Site que divulga dados de brasileiros é investigado por procuradoria
Procurador no Rio Grande do Norte pediu que ilegalidade da página seja analisada.
Site informa nomes de parentes , CPF e endereço de cidadãos sem autorização.
Nos últimos dias, um site em português, mas hospedado fora do país, vem
causando polêmica nas redes sociais ao divulgar dados pessoais de
cidadãos, como endereço, e lista de vizinhos e parentes, mediante uma
simples busca por nome e sobrenome, ou CPF. Especialistas, afirmam que a
página é ilegal por ferir a privacidade dos cidadãos, e a Procuradoria
da República no Rio Grande do Norte já abriu uma investigação a seu
respeito.
Com uma extensão "es" em seu endereço, o site informa ser hospedado nas
Ilhas Seychelles, um país localizado no Oceano Índico ocidental, e
administrado pela companhia Top Documents LLC. Nele, usuários podem
buscar pelo nome completo de uma pessoa ou CPF para obter outras
informações parciais sobre ela, como a rua em que mora (mas não o
número), alguns de seus vizinhos e parentes.
Site que fornece dados pessoais mediante consulta por nome e CPF |
O site oferece ainda a possibilidade de usuários comprarem créditos por
meio da moeda virtual BitCoin para ter acesso a informações mais
detalhadas sobre pessoas, como endereço completo, possíveis perfis em
redes sociais, empresas e sociedades registradas em seu nome, entre
outras — cada crédito custo cerca de R$ 0,99, o que equivale a 0,001
bitcoin. O próprio site indica como os usuários podem adquirir a moeda
virtual.
"Diversas fontes alimentam os registros. São cartórios, decisões
judiciais publicadas, diários oficiais, foros, bureaus de informação,
redes sociais e consultas em sites públicos na internet", afirma a
página.
Diante da repercussão negativa da página nas redes sociais, um abaixo
assinado on-line encaminhado à Polícia Federal de Rondônia pedindo a sua
investigação já conseguiu mais de 45 mil apoiadores.
Em seus termos de uso, a página afirma se isentar de qualquer utilização
que não respeite a legalidade e licitude, responsabilizando, por isso, o
contratante do serviço.
Investigação
Procurados a respeito da página, a Polícia Federal (PF) e o Ministério
da Justiça (MJ) ainda não se manifestaram sobre a sua legalidade, ou se
já receberam denúncias oficiais a respeito. No entanto, o
procurador-geral da República Kleber Martins, do Rio Grande do Norte,
informou que já abriu uma investigação contra o site para avaliar a sua
ilegalidade.
Já a Receita Federal (RF) negou que as informações presentes no site tenham sido acessadas da sua base de dados.
"Com relação a reportagens publicadas na imprensa nos últimos dias
mencionando a exposição de números de CPF em sites da internet, a
Receita Federal esclarece que não fornece informações de suas bases de
dados a qualquer empresa ou pessoa física da iniciativa privada.
A Receita Federal somente compartilha dados cadastrais, no interesse
público e mediante convênio, com órgãos e entidades da administração
pública, com base no que determina a legislação vigente", afirma o órgão
em seu site.
Página fere privacidade de cidadãos
Especialista em Direito Digital, a advogada Patrícia Peck afirma que o
site é ilegal, mesmo que suas informações sejam adquiridas de bases de
dados públicas, já que fere a privacidade dos cidadãos
— A divulgação de dados pessoais propriamente dita não configura crime. O
que é considerado crime é a divulgação não autorizada dos dados que
foram ofertados em confiança de alguém, seja pessoa física ou jurídica,
pública ou privada. Portanto, a prática deste tipo de site é ilícita,
visto que constitui uma base de dados sobre um indivíduo e não cumpre
com as determinações de aviso da formação da base de dados (Código
Defesa Consumidor, art. 43) e autorização livre e expressa para
compartilhamento com terceiros em uma política de privacidade própria,
documento este necessário quando há coleta de informações na internet
(Lei Marco Civil da Internet, art. 7º. Incisos I, III, VII, IX, X, XI) —
afirma Peck. — Além das legislações já citadas, essa prática pode ainda
ensejar infrações à Lei de Sigilo Bancário (Lei complementar
nº105/2001), ao Código Penal (art. 153, art.153 §1-A e art.154) e a
Constituição Federal (art.5, X).
Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Proteste, que visa a
defesa dos consumidores, também tem uma percepção semelhante:
— No nosso entendimento, o site trata-se de uma forma de invasão de
privacidade. As informações nele contidas não foram autorizadas pelas
pessoas que estão sendo consultadas, pois elas não sabem que seus dados
estão disponíveis ali. É preciso haver uma investigação do Ministério
Público para exigir a retirada do site do ar, já que ele pode propiciar
um dano maior para o consumidor, já que há até o endereço de pessoas
nele.
Os especialistas orientam que as pessoas que se sentirem prejudicadas
pelo site devem procurar o Ministério Público e órgãos de defesa do
consumidor para denunciá-lo.
Em abril e maio deste ano, um site semelhante também causou polêmica por
divulgar dados pessoais sem autorização. No entanto, após ações do
Ministério Público, a página foi retirada do ar.
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