Após estimar perdas de US$ 2 bilhões,
procurador pede suspensão de novos financiamentos do BNDES e
investigação sobre eventual gestão temerária no banco
Marinus Marsico Procurador junto ao TCU |
O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) — uma
divisão especial do Ministério Público da União — pediu a suspensão de
novos financiamentos do BNDES para obras realizadas por empreiteiras
brasileiras no exterior. Em representação entregue ao tribunal, o órgão
estimou potenciais perdas de US$ 2 bilhões com esses financiamentos — as
operações somam, ao todo, US$ 12 bilhões.
O Ministério Público pede que o TCU apure se os gestores do BNDES
praticaram gestão temerária. Também solicita que seja investigado se
agiram de acordo com a lei ao negarem a acesso aos contratos, alegando a
existência de sigilo.
— É uma estimativa (o valor das perdas). Pode ser mais, pode ser menos,
dependendo do que está nesses contratos. Até o momento, o BNDES não nos
fornece os detalhes — explicou o procurador Marinus Marsico.
Segundo o Ministério Público junto ao TCU, houve irregularidades, por
exemplo, nos juros cobrados em financiamentos feitos com recursos do
Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). As taxas aplicadas, informa a
representação, estão abaixo da inflação e não preservam o valor dos
recursos emprestados, contrariando a Constituição.
Outro ponto questionado é que os serviços financiados podem ter sido
classificados indevidamente como exportações de serviços, de forma a
permitir os empréstimos. Além disso, entende que faltam critérios ao
BNDES para a concessão dos financiamentos.
A representação também diz que 11 países sem grau de investimento — uma
espécie de selo de bom pagador — receberam empréstimos. Quatro deles —
Angola, Argentina, República Dominicana e Venezuela — representam 81,6%
dos valores financiados, segundo estimativas do Ministério Público
feitas a partir de dados públicos do BNDES. Isso significa, na avaliação
do procurador, que os cofres públicos estão expostos a elevado risco de
crédito.
PORTO DE MARIEL ERA FOCO DA INVESTIGAÇÃO
A investigação começou em novembro passado e tinha como foco o Porto de
Mariel, em Cuba, obra realizada pela empreiteira brasileira Odebrecht.
Depois, a investigação foi estendida a outros contratos. Ainda não foi
escolhido um ministro no TCU para relatar o caso. O cálculo das perdas
estimadas pelo MP foram feitos a partir de dois contratos na República
Dominicana. Com os dados dessas obras, foram feitas estimativas para
outros 539 contratos de financiamento à exportação de serviços de
engenharia.
O BNDES diz que não foi notificado e que, por isso, não faria
comentários sobre o assunto. Em nota, o banco frisa que o uso do FAT
Cambial como funding das operações de apoio à exportação foi definido
pela lei 9365, de 16 de dezembro de 1996. "É essa construção
institucional do Estado brasileiro que tem permitido ao BNDES oferecer
às nossas empresas taxas de juros nos seus créditos à exportação que
estão em linha com aquelas praticadas por outras agências de crédito à
exportação de países concorrentes", diz a nota. "O retorno dos
empréstimos permite que o BNDES reaplique os recursos em novos
financiamentos, gerando emprego e renda no Brasil".
Nenhum comentário:
Postar um comentário