Laudo relaciona consultoria de José Dirceu à propina na Petrobrás
Perícia da Polícia Federal concluída há
10 dias associa empresa de ex-ministro da Casa Civil com desvios e
lavagem de dinheiro nas obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco
Ex-ministro José Dirceu citado em laudo da PF dentro de grupo de lavagem de dinheiro em obra de refinaria |
A Polícia Federal incluiu a JD Assessoria e Consultoria, do ex-ministro
da Casa Civil José Dirceu, em um grupo de 31 empresas ”suspeitas de
promoverem operações de lavagem de dinheiro” em contratos das obras da
Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco - construção iniciada em
2007, que deveria custar R$ 4 bilhões e consumiu mais de R$ 23 bilhões
da Petrobrás.
O documento é o primeiro de uma série de perícias técnicas da Polícia
Federal que apontam um percentual de desvios na Petrobrás de até 20% do
valor de contratos. O percentual é superior aos 3% apontados até aqui
nas investigações da Operação Lava Jato, que incluía apenas da propina
dos agentes públicos e políticos.
“Foi identificada movimentação financeira da ordem de R$ 71,4 milhões,
tendo como origem Construções e Comércio Camargo Corrêa S/A e como
destino as seguintes empresas, suspeitas de operarem lavagem de
dinheiro: Costa Global Consultoria e Participações, JD Assessoria e
Consultoria; Treviso do Brasil Empreendimentos e Piemonte
Empreendimentos”, registra o laudo 1342/2015, anexado na última
quinta-feira (09.jul.2015), aos autos da Lava Jato.
Esquema dos desvios na Abreu e Lima laudo |
As outras três empresas citadas nesse trecho do laudo são de dois
delatores da Lava Jato que já confessaram envolvimento no bilionário
esquema de desvios da Petrobrás: Paulo Roberto Costa (Costa Global),
ex-diretor de Abastecimento da estatal, e Julio Gerin Camargo (Treviso e
Piemonte), lobista da Camargo Corrêa e do grupo japonês Mitsui.
A JD – que passou a ser usada por Dirceu para dar consultorias e
palestradas após sua saída do governo Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006
– integra tabela de empresas indicadas “como operadoras de lavagem de
capitais”.
“No período compreendido entre 31 de maio de 2010 e 28 de fevereiro de
2011, foi identificada movimentação financeira da empresa Construções e
Comércio Camargo Corrêa S/A para a empresa JD – Assessoria e Consultoria
Ltda, num montante de R$ 844,6 mil”, registra a perícia.
Tabela JD recebimentos - lavagem |
Consultorias. Os peritos afirmam que em documento fornecido pela
Camargo Corrêa, a JD integra uma lista de “diversas empresas consultoras
que supostamente teriam prestado serviços à empreiteira”.
“Nessa relação foi localizada uma planilha eletrônica contendo a
descrição sucinta de um contrato entre a empresa JD Consultoria e a
empresa Camargo Corrêa, cujo objeto foi apresentado como ‘Serviços de
consultoria e análise dos aspectos sociológicos e políticos do Brasil’”,
informa o laudo.
A Lava Jato apura o uso de falsas consultorias por políticos e
ex-agentes públicos como forma de ocultar dinheiro de propina. Além de
Dirceu, outros ex-ministro como Antonio Palocci, são alvos de
investigação.
As suspeitas reforçadas pelo laudo da PF são de que os pagamentos para a
JD tiveram relação com as obras vencidas em 2009 pelo Consórcio CNCC -
liderado pela Camargo Corrêa – para construção das Unidades de
Coqueamento Retardado (UCR-21 e UCR-22), da Refinaria Abreu e Lima.
“Em face das suspeitas já definidas nos documentos de referência,
permanece a suspeita sobre a regularidade dessas relações, reforçada
pelo vínculo temporal estabelecido com a obra da Unidade de Coqueamento
Retardado da Rnest.”
O novo laudo, concluído no dia 2, tem 209 páginas e cruza dados
contábeis, de engenharia, quebras de sigilos e materiais arrecadados em
buscas, com ajuda da Petrobrás, apontando “sobrepreço de R$ 648,5
milhões”. “Correspondendo a um sobrepreço mínimo de 16,8% do total
contratado, considerados os aditivos e o termo de quitação parcial.”
Subscrito pelos peritos criminais federais João José de Castro Vallim,
André Fernandes Britto e Adilson Carvalho Silva, o laudo estabelece uma
relação entre os pagamentos da estatal para empreiteira do cartel e as
sucessivas etapas de contratação de fornecedoras e prestadores de
serviços e consultorias como forma de ocultar as propinas.
Tabela 31 - empresas: CNCC, RNEST e JD |
A JD faturou ao todo R$ 29 milhões em oito anos – desse montante, R$ 8
milhões, pelo menos, com empresas acusadas de cartel na Petrobrás, pela
Lava Jato.
Defesa. O criminalista Roberto Podval, que representa Dirceu e a
JD, informou em petição protocolada em abril na Justiça Federal do
Paraná que atualmente a consultoria está ‘inoperante’, cessadas todas as
suas atividades.
A defesa tenta em côrtes superiores um habeas corpus preventivo para
evitar a decretação de novas prisão do ex-ministro - condenado no
mensalão, em 2013.
O ex-ministro sustenta que a consultoria prestada à Camargo Corrêa não
tem relação com contratos da Petrobrás e que elas foram efetivamente
prestadas, sem qualquer irregularidade.
A empreiteira, por meio do criminalista Celso Vilardi, apresentou em
abril documentos nos autos da Lava Jato sobre os pagamentos e o contrato
da JD com a Camargo Corrêa. Ele informou que os serviços foram
efetivamente prestados.
Trecho do contrato assinado entre a Camargo Corrêa e JD, do ex-ministro José Dirceu |
“O ex-ministro José Dirceu e a JD Assessoria e Consultoria sempre
estiveram à disposição da Justiça e prestaram todos os esclarecimentos
solicitados pela 13ª Vara Federal do Paraná no curso da Operação Lava
Jato. Conforme já informado à Justiça, a relação comercial da JD com as
construtoras investigadas não tem qualquer vínculo com os contratos das
empreiteiras com a Petrobrás”, assinalou a assessoria de Dirceu, na
ocasião.
COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DE IMPRENSA DO EX-MINISTRO JOSÉ DIRCEU
“A defesa do ex-ministro José Dirceu afirma que nunca teve contrato com o
consórcio responsável pela obra da refinaria Abreu e Lima. Segundo o
advogado Roberto Podval, Dirceu foi contratado pela Camargo Corrêa para
atuar em Portugal, como a própria construtora reconhece. Não teve,
portanto, qualquer relação com contratos e obras da Petrobrás. Todas as
informações, como contrato e notas fiscais, já foram encaminhadas à
Justiça Federal do Paraná em janeiro.”
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