Análise
A Bolsa é a vida para o Partido Comunista chinês
A Bolsa é a vida para o Partido Comunista chinês
Clóvis Rossi |
A Bolsa de Valores não é tão fundamental para a economia da China ao
contrário do que ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos, mas tem um
valor político imenso para o Partido Comunista.
Primeiro, porque o PCC, em seu congresso de 2013, decretou que as forças
de mercado deveriam ter "papel decisivo" na economia. E há poucas
instituições mais "livre mercado" do que a bolsa.
Segundo porque, a partir dos anos 90, a bolsa passou a ser uma das duas
instâncias que o governo resolveu usar para começar a mudar o foco da
economia, da exportação (facilitada pelo baixo custo da mão de obra)
para o consumo interno.
A outra instância é o mercado imobiliário, que de fato explodiu mas
desacelerou fortemente mais recentemente e agora está estabilizado.
A bolsa, ao contrário, continuou sua espetacular explosão, interrompida apenas no mês passado e, agora, sob ameaça de reversão.
A importância do mercado de ações é assim enfatizada em reportagem do "New York Times", de quinta-feira (09.jul.2015):
"O mercado de ações é o centrifugador de forças sociais, políticas e
econômicas em ação nos esforços de reforma [da política econômica]".
Por quê? Explica o "site" geoestratégico Stratfor:
"Ambos os setores [mercados imobiliário e de ações] dariam aos chineses
comuns novas oportunidades de investir suas poupanças e colher as
recompensas, enquanto, simultaneamente, dirigiam tais poupanças para
indústrias e setores chaves, incluindo habitação e infraestrutura e o
setor estatal, que goza de representação altamente desproporcional na
maior bolsa da China".
Com isso, a liderança podia atender às crescentes reclamações dos
governantes ocidentais de que a política chinesa, calcada em exportações
baratas, distorcia a economia mundial.
O chamado "efeito riqueza" proporcionado pela valorização das ações
(houve uma delas que se valorizou 4.200% em um ano) permitia que o
hábito chinês de poupar fosse alterado para incluir pelo menos uma
pitada boa de consumo.
Por tudo isso, o governo chinês está fazendo e continuará fazendo o
possível e o impossível para evitar que a instabilidade nas bolsas se
transforme na "Great Fall of China", como ironiza o "Financial Times",
em jogo de palavras com "Great Wall of China" (em português, perde a
graça porque "fall" é queda e não rima com "wall", que, no caso, é
muralha).
O jornal britânico chega a exagerar, ao dizer que a queda das bolsas até
a quarta-feira, 08.jul.2015, "vem de um colapso na confiança de que o
Partido Comunista possa continuar a efetivamente manipular o mercado".
Manipulou eficazmente na quinta-feira (09.jul.2015) e, por motivos mais
políticos que econômicos, vai continuar a fazê-lo para não perder a
face.
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