Em entrevista, a advogada Beatriz
Catta Preta, especializada em delações premiadas, explica por que
resolveu deixar casos da Lava Jato.
A advogada Beatriz Catta Preta |
Em uma entrevista exclusiva a advogada que recentemente se tornou uma
das principais personagens da Operação Lava Jato, que investiga a
corrupção na Petrobras. Beatriz Catta Preta explicou por que resolveu
abandonar, de uma hora pra outra, todos os casos que defendia. Sem citar
nomes, ela disse que se sentiu ameaçada por integrantes da CPI da
Petrobras e que decidiu encerrar a carreira de advogada por zelar pela
segurança da família.
De volta a São Paulo, depois de 34 dias com a família nos Estados
Unidos, Beatriz Catta Preta diz que não precisa se esconder de ninguém.
A reportagem: Muito que se fala que a senhora deixou os clientes e fugiu do Brasil. Tirou os filhos da escola, saiu de São Paulo, e se mudou pra Miami. A senhora está morando em Miami?Beatriz Catta Preta: De forma alguma, eu saí de férias. Aliás, eu costumo sair de férias e viajar pra lá, sempre que os meus filhos estão em período de férias escolares. Nunca cogitei sair do país, ou fugir do país como está sendo dito na imprensa.
Catta Preta é advogada criminal há 18 anos, e é considerada uma das
maiores especialistas do país em delação premiada - quando os acusados
de crimes passam a colaborar com a investigação.
Discreta, não costuma dar declarações públicas. Foi contratada por nove
investigados na Operação Lava Jato. Todos deram detalhes do esquema de
corrupção na Petrobras.
O primeiro foi o ex-diretor Paulo Roberto Costa, e cinco parentes dele.
Além de Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, ex-executivo da Toyo Setal,
Júlio Camargo, ex-consultor também da Toyo Setal, e o ex -gerente da
Petrobras Pedro Barusco.
Mas recentemente ela desistiu do caso e deixou de advogar para os clientes da Lava Jato.
Beatriz Catta Preta: Depois de tudo que está acontecendo, e por zelar pela segurança da minha família, dos meus filhos, eu decidi encerrar a minha carreira na advocacia. Eu fechei o escritório.A reportagem: É medo?Beatriz Catta Preta: Sim.A reportagem: A senhora recebeu ameaças de morte pra tomar essa decisão?Beatriz Catta Preta: Não recebi ameaças de morte, não recebi ameaças diretas, mas elas vêm de forma velada. Elas vêm cifradas.
Até quarta-feira (29.jul.2015) era em São Paulo que funcionava o
escritório da advogada Beatriz Catta Preta. Era, porque as salas estão
todas vazias. Beatriz dispensou os funcionários, levou tudo embora e
disse que está abandonando a carreira. Não vai mais advogar. Teve um
episódio nas delações da Lava Jato que foi determinante pra essa decisão
radical.
A reportagem: Foi a partir dessa nova revelação do Júlio Camargo que a senhora sentiu que o foco de retaliação se voltou pra senhora?Beatriz Catta Preta: Sim. Vamos dizer que, aumentou essa pressão, aumentou essa tentativa de intimidação a mim e a minha família.
Júlio Camargo mudou a versão inicial do depoimento dele sobre o
presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, do PMDB. Júlio disse que
pagou a Eduardo Cunha US$ 5 milhões. Depois disso, Catta Preta foi
convocada para depor na CPI.
A reportagem: O Júlio Camargo, nos seus primeiros depoimentos, não falava de Eduardo Cunha, que tinha pago propina pro presidente da Câmara, que tinha dado 5 milhões, não dava revelações claras e informações tão precisas como ele deu agora recentemente. Por que que isso não foi feito antes?Beatriz Catta Preta: Receio. Ele tinha medo de chegar ao presidente da Câmara.A reportagem: E por que ele muda de ideia? O que o faz mudar de ideia?Beatriz Catta Preta: A colaboração dele, a fidelidade, a fidedignidade da colaboração, o fato de que um colaborador não pode omitir fatos, não pode mentir, o levaram então a assumir o risco. Aquele risco que ele temia, e levar todos os fatos então à Procuradoria-Geral da República.
A advogada garante que Júlio Camargo apresentou provas em todos os
depoimentos dele. Inclusive o que relata pagamentos de propina ao
presidente da Câmara.
