quinta-feira, 6 de agosto de 2015


Em propaganda do PT em rede nacional de rádio e TV, presidente faz apelo por governabilidade
'Sei suportar pressões e até injustiças', diz Dilma
Lula diz que problemas econômicos se resolvem com políticas corajosas "e não com oportunismo"

A presidente Dilma Rousseff fez um apelo pela governabilidade no programa do PT, que foi ao ar, em rede nacional de rádio e TV, dizendo que "juntos vamos sair desta". Com baixa popularidade, enfrentando rebelião na base aliada e ameaças de impeachment, Dilma destaca que sabe enfrentar "pressões e até injustiças". O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também admite a gravidade da crise.
Mesmo sem citar diretamente as articulações políticas em curso para barrar o mandato de Dilma, a propaganda do PT fez referência a esse movimento, sob o argumento de que é preciso evitar que a crise ameace a democracia e traga mais sofrimento ao País, como ocorreu na ditadura militar.
"Estamos em um ano de travessia e essa travessia vai levar o Brasil a um lugar melhor", diz Dilma no programa de TV. "Quem pensa que nos falta energia e ideias para vencer os problemas está enganado. Sei suportar pressões e até injustiças. Eu tenho o ouvido e o coração neste novo Brasil que não se acomoda, que não se satisfaz com pouco. (...)"
Dirigida pelo marqueteiro João Santana e tendo como âncora o ator José de Abreu, a propaganda destaca que o governo do PT procurou de todas maneiras evitar que a crise "arrombasse a porta dos brasileiros" e, se não acertou em cheio, tentou fazer o "bem".
"Nesse novo Brasil nenhum governo, nenhum governante pode se acomodar. Muito menos uma pessoa como eu. Sei que muita coisa precisa melhorar (...), mas juntos vamos sair desta. (...) Estou do lado de vocês. Este é o meu caminho, por ele seguirei", garante Dilma.
Lula afirma no programa que problemas econômicos se resolvem com políticas corajosas, "não com oportunismo". O ex-presidente admite que "a situação não está fácil" e que "a crise já chegou às nossas casas", mas argumenta que, apesar dos problemas enfrentados atualmente, o Brasil de hoje é muito melhor.
"Nosso pior momento ainda é melhor para o trabalhador do que o melhor momento dos governos passados. Nosso maior ajuste ainda é menor do que os ajustes que eles fizeram", diz o ex-presidente, numa referência aos governos do PSDB. "É mais fácil chegar a um porto seguro com quem já foi capaz de enfrentar a crise e fazer o Brasil avançar na tormenta, sempre protegendo os que mais precisam."

Dilma Rousseff na inserção partidária do PT

Vacina ao panelaço
Na tentativa de criar uma espécie de vacina ao "panelaço", já esperado pelo Palácio do Planalto e pelo PT, a propaganda aborda o tema de forma bem humorada.
"Nos últimos tempos começaram a dar uma nova utilidade às panelas", ironiza o locutor, ao mesmo tempo em que o filme mostra esses protestos. "A gente não tem nada contra isso. Só queremos lembrar que fomos o partido que mais encheu a panela dos brasileiros. Se tem gente que se encheu de nós, paciência: estamos dispostos a ouvir, corrigir, melhorar. Mas, com as panelas vamos continuar fazendo o que a gente mais sabe: enchê-las de comida e de esperança. Esse é o panelaço que gostamos de fazer pelo Brasil."
Embora de forma mais suave, uma outra versão do "nós contra eles", que marcou a campanha eleitoral do ano passado, aparece na propaganda de TV. "Aqui para nós: não é melhor a gente não acertar em cheio, tentando fazer o bem, do que errar feio, fazendo o mal?"", pergunta o âncora José de Abreu.
Com dez minutos de duração, o programa exibe fotos do senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, e de outros políticos que pregam o afastamento de Dilma, como os senadores do DEM José Agripino (RN) e Ronaldo Caiado (GO). Depois de mostrar números referentes a investimentos e medidas adotadas por Dilma para sair da crise, a propaganda lança uma indagação: "Será que tumultuar a política traz solução para a economia?".
Nesse momento, um locutor lembra que a ditadura militar foi resultado de uma crise política e durou 21 anos. "Não se deixe enganar pelos que só pensam em si mesmos", diz a voz "em off", enquanto imagens de Aécio, Caiado, Agripino e também dos deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Paulo Pereira da Silva (SP), presidente do Solidariedade, passam rapidamente na tela.
A propaganda vai ao ar menos de 24 horas depois de mais uma derrota do governo na Câmara, que aprovou Proposta de Emenda à Constituição (PEC) reajustando salários de servidores da Advocacia Geral da União (AGU) e de outras carreiras, medida que provoca impacto de R$ 2,45 bilhões ao ano.
Com baixa popularidade, Dilma enfrenta a pior crise do governo desde o primeiro mandato. Rebelada, a base aliada começou a ruir e partidos como o PDT e o PTB anunciaram a independência do Planalto pouco depois de o vice-presidente Michel Temer, articulador político do governo, admitir que o cenário é "dramático".
A investigação da Operação Lava Jato, que desvendou um esquema de corrupção na Petrobrás, não foi mencionada no programa do PT. Há, porém, uma referência indireta ao assunto quando o locutor diz que "qualquer  governo, qualquer partido vive bons e maus momentos, comete erros e acertos".
As palavras "investigação" e "crise" correm na tela, nesse instante, em recortes de jornais, sobre a imagem sombria de dois homens engravatados, que sugerem a investigação da Polícia Federal.
Para o presidente do PT, Rui Falcão, os que tentam restringir a crise ao Brasil querem enfraquecer o governo e tumultuar a política. "Uma coisa é cobrar e criticar o governo. Outra, bem diferente, é tentar desestabilizar um governo eleito democraticamente. (...) Aos que não se conformam com a derrota nas urnas, só pedimos uma coisa: juízo", insiste Falcão.


Vídeo com o programa do PT



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