Conselho do MP vai investigar procurador que abriu inquérito contra Lula
Reclamação disciplinar protocolada por
advogados de ex-presidente foi deferida pelo corregedor do Conselho e
procurador terá dez dias para justificar decisão
Procurador Valtan Timbó Mendes Furtado e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva |
O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) abriu investigação
sobre a conduta do procurador Valtan Timbó Mendes Furtado, responsável
pela abertura de inquérito no âmbito da Procuradoria da República do
Distrito Federal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O
corregedor do Conselho, Alessandro Tramujas Assad, afirmou que a
reclamação disciplinar feita por advogados do ex-presidente atende aos
requisitos de admissibilidade e abriu prazo de dez dias para que Furtado
se manifeste. Assad, porém, negou pedido da defesa de Lula para que a
decisão relativa ao inquérito fosse revogada.
O inquérito aberto por Furtado visa investigar a prática de tráfico de
influência internacional pelo ex-presidente. Ele não é o titular da
apuração, que é conduzida pela procuradora Mirella Aguiar. Furtado
determinou a abertura do inquérito durante as férias de Mirella e antes
de ter sido encerrado o prazo da investigação preliminar que estava em
andamento. Para a defesa do ex-presidente, a medida tomada pelo
procurador violou deveres funcionais. O Instituto Lula afirma ainda que
os investigadores que atuavam no caso não tinham encontrado indício de
crime.
Para o corregedor, os questionamentos são suficientes para que se busque investigar a conduta de Furtado no caso.
“A reclamação disciplinar apresentada pelo ex-presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva, formulada por intermédio dos advogados
Roberto Teixeira e Cristiano Zanin Martins, atende aos requisitos de
admissibilidade previstos”, afirma Assad em seu despacho.
O pedido para que fosse também suspendida a abertura de inquérito foi
negado porque não cabe ao CNMP controlar a “atividade fim” dos
procuradores. As investigações do órgão tratam apenas de caráter
disciplinar.
O inquérito contra o ex-presidente tem como base reportagem que revelou em abril uma viagem de Lula
a Cuba, República Dominicana e Estados Unidos, realizada em 2013, paga
pela construtora Odebrecht. Em ao menos um dos deslocamentos estava
presente Alexandrino Alencar, um dos dirigentes da empresa que foi preso
na Lava-Jato. O inquérito apura se Lula teria atuado junto ao BNDES ou
agentes públicos estrangeiros para que a empresa obtivesse contratos.
Revelou-se, por meio de telegramas diplomáticos
do Itamaraty, que o ex-presidente teria feito lobby a favor da mesma
empreiteira junto ao primeiro-ministro português Pedro Passos Coelho no
processo de privatização em andamento naquele país. O Instituto Lula
nega que o ex-presidente atue para beneficiar qualquer empresa e afirma
que as remunerações recebidas por ele tratam da realização de palestras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário