lula, majoritária no PT. “Não dá para a
presidente falar agora só para o mercado. Se não fizer nada,
caminharemos para o abismo.”
Um dia antes da reunião da Executiva do PT, a corrente de Lula promoverá
uma plenária, em Brasília. Na pauta estão as dificuldades previstas nas
eleições deste ano para as Prefeituras, mas dirigentes do partido
disseram que vão abordar as estratégias para enfrentar o que chamam de
“vazamentos seletivos” de delatores da Lava Jato e também as propostas
econômicas.
‘Ousadia’. O presidente do PT, Rui Falcão, não quis se manifestar
sobre o coro que começa a crescer no partido, pedindo mudanças até na
direção do Banco Central, caso a instituição promova novo ciclo de
aperto. Em artigo divulgado em 28 de dezembro, porém, Falcão escreveu
que a gestão de Dilma precisava construir uma pauta econômica para
devolver à população a “confiança perdida após a frustração dos
primeiros atos” de governo e cobrou mais ousadia. “Chega de altas de
juros e de cortes em investimentos”, comentou ele.
No último dia 05.jan.2016, Falcão também participou de jantar com Dilma,
Lula e o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. No encontro, o
ex-presidente aconselhou Dilma a ocupar o “vácuo” do recesso para se
reaproximar da população e “enterrar” o impeachment. No diagnóstico de
Lula, aumentos de juros só se justificariam, e mesmo assim com cautela,
se a economia estivesse aquecida.
“Se a troca do Tombini resolvesse e os juros caíssem, eu até poderia
defender isso, mas não acredito que solucione o problema”, disse
Francisco Rocha, coordenador da tendência Construindo um Novo Brasil.
“Acho que a gente não deve perder o sono com o mercado nem com essa
roleta do cassino.”
Precedentes. Joaquim Levy deixou o Ministério da Fazenda em 18 de
dezembro, após uma série de ataques do PT. Poucas horas antes de sair,
não escondeu o abatimento. “Parece que o governo tem medo de reformas”,
disse. Conhecido como “mãos de tesoura”, Levy foi alvo do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. Para Lula, o então ministro não conseguia
“vender” esperança nem virar a página do ajuste fiscal. A presidente
Dilma chegou a pedir ao PT que não tratasse Levy como “Judas”, mas,
depois, acabou concordando com a saída do titular da Fazenda.
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