Universidades federais repudiam 'corte de verba' para programa de pós-graduação
Redução de repasses, que chega a 75%, leva instituições a paralisar cursos — Capes fala em readequação de recursos
Universidades públicas de todo país manifestaram repúdio ao que chamaram
de “corte” na ordem de 75% no Programa de Apoio à Pós-Graduação
(Proap), mantido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes), instituição do Ministério da Educação (MEC)
responsável por financiar programas de mestrado e doutorado. De acordo
com as instituições, a restrição do recurso compromete o desenvolvimento
de pesquisas em todo país.
A verba do Proap é destinada ao custeio de passagens para que
professores de outras instituições examinem bancas de mestrado e
doutorado, bem como para alunos e professores participarem de
congressos. Além disso, o recurso também é utilizado para financiar a
tradução de artigos e a manutenção de equipamentos. A Capes emitiu um
comunicado às instituições de ensino orientando à “readequação” dos
valores de custeio do Proap para o ano de 2015, o que foi interpretado
pelas universidades como um corte.
— A Capes não está reconhecendo que houve corte, mas, quando orienta à
redução de 75% dos custos, entendemos que sim, houve. Em julho você pede
que os programas reorganizem suas planilhas de funcionamento? Isso
significa um corte notificado sem qualquer diálogo prévio. É muito
problemático porque impossibilita a mobilidade dos pesquisadores —
criticou a presidente da Associação Nacional de Pós-graduandos, Tamara
Naiz, acrescentando que a redução na concessão de recursos pode
interferir nas pesquisas — O corte pode afetar o desenvolvimento das
pesquisas, porque você pode não ter verba para fazer viagens para um
determinado laboratório ou, por exemplo, visitar uma área que tenha um
tipo específico de planta que você está pesquisando.
A restrição imposta pela Capes acontece em um momento de crise nas principais Universidades Federais do país.
O corte se torna mais grave “quando inserido no quadro mais geral de
cortes orçamentários das Federais”. Assim as universidades pedem que a
Capes volte atrás na decisão para que não comprometa “o futuro da
pós-graduação e da pesquisa brasileira”.
FEDERAL DA BAHIA PARALISA PÓS
Diante desse quadro, a Universidade Federal da Bahia (UFBA) comunicou a
suspensão das atividades de seu programa de Pós-Graduação. De acordo com
a instituição, com os novos cálculos da Capes, a UFBA teve os valores
de custeio — que antes chegavam aos R$ 4 milhões — reduzidos para cerca
de R$ 1 milhão, quantia insuficiente para pagar as dívidas já assumidas
pela universidade que chegam a R$ 2 milhões.
Em nota, a UFBA afirmou que a decisão da Capes foi anunciada tardiamente
em um momento em que as instituições já haviam assumido compromissos e
que um caso como este jamais havia sido visto na história recente da
pós-graduação brasileira. O comunicado finaliza sugerindo que, a exemplo
do que aconteceu com a Federal da Bahia, a interrupção de atividades
deve ocorrer em instituições de todo Brasil: “Por estas razões a
implementação desta medida levará à paralisação, de fato, da atividade
de pós-graduação na maioria das universidades do país.”
Universidade Federal da Bahia decidiu paralisar sua pós-graduação depois
do anúncio de cortes na ordem de 75% no Proap — UFBA perdeu quase R$3 milhões |
NOVOS REPASSES SERÃO 'AVALIADOS'
A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino
Superior (Andifes) enviou um ofício ao ministro da Educação, Renato
Janine Ribeiro, afirmando que é “inaceitável ”que estes programas,
pilares para a pesquisa, ciência, tecnologia e inovação, sejam tão
fortemente comprometidos no seu financiamento.”
No final de junho, outro programa já havia tido as verbas ameaçadas. O
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) — que
ajuda na formação prática dos universitários que serão futuros
professores — chegou a estar na mira dos cortes segundo um e-mail
repassado a professores universitários por Hélder Silveira, coordenador
geral de Programas de Valorização do Magistério da Capes. Segundo a
mensagem, o ajuste fiscal do governo havia chegado à fundação. O
coordenador contou que um corte de R$785 milhões havia sido imposto à
Capes o que iria afetar os projetos mantidos pela instituição,
inclusive, as bolsas em vigência. Na ocasião, a Capes afirmou que não
haveria interrupção de programas ou contingenciamento.
Em nota, a Capes confirmou o contingenciamento. De acordo com a
fundação, serão liberados recursos de custeio de 25% do que foi previsto
para o ano de 2015. O restante será avaliado ao longo do segundo
semestre. A Capes frisou que bolsas de estudo não serão interrompidas.
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