Relatório da PF revela jantar ‘a pedido’ de Lula na casa de Marcelo Odebrecht
Também foram convidados, em 2012, o
ex-ministro Antonio Palocci, empresários, banqueiros, o presidente do
Instituto Lula, Paulo Okamotto, e dois sindicalistas citados na Lava
Jato
Marcelo Odebrecht e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva |
Relatório de análise de mídia elaborado pela Polícia Federal revela os
bastidores de um jantar em São Paulo, na residência do empresário
Marcelo Odebrecht, presidente da maior empreiteira do País, em 28 de
maio de 2012, do qual participou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Também foram convidados o ex-ministro Antonio Palocci (Casa Civil
– Governo Dilma), empresários, banqueiros, o presidente do Instituto
Lula, Paulo Okamotto, e dois sindicalistas mencionados na Operação Lava
Jato.
“Através da leitura das mensagens acerca deste evento foi possível
inferir, grosso modo, que: a) O jantar foi realizado a pedido do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, aponta o relatório da PF. “d)
Foram enviadas mensagens individuais para cada um dos convidados por
I.B.G.”
A relação entre Lula e a construtora Odebrecht é alvo de um procedimento
investigatório criminal (PIC) aberto pela Procuradoria da República no
Distrito Federal. A suspeita é de que a empreiteira teria obtido
vantagens com agentes públicos de outros países por meio de suposto
tráfico de influência do petista, que deixou o Palácio do Planalto no
fim de 2010. A Odebrecht nega ter sido favorecida. Lula não é
investigado na Lava Jato.
O Instituto Lula, criado pelo ex-presidente após sua saída da
Presidência, classificou como ‘absolutamente irregular, intempestivo e
injustificado’ a abertura do procedimento da Procuradoria da República. A
entidade afirmou em nota que ‘serão tomadas as medidas cabíveis para
corrigir essa arbitrariedade no âmbito do próprio Ministério Público,
sem prejuízo de outras providências juridicamente cabíveis’.
Nas buscas que realizou na casa do empreiteiro, na manhã de 19 de junho,
durante a Erga Omnes, 14ª etapa da Lava Jato, a PF apreendeu
documentos, correspondências e mídias. Um HD que estava em um cofre no
quarto de Marcelo Odebrecht armazenava troca de mensagens sobre o
jantar. Uma delas dizia o motivo do encontro: a economia brasileira.
“Emílio e Marcelo Odebrecht têm o prazer de convidá-la para um jantar
com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no qual será
discutida a situação da economia brasileira face a conjuntura
internacional”, diz o e-mail enviado pela presidência da Odebrecht para
Juvandia Moreira Leite, presidente do Sindicato dos Bancários de São
Paulo, em 17 de maio de 2012.
“Confirmo a minha presença no jantar com a presença do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. Saudações sindicais”, respondeu Juvandia
Leite.
Na sexta-feira, 17.jul.2015, o relatório de análise de mídia foi anexado
aos autos da Lava Jato – Marcelo Odebrecht e pelo menos quatro
ex-dirigentes da empreiteira são alvos de investigação por suspeita de
corrupção e cartel nos contratos com a Petrobrás. No documento, a PF
aponta para a presença de Juvandia Leite e Sergio Aparecido Nobre,
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
“Os dois sindicalistas convidados para o evento são também sócios da
Editora Gráfica Atitude, empresa apontada pelo empresário Augusto
Ribeiro de Mendonça Neto como intermediária de pagamentos de propina
destinados ao Partido dos Trabalhadores”, registra a PF.
Juvandia Leite e Sergio Nobre são administradores da Editora Gráfica
Atitude. Segundo denúncia do Ministério Público Federal, uma parte da
propina paga para o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque na
Diretoria de Serviços foi direcionada por empresas do grupo Setal Óleo e
Gás, controlado por Augusto Mendonça – delator da Lava Jato – para a
Editora Gráfica Atitude Ltda.
O pagamento teria sido feito a pedido do então tesoureiro do PT João
Vaccari Neto. Os procuradores da força-tarefa sustentam que existem,
ainda, “vários indicativos de ligação da Gráfica Atitude com o PT”.
COM A PALAVRA, O INSTITUTO LULA
“É de conhecimento público que o ex-presidente Lula tem por hábito
reunir pessoas de diversos segmentos da sociedade, empresários e
trabalhadores, para debaterem a conjuntura nacional e ouvirem diferentes
pontos de vista.”
COM A PALAVRA, A ODEBRECHT
“A Odebrecht S.A repudia mais uma vez o vazamento seletivo e malicioso
de informações, que buscam cobrir de suspeitas até mesmo um evento
absolutamente comum no meio empresarial e político. Tantos outros
eventos como este acontecem cotidianamente e são divulgados nas colunas
sociais, sem que se de um tratamento pejorativo ao fato. Como de praxe
nestes eventos, tratam-se temas e agendas comuns entre empresários,
líderes políticos e sindicalistas.”
COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA JOSÉ ROBERTO BATOCHIO, ADVOGADO DO EX-MINISTRO ANTONIO PALOCCI
O criminalista José Roberto Batochio, que representa o ex-ministro
Antonio Palocci (Casa Civil-governo Dilma), disse que um jantar na casa
de um empresário da importância de Marcelo Odebrecht é “um fato social
público”. “Em primeiro lugar, não sabemos se, de fato, esse jantar
aconteceu. E mesmo que tenha ocorrido onde está a irregularidade? Tudo
continua gravitando na base do quem sabe, na base do talvez, isso não é
processo penal, é boato.”
“O ministro (Palocci) não pode comparecer a um evento com o maior
empresário do Brasil? Isso não é normal? Ou a conjuntura econômica do
Brasil é um tema que está proibido atualmente?”. Ao ser informado que
sindicalistas participaram do jantar, Batochio disse. “Foi um evento
plural, que não se conecta com nenhum dos fatos que estão sendo
apurados.”
COM A PALAVRA, OS SINDICALISTAS
A reportagem tentou contato com Juvandia Moreira Leite. Sua assessoria
de imprensa informou que a sindicalista não foi encontrada.
A reportagem não consegui contato com Sergio Aparecido Nobre.
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