domingo, 12 de julho de 2015


Empreiteiro acusa diretor da Eletrobras

O empresário Ricardo Pessoa disse aos procuradores da Operação Lava Jato que um diretor da Eletrobras, Valter Luiz Cardeal, sugeriu que ele desse ao PT parte do que esperava ganhar num contrato da estatal para a construção da usina nuclear Angra 3.
Dono da empreiteira UTC, Pessoa fez acordo de delação premiada para colaborar com as investigações da Lava Jato em troca de uma pena menor. Ele diz ter pago propina para garantir vantagens no contrato da Eletrobras, assinado com um consórcio de empreiteiras que inclui, além da UTC, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht, todas hoje sob investigação.
Ligado à presidente Dilma Rousseff, com quem trabalhou na época em que ela chefiou o Ministério de Minas e Energia, Cardeal teria feito o pedido de doação no ano passado a um diretor da UTC, Walmir Pinheiro, após a conclusão das negociações do contrato.

O diretor de Geração da Eletrobras, Valter Luiz Cardeal, em Brasília

O custo previsto para as obras de Angra 3 é de R$ 3,2 bilhões. Segundo o relato de Pessoa obtido pela reportagem, a Eletrobras pediu desconto de 10% no valor cobrado pelo consórcio de empreiteiras, que aceitaram um abatimento de 6%. Fechado o contrato, Cardeal teria dito às empreiteiras que a diferença deveria ser repassada ao PT na forma de doações eleitorais.
Pessoa afirmou que a sugestão foi feita no fim do ano passado. O empreiteiro diz que logo depois foi procurado pelo então tesoureiro do PT, João Vaccari, hoje preso em Curitiba, para fazer o pagamento da contribuição ao partido.
Um dos ex-executivos da Camargo Corrêa que passaram a colaborar com as investigações em fevereiro, Dalton Avancini, disse aos procuradores da Lava Jato que pagou propina em 2011 ao então ministro de Minas e Energia, o senador Edison Lobão (PMDB-MA), para obter facilidades na construção da usina hidrelétrica de Belo Monte e nas obras de Angra 3.

OUTRO LADO
Procurado, Valter Cardeal se disse "indignado" com a acusação e adiantou que vai processar o dono da UTC e qualquer outra pessoa que levante suspeitas sobre suas práticas como diretor da Eletrobras.
A Odebrecht disse que "nunca participou de oferecimento ou pagamento de propina em contratos com qualquer cliente público ou privado" e por isso não reconhece as afirmações de Ricardo Pessoa como verdadeiras.
A Andrade Gutierrez enviou a mesma afirmação, acrescentando que também nunca integrou cartéis, esquemas de fraudes em licitações, de favorecimento a políticos ou pagamentos indevidos.
A construtora afirma ainda que vem sendo consultada sobre informações contidas em documentos a que não teve acesso, sobre os quais não vai se pronunciar.
Já a Camargo Corrêa disse que eventuais questionamentos e pedidos de explicação cabem ao consórcio responsável pelo projeto, liderado pela UTC.
A reportagem não conseguiu localizar os advogados de Pessoa. O advogado de Vaccari, Luiz Flávio D'Urso, não se manifestou.


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