Em propaganda do PT em rede nacional de rádio e TV, presidente faz apelo por governabilidade
'Sei suportar pressões e até injustiças', diz Dilma
Lula diz que problemas econômicos se resolvem com políticas corajosas "e não com oportunismo"
A presidente Dilma Rousseff fez um apelo pela governabilidade no
programa do PT, que foi ao ar, em rede nacional de rádio e TV, dizendo
que "juntos vamos sair desta". Com baixa popularidade, enfrentando
rebelião na base aliada e ameaças de impeachment, Dilma destaca que sabe
enfrentar "pressões e até injustiças". O ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva também admite a gravidade da crise.
Mesmo sem citar diretamente as articulações políticas em curso para
barrar o mandato de Dilma, a propaganda do PT fez referência a esse
movimento, sob o argumento de que é preciso evitar que a crise ameace a
democracia e traga mais sofrimento ao País, como ocorreu na ditadura
militar.
"Estamos em um ano de travessia e essa travessia vai levar o Brasil a um
lugar melhor", diz Dilma no programa de TV. "Quem pensa que nos falta
energia e ideias para vencer os problemas está enganado. Sei suportar
pressões e até injustiças. Eu tenho o ouvido e o coração neste novo
Brasil que não se acomoda, que não se satisfaz com pouco. (...)"
Dirigida pelo marqueteiro João Santana e tendo como âncora o ator José
de Abreu, a propaganda destaca que o governo do PT procurou de todas
maneiras evitar que a crise "arrombasse a porta dos brasileiros" e, se
não acertou em cheio, tentou fazer o "bem".
"Nesse novo Brasil nenhum governo, nenhum governante pode se acomodar.
Muito menos uma pessoa como eu. Sei que muita coisa precisa melhorar
(...), mas juntos vamos sair desta. (...) Estou do lado de vocês. Este é
o meu caminho, por ele seguirei", garante Dilma.
Lula afirma no programa que problemas econômicos se resolvem com
políticas corajosas, "não com oportunismo". O ex-presidente admite que
"a situação não está fácil" e que "a crise já chegou às nossas casas",
mas argumenta que, apesar dos problemas enfrentados atualmente, o Brasil
de hoje é muito melhor.
"Nosso pior momento ainda é melhor para o trabalhador do que o melhor
momento dos governos passados. Nosso maior ajuste ainda é menor do que
os ajustes que eles fizeram", diz o ex-presidente, numa referência aos
governos do PSDB. "É mais fácil chegar a um porto seguro com quem já foi
capaz de enfrentar a crise e fazer o Brasil avançar na tormenta, sempre
protegendo os que mais precisam."
Dilma Rousseff na inserção partidária do PT |
Vacina ao panelaço
Na tentativa de criar uma espécie de vacina ao "panelaço", já esperado
pelo Palácio do Planalto e pelo PT, a propaganda aborda o tema de forma
bem humorada.
"Nos últimos tempos começaram a dar uma nova utilidade às panelas",
ironiza o locutor, ao mesmo tempo em que o filme mostra esses protestos.
"A gente não tem nada contra isso. Só queremos lembrar que fomos o
partido que mais encheu a panela dos brasileiros. Se tem gente que se
encheu de nós, paciência: estamos dispostos a ouvir, corrigir, melhorar.
Mas, com as panelas vamos continuar fazendo o que a gente mais sabe:
enchê-las de comida e de esperança. Esse é o panelaço que gostamos de
fazer pelo Brasil."
Embora de forma mais suave, uma outra versão do "nós contra eles", que
marcou a campanha eleitoral do ano passado, aparece na propaganda de TV.
"Aqui para nós: não é melhor a gente não acertar em cheio, tentando
fazer o bem, do que errar feio, fazendo o mal?"", pergunta o âncora José
de Abreu.
Com dez minutos de duração, o programa exibe fotos do senador Aécio
Neves (MG), presidente do PSDB, e de outros políticos que pregam o
afastamento de Dilma, como os senadores do DEM José Agripino (RN) e
Ronaldo Caiado (GO). Depois de mostrar números referentes a
investimentos e medidas adotadas por Dilma para sair da crise, a
propaganda lança uma indagação: "Será que tumultuar a política traz
solução para a economia?".
Nesse momento, um locutor lembra que a ditadura militar foi resultado de
uma crise política e durou 21 anos. "Não se deixe enganar pelos que só
pensam em si mesmos", diz a voz "em off", enquanto imagens de Aécio,
Caiado, Agripino e também dos deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Paulo
Pereira da Silva (SP), presidente do Solidariedade, passam rapidamente
na tela.
A propaganda vai ao ar menos de 24 horas depois de mais uma derrota do
governo na Câmara, que aprovou Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
reajustando salários de servidores da Advocacia Geral da União (AGU) e
de outras carreiras, medida que provoca impacto de R$ 2,45 bilhões ao
ano.
Com baixa popularidade, Dilma enfrenta a pior crise do governo desde o
primeiro mandato. Rebelada, a base aliada começou a ruir e partidos como
o PDT e o PTB anunciaram a independência do Planalto pouco depois de o
vice-presidente Michel Temer, articulador político do governo, admitir
que o cenário é "dramático".
A investigação da Operação Lava Jato, que desvendou um esquema de
corrupção na Petrobrás, não foi mencionada no programa do PT. Há, porém,
uma referência indireta ao assunto quando o locutor diz que "qualquer
governo, qualquer partido vive bons e maus momentos, comete erros e
acertos".
As palavras "investigação" e "crise" correm na tela, nesse instante, em
recortes de jornais, sobre a imagem sombria de dois homens engravatados,
que sugerem a investigação da Polícia Federal.
Para o presidente do PT, Rui Falcão, os que tentam restringir a crise ao
Brasil querem enfraquecer o governo e tumultuar a política. "Uma coisa é
cobrar e criticar o governo. Outra, bem diferente, é tentar
desestabilizar um governo eleito democraticamente. (...) Aos que não se
conformam com a derrota nas urnas, só pedimos uma coisa: juízo", insiste
Falcão.
Vídeo com o programa do PT
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