Empreiteiro acusa diretor da Eletrobras
O empresário Ricardo Pessoa disse aos procuradores da Operação Lava Jato
que um diretor da Eletrobras, Valter Luiz Cardeal, sugeriu que ele
desse ao PT parte do que esperava ganhar num contrato da estatal para a
construção da usina nuclear Angra 3.
Dono da empreiteira UTC, Pessoa fez acordo de delação premiada para
colaborar com as investigações da Lava Jato em troca de uma pena menor.
Ele diz ter pago propina para garantir vantagens no contrato da
Eletrobras, assinado com um consórcio de empreiteiras que inclui, além
da UTC, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht, todas hoje sob
investigação.
Ligado à presidente Dilma Rousseff, com quem trabalhou na época em que
ela chefiou o Ministério de Minas e Energia, Cardeal teria feito o
pedido de doação no ano passado a um diretor da UTC, Walmir Pinheiro,
após a conclusão das negociações do contrato.
O diretor de Geração da Eletrobras, Valter Luiz Cardeal, em Brasília |
O custo previsto para as obras de Angra 3 é de R$ 3,2 bilhões. Segundo o
relato de Pessoa obtido pela reportagem, a Eletrobras pediu desconto de
10% no valor cobrado pelo consórcio de empreiteiras, que aceitaram um
abatimento de 6%. Fechado o contrato, Cardeal teria dito às empreiteiras
que a diferença deveria ser repassada ao PT na forma de doações
eleitorais.
Pessoa afirmou que a sugestão foi feita no fim do ano passado. O
empreiteiro diz que logo depois foi procurado pelo então tesoureiro do
PT, João Vaccari, hoje preso em Curitiba, para fazer o pagamento da
contribuição ao partido.
Um dos ex-executivos da Camargo Corrêa que passaram a colaborar com as
investigações em fevereiro, Dalton Avancini, disse aos procuradores da
Lava Jato que pagou propina em 2011 ao então ministro de Minas e
Energia, o senador Edison Lobão (PMDB-MA), para obter facilidades na
construção da usina hidrelétrica de Belo Monte e nas obras de Angra 3.
OUTRO LADO
Procurado, Valter Cardeal se disse "indignado" com a acusação e adiantou
que vai processar o dono da UTC e qualquer outra pessoa que levante
suspeitas sobre suas práticas como diretor da Eletrobras.
A Odebrecht disse que "nunca participou de oferecimento ou pagamento de
propina em contratos com qualquer cliente público ou privado" e por isso
não reconhece as afirmações de Ricardo Pessoa como verdadeiras.
A Andrade Gutierrez enviou a mesma afirmação, acrescentando que também
nunca integrou cartéis, esquemas de fraudes em licitações, de
favorecimento a políticos ou pagamentos indevidos.
A construtora afirma ainda que vem sendo consultada sobre informações
contidas em documentos a que não teve acesso, sobre os quais não vai se
pronunciar.
Já a Camargo Corrêa disse que eventuais questionamentos e pedidos de
explicação cabem ao consórcio responsável pelo projeto, liderado pela
UTC.
A reportagem não conseguiu localizar os advogados de Pessoa. O advogado de Vaccari, Luiz Flávio D'Urso, não se manifestou.
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