quinta-feira, 21 de janeiro de 2016




Após mudança de discurso, Banco Central mantém taxa de juros em 14,25% — diante de uma forte recessão, BC opta por não mexer nos juros apesar dos riscos inflacionários — decisão alimenta avaliação de que a autoridade monetária não tem autonomia



Alexandre Tombini



Numa decisão marcada pela polêmica e desconfiança de ingerência política da presidente Dilma Rousseff, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa de juros em 14,25%. Na primeira reunião do ano, os membros do Copom optaram em não mexer na taxa Selic para não aprofundar a recessão no País, apesar do risco de a inflação fechar este ano mais uma vez acima do teto da meta depois de bater 10,67% em 2015.
A decisão não foi unânime. Seis integrantes voltaram pela manutenção. Os diretores Sidnei Corrêa e Tony Volpon, no entanto, votaram pela alta da Selic para 14,75%. Dividido e sob críticas generalizadas que minaram a ainda mais a sua já baixa credibilidade, o BC evitou uma nova subida da Selic, movimento combatido fortemente pelo PT e até mesmo por economistas considerados mais conservadores, que colocaram em dúvida a eficácia da alta dos juros para derrubar a inflação na atual conjuntura de crise do País.
"Avaliando o cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos, considerando a elevação das incertezas domésticas e, principalmente, externas, o Copom decidiu manter a taxa Selic em 14,25% ", informa o comunicado do BC, divulgado após a reunião. Desde julho, a taxa Selic está no mesmo patamar no atual ciclo de aperto monetário que teve início em abril de 2013.





A manutenção da Selic em 14,25% pela quarta vez consecutiva marca uma reviravolta na estratégia do BC, que até segunda-feira (18.jan.2016) dava todas as sinalizações de que iria usar novamente a arma dos juros para coordenar as expectativas dos agentes econômicos e mostrar que seria capaz de colocar a inflação na trajetória do centro da meta de 4,5% em 2017.
O cenário mudou depois que o presidente do BC, Alexandre Tombini, divulgou na terça-feira (19.jan.2016), poucas horas antes do início da primeira etapa do Copom, comunicado alertando para a piora das previsões para a economia brasileira feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
O informe provocou abalo no mercado e foi interpretado como um sinal de rendição de Tombini às pressões da presidente e uma desculpa para mudar de estratégia na última hora. Essa percepção aumentou na quarta-feira (20.jan.2016) com as declarações do ex-presidente Lula minimizando o risco de inflação em 8% e recomendando ao BC que não subisse os juros, porque "nem os banqueiros querem".
A incerteza foi tamanha que os investidores passaram a incluir até mesmo nas apostas a possibilidade de queda dos juros, o que não ocorreu.
A mudança do Copom alimentou a avaliação de que o BC não tem autonomia e foi vista como adesão do BC ao projeto da presidente de dar uma nova guinada na política econômica junto com o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, para garantir a recuperação mais rápida da economia.
Com a manutenção da Selic na quarta-feira (20.jan.2016), o Brasil segue disparado como maior pagador de juro real (descontada a inflação) do mundo. Nas projeções da Infinity Asset, só um corte da magnitude de 4,5 pontos porcentuais faria com que o Brasil saísse da liderança do ranking.







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