Consumidor vai bancar risco de falta de energia
Para tentar solucionar o problema do déficit na geração de energia
hidrelétrica - o chamado risco hidrológico (GSF) -, o governo propôs aos
agentes produtores de eletricidade uma mudança relevante na forma como
os momentos de estiagem são enfrentados pelo sistema elétrico
brasileiro. Em reunião realizada, quarta-feira (29.jul.2015), na Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel), técnicos e diretores do órgão
regulador detalharam a proposta que transfere o risco dessa falta de
energia dos geradores para os consumidores finais a partir de 2017.
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de
Energia Elétrica (Abradee), Nelson Leite, que participou do encontro,
para compensar esse custo adicional para a população, haverá uma
contrapartida de redução dos preços na geração.
Na prática, a proposta transfere para o regime de bandeiras tarifárias o
risco das hidrelétricas não conseguirem gerar o total de eletricidade
que consta em seus contratos. Hoje, a bandeira vermelha já adiciona R$
5,50 nas contas de luz para cada 100 quilowatt hora (kWh) consumidos em
meses de custo mais alto na geração de energia.
Com a mudança, esse peso a mais a ser carregado pelos consumidores será
ainda maior em períodos de estiagem. Em compensação, como os contratos
do setor serão repactuados para preços menores que os atuais, em tempos
de regime hidrológico favorável, a conta de luz também deve ser menor.
Já para cobrir o rombo atual - da baixa geração em 2014 e 2015 -, que as
geradoras não querem assumir, o governo oferece a criação de um "ativo
financeiro" que será devolvido às empresas ao fim das concessões por
meio de um aditivo de contrato que estenda o controle das companhias
sobre as usinas pelo tempo necessário para quitar esse débito.
Essa solução evitaria o repasse desse problema para as contas de luz
ainda este ano. Mais uma vez, o governo exige uma contrapartida que
seria a retirada imediata das diversas ações judiciais dos geradores
para o não pagamento de suas obrigações com a Câmara de Comercialização
de Energia Elétrica.
Ao sair da reunião, o presidente Abradee classificou a proposta em
negociação como "inteligente" e relatou que não houve demonstrações de
discordância por parte dos agentes presentes no encontro. "Ainda há uma
série de detalhes a serem trabalhados, mas é uma proposta que resolve
tanto a questão estrutural de longo prazo como dá um encaminhamento
objetivo para o problema atual."
O executivo citou, por exemplo, que ainda não se sabe o quanto a
transferência de risco da geração para o consumidor pode abater no preço
da energia. Segundo ele, esse processo de repactuação dos contratos
precisa ser mais detalhado. "Mas a transferência para a bandeira
tarifária é simples porque se trata de um regime que já vigora. Hoje as
bandeiras já incorporam o risco das usinas cujos contratos foram
renovados e que estão no sistema de cotas. A mudança seria no sentido de
incorporar as demais usinas."
Reunião. Já está marcada para a próxima segunda-feira
(03.ago.2015) um novo encontro entre governo e agentes de geração e
distribuição, na sede do Ministério de Minas e Energia, com a
participação do ministro Eduardo Braga. Embora alguns agentes tenham
saído da reunião de considerando o prazo curto para que o acordo seja
fechado, o governo mantém a expectativa de já formar um consenso. Isso
viabilizaria à Aneel votar a nova metodologia para o risco hidrológico
na reunião de diretoria de terça-feira (04.ago.2015).
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