PF indicia Marcelo Odebrecht por corrupção, lavagem e fraude a licitação
O empresário Marcelo Odebrecht, dono da construtora, preso pela Polícia Federal |
A Polícia Federal indiciou o presidente do grupo Odebrecht, Marcelo
Bahia Odebrecht, sob suspeita de corrupção ativa, lavagem de dinheiro,
fraude em licitações e crime contra a ordem econômica no âmbito da
Operação Lava Jato.
A Polícia Federal concluiu que o empresário Marcelo Odebrecht teve postura ativa na condução dos ilícitos praticados.
Relatório do delegado Eduardo Mauat da Silva aponta indícios de acerto
prévio em licitação e pagamento de propinas em pelo menos sete obras da Petrobras.
Aponta, ainda, suspeita de operação de um esquema dentro da estatal
para vender nafta, principal insumo da indústria plástica, a preços
abaixo dos praticados para a Braskem, braço petroquímico do grupo
Odebrecht.
A PF pediu à Justiça que mantenha a prisão preventiva dos acusados,
devido ao risco de que, se forem soltos, poderão influenciar as
investigações. De acordo com o delegado Eduardo Mauat, que assina o
relatório, o empresário Marcelo Odebrecht não só tinha conhecimento e
participação nos ilícitos como teria tentado "obstaculizar as
investigações".
O relatório será encaminhado ao Ministério Público Federal, que avaliará
a investigação da PF antes de decidir se oferece ou não à Justiça a
denúncia pelos fatos. Além de Marcelo, que está preso na carceragem da
PF em Curitiba, o relatório também indiciou os diretores Márcio Faria da
Silva, Rogério Santos de Araújo e César Ramos Rocha. Também estão na
lista da PF o ex-funcionário João Antônio Bernardi e o ex-diretor
Alexandrino Alencar. Completam o grupo Celso Araripe de Oliveira e
Eduardo de Oliveira Freitas Filho.
Todos estão presos desde 19 de junho em Curitiba. Os diretores do conglomerado foram afastados de suas atividades após serem presos.
O gerente da Petrobras Celso Araripe d'Oliveira, responsável pela obra da sede da Petrobras em Vitória, também foi indiciado.
O empresário é investigado por suspeita de envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobras.
O juiz federal Sergio Moro, responsável pelas ações da Lava Jato,
argumentou na ordem de prisão em junho que Marcelo Odebrecht e os outros
executivos presos representavam risco para a ordem pública, por manter contratos com a Petrobras e, portanto, terem condições de seguir corrompendo funcionários da estatal.
Além disso, o juiz afirmou que eles poderiam atrapalhar as investigações se continuassem em liberdade.
CELULAR
O relatório encaminhado ao MPF afirma que anotações feitas pelo
empresário em seu celular mostram a influência que exercia com
autoridades em "meio a interesses comerciais" do grupo. As anotações
incluíam nomes de autoridades públicas, doações e "pagamentos diretos".
Segundo a PF, dados gravados no telefone celular de Marcelo Odebrecht –
um dos itens apreendidos – indicariam que o presidente do grupo teria
tentado obstruir a investigação da Operação Lava Jato, citando inclusive
políticos e esferas do Judiciário.
"Cabe ainda examinar qual teria sido a postura de Marcelo Odebrecht
acerca do que envolve a participação da empresa nos ilícitos
investigados na Operação Lava Jato. E esse panorama pode ser depreendido
com certa segurança a partir das notações feitas pelo próprio em seu
telefone (..). Ali podemos constatar referências a nomes de autoridades
públicas, doações e 'pagtos. diretos', influência junto a instituições
(inclusive o Judiciário) sendo tais assuntos tratados em meio aos
interesses comerciais do grupo empresarial", afirma o relatório da PF.
"Verifica-se ainda as ideias do dirigente acerca da Operação Lava Jato, o
que demonstra que o mesmo não apenas tinha pleno conhecimento das
irregularidades que envolviam o grupo Odebrecht como pretendia adotar
uma postura de confronto em face a apuração", acusa outro trecho do
documento.
PLANO B
O relatório diz ainda que Odebrecht tinha como espécie de "plano B" usar
"dissidentes" da própria PF. "trabalhar para parar/anular", dizia um
dos itens avaliados pelos agentes: " Chama atenção esta última
alternativa, cuja intenção explícita de Marcelo Odebrecht, conforme suas
próprias palavras, é parar/anular a Operação Lava-Jato, não cabendo
aqui outra interpretação, uma vez que a operação está indicada pela
sigla 'L J' como assunto das anotações", afirma o relatório.
A referência à PF foi feita num email, também apreendido pela PF.
O relatório diz que o empresário afirmou, num dos documentos
apreendidos, que as comissões internas de apuração da Petrobras estavam
sendo conduzidas por "xiitas" com o único intuito de apontar culpados e
afastar o risco de serem chamados de "coniventes ou incompetentes".
Segundo a PF, Marcelo Odebrecht pretendeu adotar postura de confronto com as investigações, orientando ações.
POSTURA ATIVA
O delegado Eduardo Mauat da Silva disse que todos os executivos e
envolvidos em investigações sobre a Odebrecht permaneceram em silêncio
em seus depoimentos, exceto Marcelo Odebrecht. De acordo com o
relatório, o empresário disse em depoimento continuar "confiando nos
seus companheiros" - ou seja, nos executivos detidos - e que não via
necessidade de ser preso, uma vez que sempre esteve à disposição da
Justiça e já havia prestado depoimento em Brasília.
"Entendemos, que a partir dessa fala, no cotejo com os demais elementos
carreados, Marcelo Odebrecht aderiu de forma inconteste as condutas
imputadas aos demais investigados, considerando que delas detinha pleno
conhecimento", afirma Mauat no relatório.
Segundo a PF, foram também colhidas provas de transações financeiras em
espécie feitas por Rogério Araújo, além de provas de que era ele quem
comandava os depósitos ao operador Bernardo Freiburghaus, que em seguida
depositava em contas de dois então diretores da Petrobras, Paulo
Roberto Costa e Nestor Cerveró.
A partir do indiciamento, o Ministério Publico Federal (MPF) tem cinco
dias para analisar o relatório e oferecer denúncia contra os suspeitos.
Se o juiz Sérgio Moro aceitar a denúncia, eles passam a ser considerados
réus.
OUTRO LADO
Advogados de defesa de executivos da Odebrecht já afirmaram que eles estão sendo prejulgados
e apontam o que dizem ser erros cometidos pelo Ministério Público
Federal ao delinear as supostas relações da empreiteira com o pagamento
de propina no exterior.
As defesas de Marcelo Odebrecht e dos executivos Alexandrino de Alencar e
Rogério Araújo já ingressaram com manifestações contra o pedido de
continuidade da prisão preventiva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário