Burocracia trava produtividade das empresas brasileiras
O emaranhado de regras e procedimentos exigidos pela legislação faz com
que as empresas brasileiras gastem, em média, 15 dias a mais do que as
de outros países para exportar um produto. Pior, um estudo do Banco
Mundial mostra que, no Brasil, as empresas perdem, em média, 2.600 horas
para colocar em dia suas contas com o Fisco — três vezes mais que na
Venezuela e 15 vezes mais que na União Europeia. Esses foram dois
exemplos dos danos à competitividade das empresas brasileiras causados
pela profusão e complexidade de leis e regulamentações do país,
discutidos no seminário “As velhas e novas faces da burocracia no
Brasil”, promovido pelo Instituto Millenium e a plataforma UM Brasil, em
parceria com a Federação do Comércio de São Paulo (Fecomercio-SP).
— Fala-se muito em custo da burocracia, mas há o fator tempo (que a
burocracia impõe), que num cenário de juros altos traz ainda mais perdas
à gestão financeira das empresas — disse Maria Alejandra Madi, da
Unicamp.
O ex-embaixador Rubens Barbosa citou o custo Brasil e a sucessão de
medidas equivocadas do governo entre os fatores que roubam a
competitividade. Segundo ele, há 63 medidas de defesa comercial vigentes
atualmente no país, todas pontuais, mas não existem estratégias de
médio e longo prazo para o comércio exterior:
— Vai chegar um momento em que a crise ficará tão pesada que se verá a
necessidade de mudar de rota. O Brasil parece uma ilha isolada (do resto
do mundo) e, sem nos inserirmos no cenário internacional, maior será a
crise.
Sérgio Lazzarini, do Insper, destacou um “capitalismo de laços”, no qual
a forte presença do Estado na economia (seja intervindo como regulador
ou como acionista minoritário em diferentes setores) pode abrir espaço
para a corrupção.
— As empresas privadas acabam se alinhando com o governo, mesmo que não
concordem com esse modelo. Esse alinhamento estratégico invariavelmente
resulta em doações de campanha. Nunca vi uma variável explicar tantas
coisas no Brasil como as doações de campanha — disse Lazarini,
referindo-se aos escândalos em série da Lava-Jato.
O ex-embaixador do Brasil nos EUA Rubens Barbosa participa de debate em São Paulo: “O Brasil parece uma ilha isolada” |
PATRIMONIALISMO ‘MADE IN PORTUGAL’
Nelson Barrizzelli, da USP, lembrou a herança patrimonialista que o país
incorporou desde a vinda da família real portuguesa, em 1808:
— O patrimonialismo ficou impregnado na sociedade brasileira, que se
materializa no suborno ao guarda de trânsito, por exemplo. Isso
combinado com o paternalismo do Estado, que precisa da burocracia para
controlar a sociedade, desemboca numa relação promíscua com os donos do
capital, que não têm interesse ou não trabalham para que a sociedade
seja mais bem administrada.
No painel “Os novos negócios têm vez no Brasil?”, Fernando Veloso,
pesquisador do Ibre, da FGV, destacou as dificuldades para se fazer
negócios no Brasil — o país aparece na 120ª posição num ranking mundial
sobre as condições de negócios numa lista de 140 países.
— Carga tributária, administração de impostos, baixa qualificação de mão
de obra, regras trabalhistas. É muito complicado sair da atual
situação, porque não há uma única reforma que vá resolver os problemas
de todos os setores da economia. Não é uma questão meramente técnica. O
país precisa de uma estratégia, elaborar um processo para melhorar as
condições gradualmente, como a Colômbia a partir da segunda metade da
década passada.
O diretor-presidente do Insper, Marcos Lisboa, lembrou que o Brasil, nos
últimos anos, lançou medidas de subvenção a projetos de inovação (com
ações como a Lei do Bem e o programa Brasil Maior, entre outros), mas
avançou pouco:
—Temos uma tradição antiga de proteção da produção local, desde Vargas
(o ex-presidente Getulio Vargas) se escolheu uma política de
desenvolvimento local: fecha-se a economia, o governo direciona os
subsídios e controla-se os preços interferindo-se no setor produtivo.
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