Beatriz Catta Preta: Todos os depoimentos prestados sempre vieram respaldados. Com informações, dados, documentos, provas definitivas. Nunca houve só o dizer por dizer.
Beatriz Catta Preta diz que a gota d´água pra desistir da Lava Jato foi a
decisão da CPI da Petrobras na Câmara de chamá-la pra depor.
A reportagem: A senhora se sente realmente perseguida?Beatriz Catta Preta: Sem dúvida nenhuma.A reportagem: E a senhora se sente intimidada?Beatriz Catta Preta: Sim, com certeza.A reportagem: A senhora consegue identificar de onde vem essa intimidação que a senhora enxerga tão claramente hoje?Beatriz Catta Preta: Vem dos integrantes da CPI, daqueles que votaram a favor da minha convocação.A reportagem: Inclusive do presidente da Câmara, Eduardo Cunha?Beatriz Catta Preta: Não posso afirmar, eu não vi nenhum depoimento dele a respeito desse assunto.
A CPI quer que a advogada diga quanto ganhou dos clientes da Lava Jato e de onde veio o dinheiro.
A reportagem: Deputados comentam e até alguns advogados ligados à Lava Jato falam em off, nos bastidores, que a senhora já ganhou mais de R$ 20 milhões com as delações da Lava Jato. Essa cifra procede?Beatriz Catta Preta: Esse número é absurdo. Não chega perto da metade disso.A reportagem: Esse dinheiro que a senhora recebeu dos clientes da Lava Jato foram todos pagos por dentro? A senhora recebeu algum dinheiro fora do Brasil? A senhora sabe da origem desse dinheiro?Beatriz Catta Preta: O dinheiro foi todo recebido via transferência bancária, aqui no Brasil, ou depósitos em cheque, na conta do escritório, tudo mediante nota fiscal, impostos recolhidos. A vida financeira do escritório, a minha vida financeira é absolutamente correta. Nunca recebi um centavo fora do Brasil.
A Ordem dos Advogados do Brasil entrou com habeas corpus no Supremo
Tribunal Federal pra que Beatriz Catta Preta não seja obrigada a
comparecer à CPI.
Beatriz Catta Preta: Se eu tiver que ir a CPI, infelizmente tudo o que eu vou poder dizer a eles é que eu mantenho o sigilo profissional e não vou revelar nenhum dado que esteja protegido por sigilo.
Presidente do STF autoriza Catta Preta a não falar sobre questões que envolvem sigilo
No fim da tarde de quinta-feira (30.jul.2015), o presidente do Supremo
Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, autorizou a advogada Beatriz
Catta Preta a não falar na CPI da Petrobras sobre questões que envolvam
sigilo profissional, como o recebimento de honorários.
Segundo Lewandowski, a tentativa de investigar a origem dos honorários é
ilegal. Na decisão, o presidente do Supremo criticou a convocação da
advogada e declarou que não se pode transformar defensores em
investigados, subvertendo a ordem jurídica.
Sobre as declarações da advogada Beatriz Catta Preta de que se sente
ameaçada por integrantes da CPI da Petrobras, o autor do requerimento
pra ouvi-la, deputado Celso Pansera, do PMDB, disse que apresentou a
convocação dentro do seu direito de cidadão e de deputado e que a
aprovação foi consensual. O deputado também declarou que Beatriz Catta
Preta não será intimidada pela CPI.
O presidente da comissão, Hugo Motta, também do PMDB, disse que a
convocação da advogada foi uma decisão suprapartidária, o que, segundo
ele, afasta a acusação de perseguição.
Advogado de Eduardo Cunha diz que declarações de Catta Preta não fazem sentido
O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, que também é do PMDB,
não quis gravar entrevista. O advogado dele, Antônio Fernando de Souza,
disse, em nota, que as declarações de Beatriz Catta Preta não fazem
sentido, uma vez que Júlio Camargo já havia negado o envolvimento de
Cunha publicamente.
No entendimento do advogado, as declarações da advogada dão a impressão -
do que ele chamou - de "coisa montada". Para ele, a mentira salta aos
olhos.
Antônio Fernando voltou a negar veementemente o envolvimento do
presidente da Câmara nas fraudes e disse ter certeza que Júlio Camargo
não tem nenhum documento que ligue Eduardo Cunha às irregularidades.
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