Para FMI: recessão brasileira em 2015
e 2016 é a pior do mundo; em 2017 Brasil ficará estagnado e só voltará a
crescer a partir de 2018
O cenário não poderia ser pior para o Brasil. As novas perspectivas
globais do Panorama Econômico Mundial (WEO, na sigla em inglês), do
Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgadas na manhã de terça-feira
(19.jan.2016), indicam que a economia do país se retraiu em 3,8% em 2015
e deverá sofrer outra queda de atividade, de 3,5%, neste ano. O FMI
ainda afirma que o país terá crescimento zero em 2017, ou seja, a tão
esperada retomada ficaria para 2018. Na previsão de outubro, a
expectativa era de recessão de 3% em 2015 e de nova queda de 1% neste
ano.
Assim, o Brasil tem as piores perspectivas entre as nações destacadas
pelo Fundo, superando a Rússia, que até a previsão de outubro tinha
piores previsões para 2015 — por causa dos problemas econômicos após o
embargo com a incorporação da Crimeia e sentindo fortemente a queda do
preço do petróleo. O Brasil é apontado pelo Fundo como um dos
responsáveis pela redução da expectativa de crescimento global para os
dois anos. Segundo o FMI, depois de ter um crescimento de 3,4% em 2014, a
economia global avançou 3,1% em 2015 e terá expansão de 3,4% neste ano e
de 3,6% em 2017 — os valores de 2016 e de 2017 foram cortados, cada um,
em 0,2 ponto percentual, na comparação com as expectativas de outubro.
“Sobre a composição dos países, as revisões podem ser atribuídas
principalmente ao Brasil, cuja recessão (causada pela incerteza política
em meio ao rescaldo da ininterruptas investigações da Petrobras) está
se demonstrando ser mais profunda e prolongada que o esperado”, afirma o
documento que afirma que toda a América Latina também apresentará
recessão em 2016, “apesar do crescimento positivo na maioria dos países
da região. Isso reflete a recessão do Brasil e de outros países em
dificuldades econômicas”, conclui o documento.
Após a divulgação do documento do FMI, o presidente do Banco Central,
Alexandre Tombini, disse, por meio de nota, que considera significativas
as revisões para baixo das projeções econômicas para o Brasil e que
todas as informações são consideradas nas decisões do Copom.
"O presidente Tombini ressalta que todas as informações econômicas
relevantes e disponíveis até a reunião do Copom são consideradas nas
decisões do colegiado", segundo comunicado do BC, no primeiro dia de
reuniões para decidir sobre a Selic.
O FMI estima que o crescimento global será mais gradual que o previsto
anteriormente. O Fundo acredita que as economia avançadas continuarão a
viver “uma recuperação moderada e desigual”, enquanto os países
emergentes terão panorama variado, embora sempre com desafios. Entre
eles a desaceleração da economia chinesa — que cresceu 6,9% em 2015, a
menor taxa em 25 anos —, a queda dos preços das matérias primas e
“tensões” que encontram algumas grandes economia emergentes. O documento
prevê que o preço do petróleo, que caiu 47,1% em dólar em 2015, deva
retroceder mais 17,6% neste ano.
“Em 2015, a atividade econômica internacional se manteve atenuada.
Apesar de ainda gerarem mais de 70% do crescimento mundial, as economias
de mercados emergentes e em desenvolvimento se desaceleraram pelo
quinto ano consecutivo”, informou o documento, que também listou como
desafios para este ano a queda do preço da energia e o endurecimento da
política monetária dos Estados Unidos, que começou a elevar seus juros.
Sobre a desaceleração chinesa, o documento afirma que ela ocorre dentro
do esperado, mas que a queda mais brusca e rápida que o esperado das
importações do país asiático, por causa do abrandamento dos
investimentos industriais, juntamente com dúvidas sobre o desempenho
futuro da China, “está contagiando outras economias através dos canais
comerciais e da queda do preço da matéria prima, assim como diante de
uma menor confiança e uma piora na volatilidade dos mercados
financeiros”.
O economista-chefe do FMI, Maurice Obstfeld, afirmou na terça-feira
(19.jan.2016) em Londres que os mercados financeiros globais parecem
estar reagindo de maneira exagerada à queda dos preços do petróleo e à
China:
— Não é um exagero sugerir que (os mercados) podem estar reagindo de
maneira muito forte às pequenas evidências em um ambiente de
volatilidade e aversão a risco.
O Fundo também apontou quatro fatores de risco que podem piorar suas
previsões: uma desaceleração mais forte que o previsto do crescimento
chinês, dificuldade de empresas endividadas em dólar com a valorização
da moeda americana, aumento exacerbado de aversão ao risco e aumento das
tensões geopolíticas, que poderiam afetar o fluxo comercial, financeiro
e de turismo no mundo.
PS.: Apesar da sede pela
manutenção dos juros no patamar atual, o governo detestou a nota de
Alexandre Tombini, presidente do BC, considerando “significativas” as
novas projeções de crescimento do FMI sobre a economia brasileira.
“Tombini quebrou a liturgia do silêncio na véspera da reunião do Copom”, reclamou um auxiliar presidencial.